16. Ela parecia íntegra...

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Ela me devorou inteiro, e não conseguia pensar em mais nada. Não estava meramente atraído por ela, era bem mais forte que isso. Queria de alguma forma fazer parte dela, detestava a simples ideia de que em algumas horas, eu estaria partindo e ela também voltaria à vida dela. Uma frustração estranha cresceu dentro de mim enquanto me perguntava porque ela não havia dito mais nada. Talvez fosse apenas uma diversão de groupie, e ela estivesse satisfeita com aquela noite. Pensei no jeito que aqueles amigos dela que tocavam no bar do hotel sorriam e como ela sorria de volta. Será que eles também...a conheciam como eu acabara de conhecer?

Não podia ser, eu aos quarenta e poucos anos caindo na conversa de uma "devoradora de homens" assim. Ela era pelo menos dez anos mais nova que eu, não era mais nenhuma menina mesmo assim, ela sempre pareceu íntegra. Mas como Sean disse, escrever era fácil como falar. As atitudes diriam melhor. E aquele silêncio me inquietava. Agora ela estava dormindo, mas não tinha falado uma palavra sequer depois do ato.

Cuidadosamente eu a acomodei ao meu lado na cama, observando seus olhos fechados, as sobrancelhas anguladas e os cílios densos. Ela suspirou um pouco enquanto dormia, e parecia sorrir. Até hoje ela faz isso, quando está feliz com algo, ela sorri mas é de uma forma estranha, pois seus lábios não se abrem, apenas os olhos, apesar de fechados passam a impressão de um sorriso.

Não. Não era nada disso, eram apenas inseguranças minhas. Quem passaria meses escrevendo cartas e mais cartas, viria me encontrar para apenas uma noite e desaparecer?

Estava deitado de lado, observando enquanto ela dormia, toquei entre as sobrancelhas, descendo pela porte do nariz, até a ponta empinada dele. Ela franziu o cenho, e respirando fundo, abriu os olhos pequenos e amendoados. Eu sempre adorei os olhos dela, amendoados e castanhos.

- Você não dormiu nada?

- Não...estou sem sono...

- Você devia descansar um pouco, amanhã tem uma viagem longa pela frente...

- Eu sei...mas tudo bem, posso dormir no avião. - disse enquanto a puxava de volta para meu colo. Ela se levantou, ficando ajoelhada de frente pra mim. A luz amarelada contornava o corpo dela. Eu me levantei, ficando sentado na cama de frente para ela, a beijei mais uma vez.

- É uma pena...

- O que?

- Que você não possa ficar mais um dia.

- Mas você também não pode...

- eu poderia voltar pra casa e depois voltar e passar outra noite aqui com você...mas você tem que ir...

-Verdade....responsabilidades...merda! - eu disse com um sorriso enquanto puxei ela com meu braço sobre o ombro dela. Ela me abraçou e eu abracei ela, puxando sua cabeça para encostar sobre meu peito, encostei o rosto nos cabelos dela, enquanto meus braços a cobriam.

Ela inclinou a cabeça para cima, e eu a beijei mais uma vez, deitando-a de novo. Ela se abriu e me puxou mais uma vez para dentro dela. Sem urgência, sem pressa dessa vez. Suas pernas enroscaram nas minhas e em nenhum momento minha boca se afastou da dela. Dessa vez eu finalmente adormeci depois, encostado com a cabeça entre os seios dela, enquanto ela desenhava linhas nas minhas costas.

Acordei com o celular tocando, olhei ao redor e ela não estava mais lá. Atendi o celular ainda deitado.

- Normy, está pronto, cara? O carro vai te buscar em 20 minutos.

- Acabei de acordar, Sean...

- Está tudo bem?

- Sim, tudo bem. Já estou a caminho.

- E a sua nova amiga? Ela foi aí? eu entreguei para ela o recado.

- Não. Ela não veio.

- Que merda...

- É...mas paciência. Vou me vestir e já desço.

Desliguei o celular. Tinha acabado de constatar que ela havia ido embora enquanto eu dormia, e não queria falar a respeito disso. Não tendo acabado de acordar. E não com o Sean.

Talvez com ninguém. O que eu podia fazer era voltar ao trabalho e seguir adiante. "Ela teve sua diversão, e foi só isso mesmo" pensei comigo, me conformando.

Quando me virei para levantar, senti algo me pinicar. Ela deixou três daquelas flores de origami ao meu lado na cama, e quase as amassei. Guardei as três no bolso da frente da mochila, segui para tomar um banho e me vestir. Estava feito, e pelo visto, estava encerrado. Com flores de papel.

Talvez não fosse tão...especial quanto eu pensava que tinha sido. Sabia que tinha fãs que fantasiavam só com uma noite, mas podia jurar que ela não seria assim. Estava decepcionado com ela, e comigo mesmo por ter caído nessa. Me senti usado e enganado.

E foi isso.

As Cartas da ProblemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora