Cap. 46 - This is the part when I break free...

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25/05/2018

Querido Charlie,

Amigo, você não acredita no que aconteceu. Será que a minha vida pode piorar? Talvez eu esteja sendo dramática, mas vou te explicar o que aconteceu nessa tarde.

Como você sabe, Melissa está em coma. Minha mãe, graças ao meu querido irmãozinho Josh, ficou sabendo e veio falar comigo. Quando eu a vi, não sabia como agir. Sinceramente, sinto que ela nunca virou as costas completamente para mim e só seguia as ideias do meu pai, mas também nunca tentou enfrentá-lo para me ajudar. Hoje não foi diferente.

Eu estava andando pela área aberta da universidade quando Katherine Hastings me chamou.

— Amelia, posso conversar com você?

Tomei até um susto.

— Claro — falei na maior calma possível.

Sentamos em uma mesa e ela começou a falar:

— Filha — que avanço! —, fiquei sabendo o que aconteceu com aquela menina.

Minha mãe não esboçou nenhuma expressão de apoio ou qualquer coisa que pudesse me deixar tranquila.

— Aquela menina tem nome — falei, já irritada e vendo o rumo que aquela conversa iria tomar.

— Enfim. — Ela revirou os olhos. — Ela está em coma. Você não acha que essa é a hora de desistir dessa loucura e voltar pra realidade? Essa menina está passando pelas consequências desse pecado. Quer acabar como ela?

Senti o meu corpo esquentar de raiva. Eu não queria acreditar no que estava ouvindo. Minha mãe acreditava cegamente que eu e Melissa estávamos cometendo um pecado e que a minha namorada estava em coma por causa disso. Desde quando Deus condena as pessoas por amarem? Enfim, respirei fundo e tentei respondê-la da forma mais calma possível.

— Eu acho, ou melhor, tenho certeza que isso não é uma loucura e que você deveria parar de se meter na minha vida. — Ela arregalou os olhos, provavelmente surpresa com a minha postura. — Melissa e eu não estamos fazendo nada de errado. Não quero discutir sobre religião agora, mas se for pra me julgar assim, pode sair agora. Só vamos perder tempo.

Ela suspirou e olhou para baixo, mas logo depois disse:

— Amelia, eu estou te dando um conselho do fundo do meu coração e você me trata desse jeito? — Era como se ela quisesse que eu me sentisse culpada.

— Mãe, eu só quero tomar as minhas próprias decisões. Eu quero viver a minha vida do jeito que eu achar certo. Eu não vou abandonar aqueles que me deram tudo o que eu queria. Não vou abandonar a minha mulher. — Minha mãe torceu o nariz. — Nada do que a senhora falar vai mudar o que eu sinto.

Ela me olhou decepcionada e disse:

— Eu só quero te ajudar.

— Eu não preciso dessa ajuda. Minha decisão é ficar ao lado da Melissa.

— Você vai se arrepender disso.

Meus olhos se encheram de lágrimas, mas consegui me manter firme. Minha própria mãe nem me apoia e nem me deixa quieta. Ela quer que eu desista da Mel para poder seguir os sonhos da família Hastings de me ver casada com um homem de prestígio social. Olha que absurdo, Charlie.

— Mãe, por que isso? Por que não me deixa fazer minhas escolhas? Eu nem moro mais na sua casa. Esqueceu que me expulsaram?

— Não, Amelia. Não esqueci, mas tem como você voltar. É só esquecer essa menina e voltar a viver como deveria.

Soltei uma risada sarcástica e balancei a cabeça para os lados, sem acreditar naquelas palavras.

— Não quero — respondi. — Não vou deixar a minha liberdade pra viver sob os caprichos de vocês. Eu preciso viver a minha vida.

— Eu só quero o melhor pra você.

— Você só quer o melhor para você — rebati. — Enquanto eu estiver com uma mulher, você nunca vai me apoiar em nada, mas saiba que eu tô feliz com a minha vida. Eu tenho uma família, eu não tô sozinha. — Eu me inclinei na direção dela. — Não adianta querer me levar de volta para a bolha Hastings, cheia de preconceitos e falsidade, porque eu tô feliz com o que eu tenho. Não preciso de uma casa enorme, o carro do ano, as melhores roupas. Eu só preciso de apoio e eu vou atrás das minhas coisas. Melissa me dá esse apoio. Kate e Michael também. Eles são a minha família.

Coloquei tudo isso para fora com toda aquela raiva e angústia que eu estava sentindo. Minha mãe me olhou como se eu estivesse cometendo um crime. Para ela, poderia até ser isso. Eu acredito que os nossos pais deveriam desejar uma coisa: nossa felicidade. É isso o que eu vou passar para os meus filhos.

Katherine parecia indignada com o meu desabafo e ficou em silêncio por um tempo. Pensei que ela tinha absorvido algo de positivo, mas ela só disse:

— Já que não quer me ouvir, eu vou embora. Essa foi a minha última tentativa de resgatar a minha filha. Seu pai tem razão, a nossa Amelia não existe mais.

— Já parou pra pensar que a Amelia que vocês criaram na mente nunca existiu? Só queria que vocês tentassem realmente me conhecer.

— Não quero ouvir mais nada. Eu vou embora e você pode viver a sua vida como bem quiser.

Katherine foi embora. Pensei que ficaria mal ou algo do tipo, mas eu estava até um pouco aliviada. Eu sei que é horrível pensar dessa maneira, já que ela é a minha mãe, mas pensa comigo, Charlie: ela nunca me deixou viver pelas minhas escolhas. Era sempre tudo voltado para o que os outros iam pensar. Essa não é a maneira que eu escolhi viver. Eu escolhi não me importar com o que as pessoas pensam de mim e eu sou muito feliz com essa decisão. Se essa foi mesmo a última vez que ela tentou, como ela mesma disse, "me resgatar", fico agradecida. Quem sabe assim posso viver em paz. Você pode até estar pensando "você não sente falta dela?" e minha resposta é sim, é claro que ela faz falta, afinal é a minha mãe, mas ela nunca fez o que as mães dos meus amigos faziam. Ela só quer que eu seja mais uma mulher submissa ao marido. Estou errada por querer me afastar? Creio que não, Charlie. Antes eu não acreditava que os pais pudessem ser tóxicos dessa maneira, mas eles podem sim. Os meus estão tão cegos e presos dentro do mundo deles, com as ideias deles, que não conseguem nem conversar comigo e tentar me entender. Eles só pensam neles. Eles pensam que eu sou tudo, menos uma pessoa com as próprias ideias e valores e que não está fazendo mal a ninguém. Eu estou tão decepcionada com a vida, Charlie. Eu só queria a Melissa agora...

Por hoje já deu de emoções. Até mais...

O Diário de Amelia HastingsOnde histórias criam vida. Descubra agora