Epílogo

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REINO UNIDO DE ARTENA E MONTEMOR – CASTELO REAL



A sala estava aquecida, a lareira estava acesa, o crepitar das brasas preenchiam o ambiente, um som aconchegante e reconfortante. Do lado de fora das janelas um vento frio soprava, açoitando as árvores que balançavam freneticamente, era alto inverno, estação de frio intenso e geadas que cobriam os campos, época em que as pessoas, até os nobres e a realeza, permaneciam mais dentro de casa, fossem elas pequenas choupanas ou grandes castelos.

As altas paredes estavam repletas de grandes quadros de reis e rainhas antigos, e no chão atapetado com a bela tapeçaria do Oriente, o príncipe Felipe brincava com seus pequenos cavalos de madeira, e a princesa Liliana folheava um livro que, notavelmente, não era para a sua idade, era um livro sobre a história do reino, chamado de A Dinastia dos Lurton.

A idosa senhora, chamada agora de Catarina III, a Velha Rainha, observava os netos brincarem, tinha dores nos pés, e esse frio apenas fazia piorar, aquela sala aquecida e os cobertores que jogara sobre a perna ainda não tinham surtido grande efeito.

- Vovó, esse livro é chato. – reclamou Liliana, do alto da sabedoria de seus seis anos, cruzando os braços, visivelmente entediada.

- Bom, esse livro é para crianças maiores, não para pequenas como você. – respondeu ela.

- Eu não sou pequena, eu já sou bem grande, estou quase maior que o Lipe. – rebateu a pequena, olhando séria para ela.

- Que mentira, eu sou bem maior que você. – disse Felipe, interrompendo a brincadeira agora que seu nome fora mencionado. – Eu sou mais velho, não é vovó, que eu sou maior?

Ela encarou os netos, Felipe, com sete anos, era esperto, e também carinhoso, tinha os cabelos de um castanho claro e os olhos, verdes, eram curiosos, tinha puxado em grande parte as características da mãe, Alice de Alabarca, bem como os trejeitos do povo do norte, do reino de Danna. Liliana, a caçula, tinha os cabelos negros que caíam em ondas, volumosos e brilhantes, os olhos, escuros, continham a sagacidade de alguém que notava tudo ao seu redor, ela herdara os traços do pai, Alexandre, bem como os cabelos e olhos escuros, da antiga linhagem real de Artena.

Alexandre era o filho mais velho da velha rainha, e agora o Rei daquele vasto reino, já que a idade avançada e a doença em seus ossos a impedia de ficar muito tempo de pé e de realizar viagens, assim ela achou por bem passar enfim o trono para o filho. Todo o reino esperava por isso, e ela sabia ser a melhor decisão. Alexandre e a esposa haviam partido em uma  importante viagem na noite anterior, e ela sabia que as crianças já sentiam a falta deles.

- Sim, Lili, minha pequena, seu irmão é maior do que você. – confirmou ela, para o desgosto da neta.

- Não quero mais ler esse livro. – disse a menina, empurrando o livro para longe dela. – Vovó, conte uma história.

- Uma história? Mas eu acho que já contei todas as que eu sei. – respondeu ela, pegando na mesa ao lado a pequena xícara, continha chá de hortelã, a bebida fumegava, o ar quente espiralando e subindo, até o apoio da xícara estava quente, ela bebericou um gole.

- Ah vovó, conte, por favor. – pediu a menina, quase implorando e juntando as pequenas mãozinhas em um pedido sincero. Ela riu, rendida aos apelos da pequena criança. O seu coração de avó não era capaz de negar nada quando ela pedia daquela forma.

- Tudo bem, tudo bem, qual história você quer ouvir? – perguntou ela, fazendo brotar um grande sorriso no rosto da pequena.

Felipe largou os cavalos no canto e se aproximou, sentando no tapete ao lado da irmã, próximos agora dos pés da avó, que estava sentada na poltrona acolchoada. Ela encarou as crianças, que pareciam ansiosas.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora