Capítulo V

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REINO DE MONTEMOR



Horas haviam se passado desde que Afonso regressara, mas tudo ainda parecia irreal, tudo era estranho, observando o castelo, os serviçais, os soldados e tudo mais naquele lugar, parecia que tinha sido em outra vida.

Reencontrar sua avó, seu irmão e seus amigos tinha sido uma grande alegria. Crisélia ainda carregava nos olhos vermelhos os resquícios das lágrimas que deixou cair livremente ao ver o neto retornando dos mortos. Ele sentia por isso, sabia que ela devia ter sofrido demais com a ausência dele, o funeral, o luto, ela vivera tudo aquilo.

Seu irmão também chorou ao vê-lo com vida, ao chegar cavalgando em um belo corcel negro, saltou e correu ao seu encontro para abraçá-lo numa euforia e emoção que nunca vira em sua vida. Cássio e os demais soldados também festejaram sua volta, chamando-o de Afonso, o Renascido.

Agora, se preparando para o jantar, enquanto vestia uma fina veste digna de um príncipe, de veludo negro com botões de ouro, sentia seu estômago revirar. Era enfim chegada a hora, não podia esperar mais, ele tinha de revelar a sua avó sobre o motivo de sua demora em voltar, e como tudo tinha mudado para ele, tinha que contar sobre Amália.

Quando acordou, confuso e fraco em um lugar desconhecido, a primeira coisa que viu, e que o acalmou, foi a visão dela, sorrindo gentilmente para ele. Ao entender o que tinha acontecido, decidiu não revelar quem era, e Amália e sua família o acolheram, e ela cuidou dele por todas essas semanas, tratando de seu ferimento, alimentando-o, e ele sentiu algo crescer dentro dele. Ela era bonita, gentil, e também geniosa, e antes que se desse conta, Afonso estava apaixonado. Uma paixão como ele nunca tinha sentido antes na vida.

Mas sabia que teria de regressar, e ao chegar esse momento, decidiu revelar a verdade a ela, em segredo, e num ato de desespero, de amor, prometeu que voltaria por ela, que jamais iria abandoná-la. Era verdade, ele a amava profundamente, não conseguia imaginar sua vida sem ela, então voltou decidido a contar tudo a sua avó, e pedir a benção dela para se casar com Amália. Ele não abriria mão dela, jamais.

Ao chegar na sala de jantar uma mesa ampla já estava disposta, cheia dos mais variados pratos, ensopado de carneiro, torta de lula, morangos caramelizados, e tudo mais, um grande banquete.

Na mesa se encontravam sua avó, Crisélia, na cabeceira, o lugar da rainha, no lado esquerdo Rodolfo já beliscava alguns pedaços do faisão assado, e ao lado dele estava Bernardo. Ao entrar todos o olharam, sua avó sorria, mas em Bernardo ele notou uma sombra de desapontamento, algo sutil, que logo foi substituído por um sorriso um tanto forçado.

- Um brinde à Afonso, o Renascido! – exclamou Bernardo, ao que todos juntaram suas taças a dele, em um brinde.

Afonso tomou seu lugar, do lado direito da avó como cabia agora a ele de novo, o herdeiro do trono.

- Meu neto, conseguiu descansar da viagem? – perguntou Crisélia, enquanto fazia sinal para servirem os pratos.

- Sim, depois de todas aquelas horas de viagem, um banho e algumas horas de sono me fizeram muito bem. – respondeu.

- Um banho principalmente, certo Afonso? Soube que viveu entre plebeus, realmente era necessário um bom banho para tirar toda a sujeira. Já ouvi boatos que eles deixam porcos viverem com eles dentro de suas casas, e que no inverno se cobrem com lama para aquecê-los à noite. – comentou Bernardo.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora