Capítulo III

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REINO DE ARTENA


Catarina estava no centro do labirinto, sentada em seu banco preferido próximo a fonte de água, lendo um velho livro que trouxera da Lúngria, A Guerra dos Reis de Prata, que contava a história de uma das maiores guerras que se abateu sobre a Cália, entre os reis rivais dos reinos de Dania e de Nícia, um de seus livros preferidos, quando escutou ao longe alguém chamar seu nome.

Levantou-se rapidamente, ouviu mais uma vez e reconheceu a voz de Lucíola, então caminhou ao encontro da voz da criada, ela não se perdia naquele labirinto desde que tinha idade para se lembrar, era como se sempre o conhecesse, diferente de sua dama de companhia, que sempre ficava apreensiva ao entrar no labirinto, pois havia se perdido inúmeras vezes.

- Estou aqui. – respondeu Catarina ao encontrá-la na entrada.

- Seu pai convocou sua presença Alteza, imediatamente. – comentou esbaforida. – É urgente!

- Do que se trata? – perguntou enquanto apressava o passo em direção ao castelo.

- Não me informaram, mas parece ser algo a respeito do príncipe Afonso. – respondeu Lucíola, enquanto tentava acompanhar os passos rápidos e longos de Catarina. – O rei a aguarda no salão real.

Catarina se encaminhou o mais depressa que pôde, e ao chegar na sala do trono encontrou o pai em um debate sério com Demétrio.

"Eu quero cada centímetro daquela floresta revistada, cada canto, cada pedra" entreouviu seu pai dizendo ao chegar. Ao vê-la ele parou de falar.

- Meu pai, o que aconteceu?

- É Afonso minha querida, um mensageiro chegou, o príncipe foi atacado em seu caminho pela Floresta, um bando de foras da lei, o chefe de sua guarda pessoal retornou à Montemor com a notícia, estava ferido, mas o príncipe está desaparecido.

- Pelos deuses, como isso pode ter acontecido? Ele não tinha uma escolta? – perguntou ela.

- Sim, mas ao que parece os fora da lei estavam em maior número e os encurralaram, houve luta, e o príncipe não foi mais visto. – respondeu Demétrio.

Catarina não sabia o que pensar, por um lado sentia pelo menino que conhecera, o rapaz muito provavelmente estava morto agora, ela já tinha escutado inúmeras notícias como aquela para saber disso, não que ela se atrevesse a dizer isso em voz alta, seu pai com toda a certeza tinha esperanças de encontrá-lo com vida, mas por outro lado, bom, por outro lado sentia-se livre, livre como se sentira apenas poucas vezes na vida. Sem Afonso o controle de seu destino voltava a ser seu.

- Ele deve ter se escondido em algum lugar pela Floresta, talvez ferido e se escondendo dos fora da lei. – sugeriu Catarina.

- Sim, pensamos nessa possibilidade, já enviei uma equipe de buscas para procurá-lo por toda a região, e o mesmo fez Crisélia. – respondeu Augusto. – Logo ele será encontrado, não tenho dúvidas.

- Que os deuses sejam bons. – disse Catarina.

- Que os deuses sejam bons. – respondeu Demétrio em eco.

Ele saiu da sala, e Augusto junto com ele, dando um último sorriso confortador para a filha, e deixando Catarina sozinha na imensa e deserta sala do trono.

Os deuses nunca são bons, pensou Catarina. Os deuses, em toda sua onipotência e plenitude, pouco se importavam ou interferiam nas vidas dos pobres mortais. Um homem sozinho e ferido em uma Floresta tão grande como a de Artena, contra um bando de foras da lei, as chances eram mínimas de Afonso ter sobrevivido. Agora, mais do que tudo, era a hora de pensar em novas estratégias para o futuro.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora