Capítulo XXXII

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REINO DE ARTENA



A Sala do Trono estava vazia, ela ordenara que todos, até os soldados reais, saíssem, o trabalho, pelo menos ali, estava terminado, a ampla sala já estava limpa e decorada para as festividades do dia, afinal, era o dia do casamento da rainha.

Catarina estava sentada no trono, não sabia exatamente o motivo, apenas se levantou pela manhã, os primeiros raios de sol entrando pela janela, e sentiu uma imensa vontade de ir até lá, de alguma forma sentia que ali era o lugar em que mais estava próxima do pai, de quem tanto sentia saudade. Ela permanecia sentada, as mãos apoiadas nos braços de madeira antiga, e observava o maior salão do Castelo, a mente divagando entre passado e presente.

A imagem do pai se formava a sua frente, e ela se perguntava se Augusto estaria orgulhoso dos passos que ela dera até o momento, a guerra que lhe tirara a vida agora estava em curso, e ela, enfim, tivera boas vitórias, mas não sabia se era esse o tipo de coisa que deixaria seu pai orgulhoso, talvez o fato dela finalmente estar se casando, como ele sempre havia desejado, fosse, realmente, o que mais o deixaria feliz.

Essa constatação a entristecia, em especial por esse casamento ser, aos olhos dela, a sua maior prisão, sentia-se acuada, presa, enjaulada, como se lhe amarrassem os pulsos e a impedissem de caminhar, sentia-se assim, embora andasse livremente e tivesse centenas de servos sob seu comando.

Isso é ser mulher, pensou. A Rainha Helena sempre lhe alertara e instruíra, o mundo era governado por homens, para uma mulher, tudo vinha com três vezes mais sacrifício e com metade do reconhecimento, de acordo com a velha e sábia rainha, as mulheres deviam se erguer com tudo que tinham, se quisessem ser ouvidas.

Nos corredores era possível escutar os passos apressados dos criados, correndo para lá e para cá carregando alimentos, enfeites, flores, tudo para deixar o Castelo em perfeito estado até o final do dia. Dessa vez, nada de convidados de outros reinos, apenas os nobres do reino foram chamados, vários compareceram, mas os que residiam ao sul dos rios Maurele e Biroge mandaram emissários informando que a viagem era arriscada, que permaneceriam na segurança de seus castelos e desejavam felicidades aos noivos.

Ela logo se juntaria aos nobres que vieram prestigiar a cerimônia, no café da manhã ela e seu noivo, Constantino, se juntariam aos condes, duques, marqueses e barões que estavam hospedados no castelo, mas, por ora, ela preferia adiar esse momento de bajulação e falsos elogios.

O casamento seria realizado apenas porque Constantino muito insistira nisso, na verdade, ele havia insinuado com todas as letras que ela o usava e a seu exército e que acabada a guerra ela iria dispensá-lo, e quando ela o acusou de não confiar em sua palavra, como rainha, ele disse, com aquele sotaque arrastado: "Então prove, se realmente sua intenção é se casar comigo, eu exijo que seja agora, essa semana, antes de partirmos para a batalha, casemos agora antes do final da guerra". Ela ficou surpresa, mas não havia muita saída, o exército de Constantino fora fundamental naquelas batalhas recentes, e ele levantara seu ponto, Catarina havia dado sua palavra, e como uma rainha, devia mantê-la.

As palavras do Duque ainda rondavam a sua mente, quando as grandes portas do salão se abriram, Afonso entrou, a porta se fechando atrás de si. Ele usava o uniforme da Guarda Real, com a espada na bainha e a capa esvoaçando, caminhava lentamente em direção ao trono.

Seus olhares se cruzaram, Catarina o encarava fixamente conforme ele se aproximava mais, até chegar próximo ao trono. Afonso parou, a observando com atenção.

- Majestade, patrulhei toda a região, os homens já estão dispostos pelos muros, as defesas estão ativas, a cerimônia ocorrerá sem imprevistos. – disse ele, a mão apertando a base de sua espada.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora