Capítulo II

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REINO DE ARTENA



Quando Catarina acordou, os primeiros raios de sol já entravam pela janela, preenchendo o quarto com as cores de um belo dia de verão. O dia estava mais abafado, então escolheu seu vestido de fino algodão cor de lilás, o que fora presente de Beatriz e que ela tanto gostava. Já fazia um mês que partira da Lúngria, e ainda sentia falta de lá, sentia falta do canto dos rouxinóis pela manhã, dos passeios pelos campos e de nadar nas lagoas de água cristalina no grande bosque do Castelo, da vasta e bela biblioteca da Lúngria, uma das maiores do reino, sentia falta das conversas com a Rainha Helena, que se tornara uma figura materna para ela, e também, mais do que tudo, sentia falta de sua grande amiga, a princesa Beatriz.

Ela estava feliz em voltar, imensamente feliz em rever seu amado pai, de quem tanto sentiu saudades por todos esses anos, mas não podia negar, viveu metade da vida na Lúngria, lá era seu lar tanto quanto era Artena.

Mas agora ela estava de volta ao seu reino, e tinha que se adaptar a viver novamente ali, pois Artena era seu verdadeiro lar, seu verdadeiro reino.

Uma batida na porta, então Lucíola entrou, carregava uma bandeja com seu desjejum.

- Bom dia Alteza! – disse Lucíola cordialmente. - Trouxe seu desjejum, seu pai pediu para que lhe fosse entregue no quarto. - comentou. Colocou a bandeja em cima da cama, e então se encaminhou até a janela, puxando as cortinas e abrindo a janela, deixando entrar uma brisa de ar fresco.

- De novo? – perguntou Catarina, observando a bandeja posta à sua frente. – Mais uma vez meu pai não se juntará a mim para o café?

- O Rei Augusto está em uma reunião com Demétrio e o Comandante Aquino.

- É realmente curioso, meu pai, que diz quase ter morrido de saudades neste tempo em que estive fora, tem reservado tão pouco tempo para mim nas últimas semanas. O sol acabou de nascer e ele já está em uma reunião à portas fechadas. – comentou Catarina.

- Bom, houve a inundação das plantações ao sul do reino, depois aquele grupo de foras da lei atacando pelas estradas, e agora pelo que sei estão decidindo a questão de um melhor patrulhamento na costa. – disse Lucíola.

- Realmente é uma questão complicada. – disse Catarina sarcasticamente, enquanto comia um pedaço de pão de frutas. – Como fortificar a costa e aumentar o patrulhamento se não temos armas suficientes ou mesmo treinamento adequado para nossos soldados, é algo difícil de se fazer.

- O Rei Augusto conseguiu expulsar os invasores do povo das tribos que atacaram pelo mar, eles nunca mais retornaram. – argumentou Lucíola.

- Meu pai só conseguiu esse feito graças ao auxílio de Montemor, a rainha Crisélia enviou reforços, o exército de Artena sozinho não conseguiria lidar com os invasores, e olha que eles estavam em maior número que o povo das tribos, mas ainda assim estavam perdendo batalha atrás de batalha, tudo porque nossos soldados não recebem armamento suficiente, mais sofisticado, e não possuem o treinamento adequado. O povo das tribos sabia disso, não é à toa que saíram lá da Ilha de Dieiroz para atacar aqui, na costa de Artena, um reino tão ao sul, quando seria mais prático atacarem o território de Férdrea ou mesmo de Vicenza por exemplo.

- Que bom então que temos essa aliança com Montemor, o que falta a eles em água, sobra em poderio militar.

- Mas não é certo um reino depender do outro assim. Artena sozinha poderia ser o mais poderoso reino da Cália, mas meu pai insiste nesses pensamentos pequenos, insiste em se manter leal ao seu ideal de paz. – Catarina engoliu o resto de seu suco. – Não quero que meu reino se limite a essa aliança.

Enquanto Lucíola arrumava o baú ajeitando os vestidos, trocou um breve olhar com Catarina.

- Essa aliança é o seu casamento Alteza, após o casamento com o príncipe Afonso essa aliança se manterá de forma definitiva. A menos que vossa Alteza tenha receios quanto a essa união, seria esse o caso? – perguntou.

- Eu tenho certos receios, mas nada que me faça desistir dessa união. – ela fez uma pausa, se levantou e caminhou até a bancada da janela, observando os vastos campos de Artena. – É uma aliança política Lucíola, nada mais do que isso, mas eu me pergunto se essa é a melhor aliança para Artena. Você se lembra de nossas conversas na Lúngria, quando eu brincava com Beatriz dizendo que um dia conquistaria toda a Cália? Bom, não era uma brincadeira, não de todo.

- Como assim Alteza? Não entendo.

- Eu tenho grandes ambições para o meu reino, quero expandi-lo, torná-lo grandioso, temido em toda a Cália e além, quero que nosso poderio chegue até o Oriente. – disse Catarina apaixonadamente. – E para isso eu preciso de um grande e poderoso exército, o que Montemor fornece tranquilamente, mas para isso eu tenho que incluir um marido nessa conta, um marido que pode atrapalhar meus planos.

- O seu maior receio é o príncipe Afonso. – concluiu Lucíola.

- Sim, ele e meu pai. – Catarina observou o labirinto nos jardins abaixo, onde tantas vezes tinha brincado de se esconder com Afonso e Rodolfo. – Meu pai, pelas poucas conversas que tive com ele desde que retornei permanece firme a ideia de que um reino que se arma deseja a guerra, e acha que com a aliança com Montemor não há motivos para nos preocuparmos. Este é o ponto em que sempre discordamos, todas as vezes em que meu pai me visitava na Lúngria discutíamos por esse mesmo motivo, esse e o fato dele sempre me excluir de quaisquer reuniões e planejamentos referentes ao reino. Eu amo meu pai, mas ele sempre enxerga o melhor nas pessoas, no mundo, mas eu vejo a feiura que há nele, e um reino desprovido de um exército forte, é um reino fraco.


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- E quanto a Afonso? – perguntou Lucíola enquanto retirava a bandeja e segurava, pronta para levá-la para a cozinha mas ao mesmo tempo parada esperando a resposta.

- Afonso é uma incógnita para mim. – afirmou Catarina. – Eu conheci o menino, a criança que ele foi, me lembro que ele era gentil, um cavalheiro mesmo ainda pequeno, mas também me lembro de achá-lo tranquilo demais, pacífico demais, muitas vezes deixava Rodolfo ganhar apenas para evitar brigas. - ela fez uma pausa, lembrando do menino magricela e de sorriso meigo, que acenava para ela enquanto a carruagem se afastava. – Mas eu não sei em que tipo de homem ele se transformou, e mais importante, não sei quais são os planos dele para nossos reinos.

- Que bom então que vossa Alteza terá a chance de conhecê-lo, agora que ele está vindo para Artena e já informou que se hospedará no castelo.

- Sim, de fato isso é muito bom. – confirmou ela, ao que Lucíola saiu com a bandeja do café, a porta se fechando atrás dela.

Catarina continuou ali na janela, observando o horizonte, bem ao longe o rio Maurele corria veloz, se Catarina se concentrasse conseguiria escutar um leve ruído, o barulho das águas batendo nas pedras, mas ela sabia que se chegasse perto o suficiente iria escutar o som ensurdecedor de toda a sua fúria, correndo através daquelas corredeiras. Olhando mais ao longe, na direção ao leste do reino, mais ao norte, sabia se encontrar o reino de Montemor.

Afonso enviou um emissário há alguns diasinformando que após verificar o desmoronamento nas construções do aqueduto iria pernoitar no castelo e pediu uma reunião com o rei e com sua prometida. Entreum ou dois dias ele chegaria ao castelo. Catarina não estava apreensiva como imaginou que ficaria, mas estava ansiosa, queria logo conhecer que tipo de pessoa era Afonso de Monferrato.    

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora