REINO DE ALFAMBRES
A lua cheia brilhava no céu noturno, acima do pátio, iluminando os soldados que ali reunidos riam e duelavam. Afonso observava-os a distância, encostado em uma das altas pilastras, sem fazer menção de se juntar as festividades.
A pequena comitiva deles havia chego a Alfambres no final da tarde, e de imediato Catarina havia solicitado que fosse levada aos seus aposentos, com o cansaço da viagem e a poeira da estrada ela desejava um banho, e dissera isso em alto e bom som, sem qualquer apreensão ou constrangimento.
Os demais se juntaram aos soldados de Alfambres no alojamento, o jantar já fora servido, mas Afonso pouco tocara sua comida, a mente conturbada tinha lhe tirado a fome. Dentro do Castelo o banquete em homenagem a Catarina ainda acontecia, e ele, claro, não fora permitido na mesa, teria que aguardar ser chamado, pois sabia que Catarina iria querer sua presença na reunião que ocorreria depois, onde tentaria atingir seu objetivo de uma aliança vantajosa para Artena. Assim, ele aguardava, mas não tinha ânimo para conversas ou jogos de espadas.
Os artenianos beberam pouco do vinho que fora servido, sabiam de sua função, estavam em serviço e tinham que estar alertas para a proteção da rainha, porém, enquanto Afonso e Delano permaneciam à margem, Silas e Gael já tinham sacado suas espadas e entrado no círculo de lutas mais de uma vez, rindo e conversando com os demais soldados.
Ao chegar no castelo, Afonso fora saudado pelo Rei Heitor e a Rainha Gertrudes, com um cumprimento mais afetuoso e íntimo do que o dispensado aos demais oficiais, porém ainda frio e distante se comparado ao dado a qualquer outro nobre, essa era há tempos a posição de Afonso, no limiar entre a nobreza e a plebe, sem pertencer realmente a nenhum dos dois. Muitos dos monarcas sequer sabiam como tratá-lo, se confundiam nas nomenclaturas, mas obviamente esse não era o caso do Príncipe Bernardo. Desde o momento em que haviam pisado no pátio do castelo, Bernardo sorrira e beijara a mão de Catarina, mas sempre acompanhando também Afonso, com um olhar provocativo e um sorriso sarcástico no rosto pálido, em cada frase, em cada observação, fazia questão de ressaltar a posição de Afonso, de rebaixá-lo, não perdia a oportunidade de dizer "Não o Afonsinho, claro, ele não passa de um plebeu".
Isso e o fato dele se aproximar de Catarina, cortejá-la e flertar descaradamente com ela, na frente de todos, irritava Afonso profundamente, Bernardo se dirigia a ela com uma intimidade forçada, com sorrisos falsos, toques exageradamente demorados em seu braço, e a olhava como a quem olha um pedaço de carne, com um desejo latente. A vontade de Afonso era a de afastá-la dele, expulsá-lo de sua presença, mas estava impotente, mesmo sendo o Comandante ainda era um soldado, e como tal tinha que manter a boca fechada e o olhar baixo e respeitoso, ainda mais por estarem no reino de Bernardo.
Olhando para cima, ele observou a janela da torre leste, onde sabia que Catarina estava hospedada, era o quarto em que iria pernoitar, e pensando nela as lembranças da noite anterior voltaram a sua mente. Na verdade, houvera poucos momentos em que ele se esquecera do que tinha acontecido, o impacto do que tinha se passado entre eles parecia ter sido marcado a ferro quente em sua mente, como se registrado de forma perpétua em sua memória, a mera lembrança fazia seu coração bater mais acelerado.
Como eu pude ser tão imprudente? Que os deuses me perdoem, pensou ele, culpado. Afonso remoía a atitude impensada, impulsiva, mas ao mesmo tempo apaixonada que tivera, não importava o tempo que passasse, ele não aprendia com seus erros, novamente agiu por impulso, e novamente agiu errado.
Catarina, sua rainha e soberana, parte da mais alta nobreza da Cália, ele não poderia ter se deitado com ela, não poderia ter se rendido ao desejo, ao sentimento voraz que se apossara dele, que o acompanhava há tempos, mesmo que ele negasse efusivamente. Não tinha conseguido resistir, nem tampouco ela, Catarina havia se entregado a ele, naquele momento, naquela noite, ela se entregara a ele por completo.
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A Grande Rainha - Contos da Cália
FanfictionExistem aqueles que nasceram para ser reis, que nasceram para ter seu nome escrito na eternidade e que mais do que tudo desejam a grandeza, e assim era Catarina de Lurton, princesa do reino de Artena. Prometida desde criança ao príncipe Afonso do re...