Capítulo XIV

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REINO DE ARTENA



- Não fuja de mim Afonso, eu preciso falar com você. – disse Catarina, se aproximando de onde ele estava, porém guardando um bom espaço entre eles.

- Eu não estou fugindo de você, Alteza. – respondeu ele, as palavras que ela lhe dissera naquela noite ressoando em sua cabeça "Você deve me chamar de Alteza". Bom, ele não mais esqueceria o protocolo.

- Sim, você está. – a voz dela era firme, mas ainda assim imparcial, não era uma acusação. – Eu sei que tem me evitado esses dias, patrulhando os muros do castelo, alterando seus horários de treino, não pense que não percebi, mas não se preocupe, tudo o que desejo é esclarecer as coisas entre nós.

Ele a encarou, ela continuava com a mesma postura que ele viu na reunião, um ar de superioridade latente na forma como mantinha sua cabeça erguida, mas havia algo em seu olhar, algo que não havia antes, uma emoção que ele não conseguia identificar.

- Sobre aquela noite, o que aconteceu, eu peço perdão Alteza, aquilo foi um erro, foi uma imprudência e um grave delito de minha parte. – disse Afonso. – Você é minha soberana, eu não deveria ter esse tipo de intimidade, peço que aceite minhas desculpas.

- Desculpas? Por que você me pede desculpas quando fui eu quem o beijei? – perguntou ela, confusa.

- Eu sou um soldado, não deveria ter permitido.

- Não, a culpa não foi sua, se aquilo foi uma imprudência eu assumo a total responsabilidade. – disse ela. – Mas você tem razão, aquilo foi um erro.

Catarina o encarava com aqueles olhos negros, brilhantes e intensos, e de repente imagens dela próxima a ele voltaram a sua mente, Afonso podia sentir como era tê-la em seus braços, tocar sua pele, seus lábios, e uma força que ele ainda não compreendia o impeliu a dar um passo à frente.

- Eu estava emocionalmente abalada naquela noite. – continuou Catarina. – Estava magoada com a discussão que tive com meu pai, e acabei buscando em você o conforto que eu precisava, e você foi atencioso e gentil o bastante para não me repelir.

Ela sorriu, um sorriso que Afonso raramente via no rosto de Catarina, era suave e tranquilo, sem segundas intenções, sem a sombra de um deboche, um sorriso sincero. Naquele momento ela estava mais bela do que jamais esteve.

- Eu compreendo. – disse Afonso simplesmente. Ele tentou dizer mais alguma coisa, mas não conseguiu. Uma dupla culpa o atingia agora, o fato de ter traído a esposa, e o fato de Catarina assumir toda a culpa pelo ocorrido, algo que Afonso não refutara, embora soubesse muito bem que no calor do momento ele tinha correspondido aquele beijo.

- Espero que compreenda que isso não deve se repetir, que não irá se repetir. – ressaltou Catarina, resoluta. – Ninguém deve ter conhecimento do que aconteceu entre nós, não é adequado a imagem de uma princesa tal comportamento, por isso peço o seu silêncio, Afonso.

- Não se preocupe, Alteza, eu não contei para ninguém. – disse ele.

- Eu acredito em você, sei que jamais iria me expor dessa forma, embora eu me pergunte, não contou nem para a tal da Adália? – perguntou ela, e havia uma real curiosidade em suas palavras, embora ele notara um meio sorriso no rosto da princesa, como se aquilo a divertisse.

- O nome dela é Amália, e com todo o respeito Alteza, mas as informações que eu compartilho com a minha esposa não lhe dizem respeito. – respondeu Afonso de forma imprudente, ele não gostava de falar sobre a esposa com Catarina.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora