26. O Irmão de outra mãe

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Conversaram horas sobre literatura, música, sobre onde a banda do Marco havia tocado, e onde tocariam, sobre o Ian, e claro, que todos tinham alguma coisa para me falar sobre ela. Chegava cada vez mais gente, e logo haviam duas mesas em frente ao sofá, e todas as poltronas ao redor ocupadas, mesmo assim, algumas pessoas conversavam e ouviam a conversa em pé.

Até que chegou um amigo dela, que eu sabia que ela adorava.

Acho que foi a melhor pessoa que conheci ali. E o mais louco. Ele entrou pela porta, em passos largos. Ouvia a voz dele de longe. Eu estava sentado com o Marco, segurando um copo de uísque, quando ele estava passando reto, freou o passo. Usava calça jeans e uma camisa xadrez sobre uma camiseta preta. Parou e disse algo para o Marco, que riu como se não fosse de se esperar outro jeito daquele cara chegar. Se levantou e se abraçaram, e ele se apresentou pra mim. Mas eu não entendia absolutamente nada de português, e ele falava cada vez mais rápido. Lembro que estendeu a mão e quando fui apertá-la, ele me puxou para cima e me abraçou.

O Marco, percebendo a minha confusão, falou com ele no meu idioma.

- Claudio, esse é o namorado da Alê, Norman. Você já deve ter visto ele...

- Eu? - ele perguntou colocando as duas mãos no peito e indignado. - Eu não vejo mais nem a Ale, vou saber de namorado dela? onde está essa desgracenta? Ela te deixou aqui e foi embora? Eu mato ela se ela te fez isso! Isso não se faz, não se deixa o namorado sozinho nessa pocilga!

- Ela tá ali atrás, cara, está conversando com a Yvette e a Simone, relaxa!

- você conheceu esse cara já? Ela te deu esse desgosto, deixou você aqui com o Marco? Esse cara é um crápula, ele me odeia!

Eu não sabia o que fazer. Ele não parava de falar por um segundo sequer. Era divertido, mas intimidava um pouco.

- Alê? ALÊ? ALESSANDRA ! Venha já aqui, sua doente!

Ela o viu de longe, e com um sorriso largo, foi correndo na direção dele e o abraçou. Ele a apertou nos braços e a girou no ar, enquanto beijava sua bochecha.

- Como você desaparece assim, e ainda deixa seu namorado jogado por aí?

- Que saudade de você, Claudio!!!

- Também....você arruma filho, depois arruma namorado, e não me liga mais, porra...olha, não confia nessa, nessa...amiga-da-onça! Ela desaparece que nem o vento! - ele disse apontando o dedo para ela enquanto a abraçava. Os olhos dela brilhavam e estava com um sorriso mais largo de costume.

- Você já conheceu o Claudio?

- Se ele me conheceu? acabei de agarrar ele com tudo, retardada! Alguém tem que saber agarrar um namorado, né!

Ela riu, e eu fiquei totalmente confuso. Aquele homem estava dando em cima de mim?

Do mesmo jeito que ele apareceu, ele se foi. Alguém o chamou e ele foi até a pessoa que estava no balcão e ele a soltou e correu gritando e xingando a pessoa.

- Ele é assim mesmo, Norm...

- Tem certeza?

- Total...o Claudio consegue ser mais maluco que eu. Do que todos nós, aliás... Quando ele se acalmar você vai ver, é a melhor pessoa de todas aqui.

- você gosta muito dele né?

- você vai entender...ele é o irmão mais velho que minha mãe ficou me devendo...somos muito parecidos, passamos por algumas coisas em comum...

- Entendo isso...

As Cartas da ProblemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora