Capítulo VIII

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REINO DE MONTEMOR



A festa no castelo de Montemor já durava algumas horas, o banquete já fora servido e agora os convidados bebiam, dançavam e conversavam, alguns já demasiadamente bêbados, como o rei Patrício de Castelotes, que tentara tirar a rainha Crisélia para dançar, e tendo recebido uma negativa da velha senhora, começou a dançar sozinho no salão, levantando acessos de riso de todos os presentes.

Os reis e as rainhas da Cália se sentaram na grande mesa, juntamente com os noivos, já os príncipes e princesas sentaram-se na mesa mais abaixo, após eles se encontravam os demais nobres dos reinos, e nos extremos do grande salão estavam os comerciantes poderosos dos portos e os oficiais de alta patente convidados, a hierarquia muito bem definida até na disposição das mesas.

Catarina estava sentada na mesa junto com Beatriz, e embora estivesse em uma intensa conversa com ela sobre as mudanças que ocorreram na Lúngria desde a sua partida, ela também estava concentrada em avaliar todos os príncipes do salão. Assim que o banquete acabou conversou com alguns, enquanto sobre outros ela conseguiu a maior parte de suas informações com Beatriz, que participava ativamente das reuniões da mãe, e sabia de todos os pormenores dos escândalos dos reinos.

- Por que quer escolher com tanta pressa Catarina? – perguntou Beatriz, sem entender. – Por que não se dar ao luxo de frequentar outros bailes? Não são todos os nobres da Cália que compareceram. Quem sabe não conheça seu futuro marido em algum outro evento?

- Eu preciso ao menos mostrar uma inclinação à algum pretendente, ou então meu pai escolherá por mim, sem se importar se eu aprovo ou não o meu pretendente. – respondeu ela. – E se depender dele eu posso acabar me casando com um nobre qualquer, desde que o homem apresente gentileza e "bom coração", como diz meu pai. – o tom dela carregado de sarcasmo já não surpreendia Beatriz, que conhecia bem o gênio da amiga.

- Soube que você recebeu uma proposta do príncipe Bernardo, filho do rei Heitor. – comentou Beatriz. – Ele é filho do Presidente do Conselho da Cália, e príncipe de um dos reinos mais poderosos, e claro temos que considerar, não é desagradável aos olhos, não seria essa uma união vantajosa? – perguntou.

- Eu o descartei logo de cara Beatriz. – respondeu Catarina secamente. – Embora para quem quer que pergunte eu responda que estou analisando a proposta dele, eu nunca o considerei de fato, você deveria saber disso. Ele é o quarto filho do rei Heitor, e o quinto na linha de sucessão agora que seu irmão Alberto teve um filho, ele nunca comandará Alfambres, ele é um príncipe sem exército e sem poder. – explicou.

Beatriz a olhou com apreensão, como se temesse as palavras de Catarina, porém antes que dissesse algo elas ganharam mais uma companhia à mesa quando Lucrécia, sem nenhuma cerimônia, se acomodou ao lado de Beatriz e se serviu de uma taça de vinho. Catarina já tinha cumprimentado a noiva brevemente quando fora parabenizar os noivos, mas com tantos convidados mal tinha trocado duas palavras com ela.

- Ah não se incomodem com a minha presença aqui, continuem conversando. – disse Lucrécia. – Vim me juntar a vocês, a mesa ali de cima estava tão entediante, todos aqueles reis e rainhas conversando sobre aquelas coisas tão enfadonhas, prefiro me juntar a vocês, jovens como eu, princesas como eu, embora não sejam casadas com um príncipe herdeiro lindo e charmoso como eu, mas, bom, vocês entenderam.

- E o que seriam esses assuntos tão enfadonhos, Alteza? – perguntou Catarina, com curiosidade.

- Ora, me chame de Lucrécia, não quero formalidades, ainda mais entre nós, somos todas princesas, e você Catarina que é minha quase-cunhada, não é, digo quase pois Afonso não se casou com você, ele preferiu a tal da plebeia, mas você quase foi da família certo, uma pena uma pena mesmo. – ele engoliu um grande gole de seu vinho. – Ah sim, os assuntos, bom eles conversavam sobre tratados e problemas políticos, ou contavam histórias de quando eram jovens. Como se eu me interessasse por histórias que eles viveram na era passada não é, todos tão velhos, com o perdão da palavra, minha sogrinha que me perdoe, mas eles são velhos, alguns ali estão fazendo hora extra por aqui na minha opinião.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora