29. O orgulho

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E assim continuamos por mais alguns meses. Dois dias depois foi o aniversário dela, e eu estava trabalhando, mas mesmo assim, achei um jeito de ligar para ela. Estava na casa da mãe, pelo que entendi foi a convite dela, porque Ally não queria fazer nada, apenas pretendia ficar sozinha em casa, estudando e trabalhando. Mas a mãe dela insistiu e ela foi com o pequeno Ian para lá.

A mãe dela havia feito uma pequena surpresa para ela. Limpou todo o quarto onde antes ficava o irmão dela, que estava morando agora com a namorada, e preparou tudo para que Ally enfim pudesse sair da casa do ex-marido. O Ian começaria na creche no ano seguinte, e ela poderia estudar durante o dia e trabalhar, ao invés de esperar o pequeno dormir à noite e passar a noite em claro.

E depois desse dia, ela voltou para aquela casa apenas por mais alguns dias, organizou e embalou suas coisas. Uma semana depois, estava com o pequeno na casa da mãe dele. E eu, mesmo assistindo tudo de longe, não podia ficar mais aliviado. O ex-marido concordou em vir visitar aos finais de semana e poderia até leva-lo com ele quando o Ian estivesse maior.

Não tem muito o que contar, era um namoro á distância bem típico. Nos falávamos toda noite, algumas vezes aos finais de semana. Cartas continuavam chegando, e eu continuava respondendo. Depois eu voltava da Geórgia e nos falávamos com uma frequência um pouco maior quando eu estava em NY. Isso durou mais ou menos um ano.

Ela estava estudando o tempo todo, e poderia muito bem concorrer a alguma bolsa em NY, sugeri para ela algumas vezes, mas ela insistia em fazer tudo lá em São Paulo. Não queria insistir, era decisão dela, sobre a carreira dela, mas me incomodava saber que ela poderia ter condições melhores se viesse morar comigo, e ela sempre hesitava.

Mas não era exatamente por ela preferir continuar seus planos como havia feito que me incomodava. Como o Claudio disse naquela madrugada no teatro, ela se recusava a aceitar qualquer ajuda. Talvez fosse de novo essa questão de merecimento dela. Eu sabia que, se estivéssemos com os lugares trocados, ela insistiria de todas as formas a me convencer a ir até ela e aceitar a sua ajuda.

Mas ela preferia sempre o caminho mais difícil. Fosse por orgulho, ou por não estar acostumada, não sei. Talvez ela realmente acreditasse que não merecia nenhum tipo de ajuda, e se penitenciava se condenando ao caminho mais difícil. Isso sim, me incomodava. Eu sabia que ela não precisaria de muita ajuda. Que dadas as devidas oportunidades, ela era mais do que capaz de conseguir levar adiante sozinha. Talvez conseguisse até ir além do que pretendia.

Mas para isso, ela precisava aceitar a ajuda. Isso era difícil.

As Cartas da ProblemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora