27. Just for a little while...

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- Alê, essa eu vou colocar pra você... - disse o Marco enquanto mexia no aparelho de som.

É preciso comentar aqui. Eu adorei aquele lugar, aquelas pessoas. Me lembravam quando comecei a atuar, que fazíamos festas assim depois das peças. Todos ali eram artistas. Escritores, poetas, músicos, atores. E todos a conheciam, todos estavam felizes por ela estar ali. Além do mais, o Marco deixava uma playlist tocando que era absolutamente impecável. Johnny Cash, Stones, Howlin' Wolf, BB King, Big Mama Thornton, Coltrane, Miles Davis. Era incrível. As paredes eram cobertas de pôsteres de filmes, como Lebowski, filmes de Hitchcock é Bergman, e tambem bandas e músicos, fotos das peças encenadas no teatro, e claro, de escritores como Sam Shepard, Burroughs, Fitzgerald, Bukowski, Kerouac.

Ela se endireitou sentada no sofá com a perna em cima da minha, escutando atentamente.

- Não acredito que você achou essa música! Eu amo essa música!

Era uma música chamada "My love For Evermore". Ela se encostou no meu ombro, cantando cada parte da música. Era um dueto do vocalista que ela adorava tanto, o tal Sparky do Demented Are Go e a banda de uma moça, The Hillbilly moon Explosion. Já a tinha escutado na casa dela, várias vezes.(Até hoje, inclusive. Às vezes ela cisma, e eu juro que adorava essa música, mas não tanto quanto ela. Se deixar ela escuta 10x seguidas. E não cansa.)

- Pode escolher a próxima, se você quiser. Só que eu achei essa música e lembrei da Ale na hora. - disse o Marco.

Mas estávamos bebendo muito, o tempo todo. E conversávamos com todos que se aproximavam. Aos poucos o lugar esvaziava. Ficamos eu, Ally, Marco e Claudio (que já começava a se acalmar), Simone, e mais três ou quatro amigos dela que não lembro o nome. Uma outra amiga dela, Helena, estava sentada ao lado do Marco, e eu não conseguia entender muito bem o que ela falava.

Já que o Marco me deu permissão para escolher uma música, puxei ela comigo.

- Você deve conhecer essa, mas cada vez que escuto, lembro de você... - falei. Estava super sem graça, mas eu acho que devia a ela. Por mais que estivéssemos desconfiados um do outro desde o começo, eu a admirava cada vez mais, a cada vez que conhecia algo mais a respeito dela. Ela assentiu, sorrindo, e eu peguei o aparelho sobre o piano, e escolhi a música. Até hoje, devo acrescentar, não deixo de lembrar dela quando ouço.

Quando começaram a tocar os primeiros acordes, puxei ela para onde ficava o corredor, pois havia uma caixa de som bem em cima no teto, e queria que ela escutasse. Segurava as duas mãos dela e olhava para ela esperando ver como ela reagiria. Lógico que ela reconheceu a música assim que ela começou.

- Ah, Norm...não acredito.... - ela disse, e soltou as minhas mãos e cobriu o rosto. Seus olhos brilharam de novo, e ela sorria com aquele sorriso largo de novo. Abaixou a cabeça, e encostou no meu peito. Eu lembro que ficamos abraçados, ouvindo a música, balançando bem de leve. Ela me abraçava ainda com a cabeça encostada no meu peito, e eu passei a mão na nuca dela. Não sei se conseguiria descrever aquela noite como eu vejo na minha mente. Talvez baste dizer que por mais que tenhamos bebido, enquanto ouvíamos a música que escolhi para ela (e quem a conhece sabe que é difícil ela deixar alguém escolher músicas), foi um momento em que ficamos ali, abraçados, e por mais cheio de fumaça que fosse o ambiente fechado, e por mais barulho que tivesse das pessoas conversando e bebendo, parecia não haver mais ninguém lá, e o ar era o mais leve. Acho que o carinho que tivemos naquele momento fazia isso.

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When I think of all the things I've done

And I know that it's only just begun

Those smiling faces

You know, I just can't forget them

But I love you

As Cartas da ProblemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora