34. Shoo & Shoo

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Mais uma vez, depois de dias com ela, com o pequeno Ian, com os amigos dela no teatro, era a hora de voltar. E cada vez ficava mais difícil, não era apenas pela saudade, nem pela euforia de estar com ela, aquele lance de namoro novo. 

Eu odiava ir embora porque eu sabia que ela voltaria a se esgotar noite e dia. Sem necessidade. Tudo que pude fazer para insinuar que ela deveria vir comigo, eu fiz. Dessa vez ela disse que iria pensar, mas que não tomaria nenhuma decisão tão cedo. Que havia muito o que pensar. Mas só de ela estar de fato considerando a minha proposta já me animava mais um pouco. Era difícil pra mim viajar 12 horas para vê-la, e para ela também não era bom. Ela acabava cancelando todos os planos por minha causa, por mais que insistisse que não era problema, eu sabia que era. E sabia que podia ser tudo mais fácil se ela desse uma chance para a minha idéia.

Aliás, nessa segunda visita que adotamos, por minha escolha e por total falta de poder de decisão da parte dela nesse assunto, um apelido que usamos até hoje. Resolvi incluir por dois motivos: eu gosto de contar esta história, e porque já me perguntaram por aí porque eu chamo ela de "Shoo". Então, aí vai:

Foi logo que cheguei no aeroporto em São Paulo, que uma atendente do aeroporto me reconheceu, era inevitável que essas coisas acontecessem, mesmo na área VIP. Eu detestava a área VIP, mas era um mal necessário, pois se fossemos desembarcar com as outras alas normais, havia o risco de ser cercado e nunca mais sairíamos do aeroporto.

Enfim, a atendente da área VIP pediu uma foto comigo, e tirei logo 3 ou 4 fotos com ela, pra garantir que saísse boa. Ela me deu um beijo no rosto , abraçou e disse "oh, você é mesmo um doce de pessoa! Obrigada, chuchu!".

- Do que ela me chamou?- perguntei, apontando pra trás discretamente. Ela riu da confusão,

- Chuchu, ela te chamou de chuchu...nada de mais.

- Mas o que significa?

- Não é nada de mais, Norm...é um termo carinhoso....chuchu, chuchuzinho...é meio piegas, mas ainda se usa bastante em português.

- Eu não achei piegas....sei lá....é até gostoso de falar...chu...chu...chu...- e fui repetindo isso até o carro, parecia um retardado! A Alê no começo até achou engraçadinho, mas perdeu a graça logo para ela.

- Ah, chu...chu...não fica brava. - Ela só me olhava com o canto do olho e voltava a prestar atenção no caminho.

- Mas....como se escreve? - perguntei enquanto descíamos do carro. Ela suspirou, revirou os olhos e escreveu num papel "chuchu"

- Pronto...é assim que escreve, tá feliz agora?

- Na verdade....você escreveu "tchú'tchu", mas é chuchu.

- Mas em portugues se escreve assim e se lê assim.

- E como seria pra ler em inglês?

Ela olhou pra mim, com uma cara incrédula

- Sério Norm? Sério mesmo?

- hahahaha! sério....eu gostei da palavra!

"Shooshoo" - ela escreveu no papel.

- Pronto, tá aí...entendeu agora?

- ahhhhh, agora sim! Era isso que eu queria saber!

- Que bom né...

- Me diz mais uma coisa?

- O que?

- Pode separar os dois?

- Pode, Norman - respondeu com uma risada fraca. Ela devia estar me achando um idiota, e tudo bem, eu me sentia bobalhão mesmo aquele dia.

-Então você pode ser minha Shoo?

- Posso...você vai ser meu Shoo?

- Por isso que te amo....você topa tudo

- Com certeza, Shoo!

- Hi-5, Shoo

Batemos as mãos, e ela me abraçou com um braço enquanto segurava o Ian no outro. eu a beijei e segui em direção ao corredor de embarque. Era hora de partir de novo.

E foi a partir desse dia que nos acostumamos a chamar um ao outro de Shoo.

Queria encontrar de novo aquela atendente pra contar pra ela a contribuição dela pro meu casamento. Não seríamos tão unidos se não fosse ela ter me chamado de "chuchu" naquele dia. Ou pelo menos não teria um apelido com uma história tão legal.

As Cartas da ProblemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora