Capítulo XXIII

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REINO DE MONTEMOR



- Eu não irei repetir novamente, ninguém está autorizado a entrar no Castelo Real, em especial você, Príncipe Exilado. – repetiu a jovem, em tom sério e autoritário. O uniforme da Guarda Real se ajustava bem a ela, que mantinha os ombros eretos, a cabeça erguida, o orgulho de sua posição visível em seus gestos.

- Eu preciso entrar, tenho que falar com Rodolfo, vim em nome da Rainha Catarina. – rebateu Afonso. O recente título de "príncipe exilado" ainda ecoava em seus ouvidos.

- Sob ordens do Rei Rodolfo, eu não posso deixar ninguém entrar, ele teme um ataque agora que tantos reinos se encontram em guerra. – respondeu a jovem cujo nome Afonso não recordava.

- Querido, talvez seja melhor irmos. – interveio Amália, segurando delicadamente seu braço. – Informe Catarina que ela deve enviar outro Emissário.

Aquele comentário irritou Afonso, ele tinha ordens para cumprir, com o reino de Artena em guerra, ele tinha que tentar fazer Rodolfo cumprir com o acordo. Amália não entendia, não assimilava o impacto da recusa de Rodolfo em Artena, o peso disso na balança da guerra. No começo de seu relacionamento ele achava esse desconhecimento dela dos protocolos e normas algo curioso, e poderia até dizer, gostava disso nela, mas agora, em tempos de crise como a que viviam, essa teimosia e ignorância nada mais faziam além de incomodá-lo.

- Eu não irei embora sem ver meu irmão! – exclamou ele, sério, retirando o braço do toque da esposa.

Passos foram ouvidos, e surgindo do outro lado do pátio estava Cássio, que com passos firmes caminhava na direção deles.

- O que acontece aqui? Que exaltação é essa Selena? – perguntou ele se dirigindo a soldada. Quando o olhar dele encontrou o de Afonso seu rosto se iluminou. – Afonso! Você está aqui, voltou finalmente!

O homem se aproximou e bateu com firmeza no ombro de Afonso, sorrindo.

- Estou aqui apenas em missão meu amigo. – respondeu Afonso, e uma sombra assumiu o rosto de Cássio. – A Rainha Catarina me enviou, devo falar em nome dela com o Rei Rodolfo.

Cássio dirigiu a Afonso um olhar duro, acusador, magoado. Pelo visto, imaginara que Afonso estava ali para consertar as coisas em Montemor, trazer uma solução miraculosa para o caos que ameaçava o reino, talvez até tomar o trono de volta de Rodolfo, algo que a essa altura era impensável.

- Vossa Majestade declarou que não receberá ninguém, nem emissários nem mensageiros, ele teme ser envenenado, cair em uma armadilha ou ser sequestrado, se recusa a abrir os portões a quem quer que seja. – respondeu Cássio.

- Diga a ele que eu estou aqui, diga que é importante. – insistiu Afonso.

Cássio o encarou fixamente, o rosto impassível, então dirigiu um longo olhar para Amália. Ele, pela primeira vez, via pessoalmente a pessoa que fizera seu príncipe e líder abdicar do trono, e pela expressão em seu rosto, ele se ressentia particularmente dela por isso.

- Eu vou ver o que posso fazer. – respondeu Cássio se retirando. – Selena, fique de olho neles.

- Sim, Capitão. – respondeu a jovem.

Então ficaram os três ali, e enquanto Amália, com um olhar curioso observava o que podia do castelo, a jovem, Selena, encarava os dois com seriedade, mas também com uma certa curiosidade, parecia estar avaliando qual a verdadeira história por trás do casal das canções.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora