Cap. 34 - Right now I'm shameless...

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26/12/2017

Querido Charlie,

Hoje foi um dia extremamente cansativo. Ontem, depois de um tempo chocados, todos os meus parentes foram embora após a minha confissão. Meu pai ficou no jardim e bebeu muito mais do que estava acostumado. Minha mãe subiu para o quarto e se trancou lá. Alicia veio dormir comigo e me envolveu em um abraço protetor. Tentei dormir, mas as lembranças do dia me atormentavam. O medo do que estava por vir começou a me atingir. Eu continuava a me perguntar o porquê de eu ter falado tudo. Eu não deveria ter sido tão impulsiva daquele jeito. Agora já foi e vou ter que aguentar as consequências que, com certeza, foram as piores. Vou explicar.

Levantei da cama, tomei banho e não consegui reunir coragem para descer para a sala e encontrar os meus pais. Alicia apareceu no meu quarto com o meu café da manhã enquanto eu estava sentada na cama olhando para a minha janela.

— Amy, você tá bem?

Acho que ela percebeu o nervosismo no meu olhar.

— Tô com medo do que pode acontecer — respondi.

Minha cunhada se aproximou e me abraçou. Mesmo estando com medo e super insegura, eu não chorei (como sempre acontece). Uma parte de mim pensava: "você fez o certo, você tem o direito de viver sem se esconder e quem te ama vai ficar do seu lado".

— Amy, você não pode fugir disso, mas saiba que você não está sozinha. Quando quiser descer, segure a minha mão e vamos juntas, ok?

— Obrigada, Aly. — Sorri levemente e ela beijou a minha testa.

Comi o meu café e resolvi acabar logo com toda aquela aflição. Respirei fundo e desci junto com a Alicia. Meus pais estavam sentados na mesa e meu coração estava desesperadamente acelerado. Josh conversava com os nossos pais e percebi que ele parecia triste. Ele notou que eu estava ali e soltou um suspiro cansado.

— Bom dia — falei, já que não queria ficar em um silêncio constrangedor.

— Bom dia? — minha mãe ironizou. — Bom dia pra quem, Amelia?

Katherine estava claramente brava e eu não queria brigar. Apenas fiquei quieta e ouvi palavras que eu não queria.

— Você não pisa mais nessa casa — meu pai disse, sem nem olhar para mim.

— Pai...

— Não me chame de pai. — Meu coração falhou uma batida. — Eu não sou mais o seu pai e você não é a minha filha. A minha Amelia não é você e parece que ela não existe mais. — Ele virou para mim, mas não me olhou nos olhos. — A pessoa que você se tornou não é quem eu criei. Você é a maior decepção da minha vida.

Doeu, Charlie. Ouvir ele dizendo essas palavras doeu muito mais do que qualquer outra dor que já senti. Eu quis chorar, mas eu não estava arrependida do que fiz, então me mantive forte.

— Você não cumpriu o acordo — Josh disse.

— Eu já tô na faculdade — tentei me defender.

— Mas ainda estava sob o nosso teto — Katherine argumentou. — Como pôde nos humilhar daquele jeito? Como pôde ser tão egoísta? Eu pensei que não poderia ficar mais triste com você, mas você arrumou mais uma forma de nos afrontar e nos decepcionar.

Respirei fundo e tentei engolir aquele nó na minha garganta. Porém, já que o leite estava derramado, eu não ia ficar quieta.

— Eu sei que não deveria ter feito o que eu fiz da maneira que foi — comecei. — Mas eu não me arrependo. Sei que não vão entender porque vocês não querem nem tentar conhecer a verdadeira Amelia. Só querem que eu seja alguém que eu não sou e isso eu não aceito. Não mereço isso. — Abri os braços e dei de ombros. — Não queria que as coisas terminassem assim, mas ok, eu saio de casa. Espero que um dia vocês consigam ver que eu não sou a errada dessa história e me aceitem do jeito que eu sou.

O Diário de Amelia HastingsOnde histórias criam vida. Descubra agora