Capítulo XXVIII

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ARREDORES DE ANGARIA VICENZA



Era fim de tarde, o sol ainda estava alto no céu, mas em uma hora estaria se pondo, então a noite chegaria, com seu manto de estrelas para cobri-los. Fazia uma semana que haviam chego ao acampamento do Duque Constantino, uma longa e irritante semana, e Afonso estava grato por saber que partiriam de volta para Artena no dia seguinte, já não suportava aquele lugar, aquele descampado, aqueles homens, aquele Duque.

Como ele previra, o Duque Constantino não fizera nenhuma exigência absurda ou impossível, ele deu-se por feliz de Catarina responder a sua carta, e mais feliz ainda por ela aceitar se casar com ele e firmar essa aliança definitiva, e de bom grado colocaria a disposição dela e de Artena seus homens e seu armamento.

Os soldados de Constantino se assemelhavam ao seu líder, eram homens brutos, calejados de guerras e batalhas, mas indiscutivelmente fortes e capazes como qualquer soldado de Artena. Seu líder, Constantino, os contratara em diversos reinos da Cália e além dela, e mantinha como rotina, efetuar pilhagens nas ilhas costeiras, bem como em várias das cidades dos reinos de Além-Mar, depois do Oriente, uma terra desconhecida e pelo que ouvira dos boatos dos homens, cheia de tesouros.

Essas pilhagens e batalhas fez de Constantino um homem de grandes posses, e as batalhas em que lutavam, muitas vezes patrocinados por reis e governantes dessas cidades distantes, fizera deles todos homens experientes, e a experiência em guerra, nesse sentido, era de grande valia.

No acampamento, em meio as diversas tendas dispostas por toda a extensão, homens iam e vinham, carregavam espadas, lanças, sacos de grãos e farinha, jarros e mais jarros de água, cerveja, vinho e águardente, uma bebida típica de Vicenza, e que aqueles homens apreciavam em demasia. Todos em movimento, os preparativos estavam chegando ao fim, logo, com tudo pronto e a noite chegando, o jantar seria servido, e após uma noite de descanso, eles enfim se colocariam em marcha.

Afonso pouco vira Catarina desde que eles tinham se instalado ali, ela, dessa vez, decidira negociar com o Duque a sós, sem a interferência de nenhum conselheiro ao seu lado, e após a reunião ser finalizada, ela o chamou, juntamente com Delano, Silas e Gael, para informar o acordo, a promessa de casamento e o poderio militar envolvido. Ela os notificou de sua decisão, não fez perguntas e não esperou respostas, e após isso permaneceu a maior parte do tempo em sua tenda, saindo esporadicamente em passeios pelo acampamento e pelos arredores com seu "noivo", Constantino.

Afonso tentou falar com ela duas vezes, e nas duas vezes fora proibido de entrar, sendo informado de que sua rainha o atenderia outra hora, mas jamais se colocando à disposição de falar com ele. Aquela frieza e distância o estavam enlouquecendo, Afonso não entendia o motivo de ser tratado dessa forma, após tudo o que se passara entre eles, ainda tinham muito o que conversar, mas Catarina não parecia disposta a tanto.

Enquanto caminhava pelo acampamento, vistoriando as carroças e o armamento, verificando os preparativos para a partida, a mente de Afonso divagava, pensava em Catarina, em Amália, nas guerras, em Montemor, e na avó, Crisélia.

Amália. A vira pela última vez em Artena, na estrada quando retornavam de Montemor, ele então recebera a notícia da emboscada no Vale, e partira, aflito, desesperado, sem ter Amália em seus pensamentos. Desde então tanta coisa acontecera, ele já não sentia o mesmo sentimento de antes por ela, mas agora, ele tinha certeza disso, sabia a real natureza de seus sentimentos, tanto por Amália, quanto por Catarina. A culpa o corroía, ela não merecia nada disso, não era culpada de nada, e Afonso a tinha traído, mais de uma vez, internamente, fisicamente, e em seu coração. Amália o amava, e ele, tardiamente, descobrira que seus sentimentos por ela estavam equivocados. Que os deuses o perdoassem, pois ele sabia que não merecia.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora