Capítulo XLIII

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REINO DE ARTENA – CASTELO DE VERÃO



O sol começava a nascer do lado de fora das amplas janelas, Catarina podia escutar as ondas batendo nas rochas, o som furioso do poder do mar, a força daquelas águas, aquele som era reconfortante para Catarina. Ela escutava o barulho das gaivotas também, voando sobre o rochedo, ao redor do castelo, aqueles sons lhe fizeram companhia durante toda a noite, pois essa noite, assim como as recentes, ela mal havia conseguido dormir, uma insônia como ela nunca tinha tido antes a mantinha acordada por horas a fio, e durante esse tempo, tudo o que ela fazia era se preocupar, com os reinos, com a própria saúde e o parto que se aproximava, com a filha que estava prestes a nascer, e também com o marido, que agora dormia tranquilamente ao seu lado, uma mão inconscientemente pousada em sua barriga, em um gesto protetor durante o sono.

Ela já estava no final da gravidez, e após tantas dores e o susto de meses atrás, quando ela acordou com dores, o médico de Montemor, Lupércio, a examinou e informou que havia uma alteração na sua gestação, um mal raro por vezes visto em algumas gestações, que causava uma falha em seu fluxo sanguíneo e afetava a criança e a gravidez. Ele havia receitado medicamentos, ervas e infusões, recomendando repouso absoluto, e imediatamente ela e Afonso haviam vindo para Artena, conforme o plano, e então ele pessoalmente se certificou de que ela descansasse, sempre atento com seus medicamentos, chás e alimentação, ela tinha que admitir, Afonso fora extremamente atencioso durante todo esse tempo, e ela se sentia grata por isso.

Porém, Catarina tinha medo, ela não falava sobre isso, mas tinha medo do que essa doença, essa complicação poderia causar, o médico havia informado que o parto poderia ser complicado, que tinha medo de uma hemorragia, e ela se perguntava se fora isso que causara a morte da mãe, talvez estivesse em seu sangue afinal de contas, talvez estivesse destinada a morrer no parto assim como Cecília. Pensar nisso a deixava aflita, não queria morrer, desejava tanto, aspirava tanto, para seu reino e reinado, tinha uma vida pela frente, ao lado de Afonso, e mais do que tudo, queria ver a filha crescer, vê-la dar os primeiros passos, falar as primeiras palavras, a mera possibilidade de não ver nada disso a deprimia, ela rezava todos os dias para os deuses, tinha que correr tudo bem.

Aos olhos de todos, inclusive de Afonso, ela aparentava estar bem, mantinha-se calma, ele estava nervoso e preocupado demais para ela ainda piorar a situação expressando tudo o que sentia, ela o confortava, dizia que tudo iria dar certo, embora os pensamentos e cogitações de uma morte prematura durante o parto rondassem sempre em seus pensamentos.

Catarina acariciou a barriga, sentiu a bebê se mexer, Isabel fazia muito isso agora, chutava, comprimia seus pulmões, sua bexiga, na verdade, ela não ficava mais muito quieta, era uma menina forte e agitada, pensar na filha trouxe um sorriso aos seus lábios.

- Ela está se mexendo tanto. – disse Afonso, virando seu rosto para olhá-la, a voz ainda rouca de quem acabou de acordar.

- Ela anda inquieta, deve estar com pressa de sair. – respondeu Catarina, encarando Afonso, sentindo-se aquecida pela ternura nos olhos dele.

- Ou talvez ela sinta a preocupação da mãe. – sugeriu ele, pegando em sua mão sobre a barriga e apertando afetuosamente. – Meu amor, eu notei que você pouco tem dormido, você tem que descansar, tem que relaxar, por você e pela bebê.

- Eu sei, eu tento, mas são muitas preocupações, com o reino, com tudo. – ressaltou ela. – Detesto ficar presa a essa cama, detesto parecer tão...frágil.

Afonso a olhou fixamente, então se aproximou de seu rosto, tocando seu rosto delicadamente, respirando próximo a ela, e riu com o rosto colado ao seu, um riso calmo e leve, involuntariamente ela também sorriu, era incrível como a mera presença de Afonso, um olhar, a acalmava e confortava.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora