Capítulo XIX

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REINO DE ARTENA



O dia amanhecera ensolarado, após dias de uma chuva fina e incessante, finalmente um dia de sol brilhante se levantava sobre Artena. Os deuses sorriam para esse dia, era um bom sinal. Catarina havia sofrido tanto, ela merecia um dia como esse para sua coroação. Treze dias haviam se passado desde a morte de Augusto de Lurton, o tempo de luto oficial se fora, mas a tristeza de sua cerimônia fúnebre de certa forma ainda pairava no ar, o antigo Rei estava morto, e todo o reino sentia essa perda.

Agora um novo dia se iniciava, uma nova rainha seria coroada, o reino estava em guerra, e Afonso, como o novo Comandante do Exército de Artena, tentava camuflar suas aflições e medos, afinal ele agora era quem iria liderar os soldados.

A perda do Rei Augusto e de Aquino foram difíceis para Afonso, ele sempre admirara Augusto, um homem honrado e fiel aos seus valores, Afonso se espelhara nele quando lhe faltava uma figura paterna, e Aquino, seu mentor, um dos homens mais corajosos que ele já conhecera, morrera como queria, como um verdadeiro guerreiro. Mas está morto de qualquer forma, pensou. Dois grandes homens, dois grandes líderes, mortos pela ganância de um único rei, Otávio pagaria pelas vidas que se perderam na Batalha de Albania, como era chamada agora.

O castelo de Artena estava agora em uma crescente agitação devido estarem às vésperas da cerimônia de coroação da princesa. Servos corriam para lá e para cá carregando alimentos, arrumando os arranjos de flores, dando os últimos retoques e limpando os salões, em cada cômodo havia algo sendo feito, e um grande burburinho de vozes preenchia os corredores. O clima estava agitado, embora permanecesse uma melancolia no ar, o peso do luto ainda permeando o castelo. Afonso tinha como principal função comandar o patrulhamento e ter a certeza de que nenhum ataque viria, a segurança do reino e da nova rainha eram sua prioridade. Não que fosse de fato necessário, quando um monarca morria durante uma guerra, era a lei comum que uma trégua se estendesse do período oficial de luto, que era de treze dias, até sete dias depois da coroação do novo herdeiro, e nenhum rei ou rainha da Cália jamais quebrara a tradição, Otávio não tentaria um ataque, não agora pelo menos, não de imediato.

Havia ainda um outro fator, de acordo com informantes, Otávio se ferira na batalha, um ferimento pequeno, mas que infeccionara, ele então retornou para a Lastrilha com uma pequena tropa, enquanto um batalhão continuava instalado na Planície de Albacia, isso garantiria a Artena mais algum tempo para se preparar e reestabelecer seu governo.

- Comandante, com licença. – aproximou-se Eliseu, um dos capitães do Exército. – O Rei de Montemor acaba de chegar.

O coração de Afonso disparou de imediato, estava apreensivo todo o dia na expectativa de reencontrar o irmão, Rodolfo, agora Rei de Montemor. Eles não se viam desde o dia que ele abdicara do trono e partira para Artena, o último vislumbre que Afonso tinha do irmão fora do dia do casamento dele com a princesa de Alcaluz, enquanto o irmão todo coberto de joias e fios de ouro caminhava sorridente até a carruagem real, depois disso ele nunca mais colocara os pés em Montemor.

- Obrigado Eliseu, eu irei recebê-los. – respondeu ele.

Desde o raiar do dia Afonso estava recebendo os convidados reais, visto que Catarina se preparava para a coroação que se seguiria mais tarde. Em geral aqueles que não conseguiram chegar a tempo da cerimônia fúnebre vinham apenas para a coroação, com exceção dos reinos do norte e dos que se encontravam em guerra, esses não conseguiriam comparecer, e embora Rodolfo não tivesse uma boa desculpa para ter faltado no enterro do Rei Augusto, vinha apenas agora para a coroação de Catarina.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora