Capítulo XXXVII

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REINO DE ARTENA



"Catarina"

Um sussurro, alguém dizia seu nome em um lugar ao longe, distante. Era uma voz grave, gentil, era Afonso que a chamava. Catarina sentia a consciência despertar, aos poucos recobrando as forças, então, muito lentamente, ela abriu os olhos.

A princípio, tudo continuou escuro, mas aos poucos seus olhos foram se acostumando a luminosidade do lugar, e ela pode vislumbrar onde estava, viu o teto, alto e entalhado em pedra, com um grande e requintado candelabro pendurado acima dela, viu as paredes, os quadros e a grande janela acortinada que dava para os jardins do Castelo e para os campos de Artena, ela estava em seu quarto. Depois, ainda confusa, ela o viu, sentado ao lado da cama, segurando sua mão num aperto quente e reconfortante, Afonso, ele abriu um grande sorriso para ela, havia alívio em seus olhos marejados.

- Você acordou, graças aos deuses! – exclamou ele, apertando sua mão com mais força.

- O que aconteceu? – perguntou ela, confusa.

- Você desmaiou, estava com a respiração fraca e pálida como a morte. – respondeu ele, olhando-a com intensidade. – Eu a trouxe para seu quarto, Lucíola te acomodou aqui e Fidélio a examinou, ele saiu para buscar algum remédio, deve estar retornando.

- Eu desmaiei? Eu...acho que começo a me lembrar. – disse ela, a sensação de fraqueza, o sangue escorrendo, a dor em todo seu corpo, ao recordar essas coisas uma mão fria como gelo apertou seu peito, sua filha, sua menina, talvez algo tivesse acontecido, talvez isso fosse um problema em sua gravidez. – Fidélio me examinou? Ele disse algo?

Ela encarou Afonso, ansiosa, se o médico a tinha examinado provavelmente deveria saber sobre seu estado, saberia que está grávida, esperava que tivesse guardado essa informação, para o bem dele.

- Ele não me passou nada, disse que apenas o marido possui autoridade nesse tipo de situação. – respondeu ele, o rosto subitamente sério. – Mas ele parecia preocupado, Constantino ainda não retornou de sua caçada, então ele te examinou por um bom tempo, depois saiu para buscar algo em absoluto silêncio, eu só pude entrar agora que ele saiu.

Eles se encaravam, Afonso ainda segurando com firmeza sua mão, não parecia ter intenções de soltá-la. Catarina estava com medo, embora algo dentro de si tivesse plena certeza de que a menina estava bem, ela ainda tinha medo de algo ter acontecido a sua filha, não conseguia, não queria imaginar que talvez algo ruim tivesse acontecido ao seu bebê.

Os olhos de Catarina encheram-se de lágrimas, o medo tomando-a, e também, ter ali ao seu lado o pai de sua filha, o pai da criança que carregava, e não poder sequer contar isso a ele, compartilhar com ele aquela angústia, nunca se sentira tão sozinha.

Ela respirou fundo, buscando forças, não deixaria aquelas lágrimas escorrerem, não deixaria que ninguém as visse.

- Você se sente bem? Está melhor? – perguntou Afonso, ainda preocupado.

- Ainda me sinto fraca, com o corpo pesado.

- Pode ser fraqueza, você tem se alimentado direito? Muitas vezes eu via que em meio a reuniões e vistorias e todo esse caos que a guerra trouxe, você por vezes ficava o dia inteiro sem se alimentar, indo de um problema a outro sem se preocupar com seu próprio bem-estar.

- Eu admito que não estiva me alimentando como deveria, mas não acho que seja isso. – respondeu ela, encarando ele fixamente. – Não sabia que você tinha reparado nesse tipo de coisa.

Afonso abriu um pequeno sorriso, constrangido. A porta então se abriu, deixando entrar Fidélio, que carregava um frasco com um líquido branco em uma mão, e um punhado de ervas na outra. O homem entrou apressado, com Lucíola logo atrás, fechando a porta atrás de si, ao vê-la acordada, o médico sorriu.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora