28. Seria loucura se...

43 5 2
                                    

Era engraçado perceber que éramos bem parecidos em certas características, mas ainda assim bem diferentes. Ela tinha uma relação legal com a mãe, assim como eu tinha com a minha, mas não gostava de incluir muito a família em sua vida. Ela era muito parecida com a mãe mesmo, mas o suficiente para não ficarem muito próximas, senão acabavam brigando. Era como se as duas odiassem se olhar no espelho uma da outra por muito tempo.

Eu sempre tive uma relação parecida com a minha mãe, mas na verdade, somos bem diferentes.

Quanto ao pai dela....é um caso à parte. Só sabia que ela não quis ele por perto desde quando engravidou e aos poucos entendi os motivos dela e até hoje temos um acordo de não falar sobre ele. A minha sogra pediu o divórcio quando a Ally era bem pequena, dois ou três anos, e pelo que vi, minha sogra fez a coisa certa. Isso nem ela, nem ninguém nunca questionou nem poderia. Ele é como ela diz, uma presença muito tóxica.

Enfim, naquele dia pela manhã, assim que o Ian acordou, Ally já estava pronta para voltar para casa.

Eu acordei, e ela estava fazendo café. O apartamento da mãe dela era super pequeno e foi inevitável acordar ao som dela na cozinha, porque a sala era minúscula. No quarto, o Ian dormia com o quarto inteiro só pra ele.

Não tem muito o que dizer desse dia seguinte, porque estávamos os dois com uma ressaca horrível, e só queríamos voltar para a casa dela e dormir mais um pouco. E ainda teríamos que esperar a hora do cochilo do Ian.

Mas eu estava feliz, gostei de conhecer alguns dos amigos dela, todos muito gentis. Estranhos, mas gentis. O Claudio mais me marcou na memória porque era o único ali que parecia se preocupar de verdade com ela. Apesar do jeito extrovertido e até exagerado na maioria do tempo, era uma boa pessoa, e parecia se preocupar com todos ali com um carinho autêntico.

Ele era mesmo praticamente um irmão perdido da Ally.

Eu tinha ainda, quando chegamos em casa, dois dias. Os dias passaram muito rápidos nessa primeira visita. Todos os dias brincávamos com o Ian, conversávamos, ela contava algumas de suas mil histórias, aventuras e viagens que fez, músicos que conheceu, lugares estranhos e até mesmo as situações em que pensou que estaria em uma enrascada, mas conseguia escapar.

A única coisa que eu pedi foi que não contasse mais a respeito das aventuras envolvendo drogas. Não por nenhum tipo de puritanismo, mas sim porque eu me preocupava que tais lembranças a levassem a uma recaída quando eu fosse embora.

Quando chegou o dia de voltar para NY ela me levou até o aeroporto. Nos despedimos no estacionamento, para evitar fuxicos, e eu não podia estar mais feliz, cada vez mais impressionado com ela, e mais infeliz por ter que ir embora. Não por ir embora, mas ir sozinho. Pensei em todos os lugares em NY que ela ia amar, nas fazendas da Georgia onde ela levaria o Ian para brincar com os animais. Nas viagens de moto que poderíamos fazer juntos. Me parecia um desperdício deixar alguém com tanto espírito, com tanta energia e que eu já estava profundamente apaixonado ali, jogada numa casinha numa cidade que não tinha nada para ela. E para o Ian, que a meu ver, corria o risco de ficar fechado lá por muito tempo ainda. Ele também se beneficiaria e muito de conhecer outros lugares enquanto crescia.

As Cartas da ProblemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora