A Grande Rainha - Contos da Cália

Capítulo XXXVI

REINO DE ARTENA

A reunião se prolongava além do que Catarina havia previsto, já fazia mais de duas horas que ela se encontrava naquela sala, encarando todos aqueles homens, todos subjugados a ela, mas que ao mesmo tempo pareciam pressioná-la, todos ao mesmo tempo, de uma única vez, uma força externa que a sufocava.

Um leve desconforto a acompanhava também, já fazia algum tempo, uma sensação de incômodo no estômago, aos poucos a sensação parecia se alastrar por seus membros, lhe dando uma certa fraqueza. Ela imaginava que fossem mais percalços que a gravidez lhe oferecia, não bastassem as náuseas matinais, as fomes repentinas e vorazes no meio do dia e as tonturas recorrentes, agora também aparentava fraqueza, essa menina parecia estar sugando todas as suas forças.

Catarina respirou fundo, tinha que se manter firme, ainda não era sequer meio dia, tinha um longo dia pela frente, decisões que cabiam a ela, e isso envolvia uma guerra em curso, coisas que não poderiam esperar.

A reunião fora produtiva, as pendências foram decididas, a quantidade de grãos determinada e seu envio programado, a patrulha nas estradas, agora que tantos plebeus marchavam em direção a costa, havia sido dobrada, o armamento bélico que fora possível restaurar, estava com seu trabalho quase finalizado, e soubera da nova notícia que se espalhava pelos reinos, a Rainha Crisélia se recuperara por completo, e agora já se sentava novamente no trono de Montemor.

- Alguns dizem que Rodolfo se recusou a devolver-lhe a coroa, mas agora tudo já está em ordem, ela logo irá colocar Montemor de novo nos eixos. – comentou Demétrio, com um breve sorriso.

- Fico feliz pela rainha, é uma grande mulher e uma grande monarca, os deuses foram bons! – respondeu Catarina, sorrindo pela primeira vez desde que a reunião começara, ela sinceramente estava contente pela recuperação da idosa senhora.

- Deve ser por isso que o Comandante Afonso foi embora. – disse Gael, antes que conseguisse se conter.

Um breve silêncio, a ausência de Afonso era tratada por todos como algo a não ser mencionado, não pelo menos nas reuniões oficiais, grande parte deles sabiam que não se faltava a um juramento da Guarda Real, mesmo que se tratasse do antigo reino de Afonso, vários viam isso como traição.

- Quero dizer, a avó dele está melhor...ele deve, não sei, querer vê-la não é... – começou Gael, meio constrangido com a forma que todos o encararam, acusatórios.

- O motivo da ausência de Afonso é irrelevante. – interrompeu Catarina. – E ele não é mais seu Comandante, Gael, ele perdeu esse posto ao partir para Montemor.

- Claro, eu sei, perdão Majestade. – desculpou-se Gael, abaixando a cabeça.

- Vocês agora possuem um grande líder como seu Comandante, Constantino, Touro de Ferro, o Invencível, Rei e Soberano de Artena. – disse Orfeu, um alto oficial de Vicenza e braço direito de Constantino.

O peito de Constantino inflou ao ser anunciado com tanta veemência daquela forma, com a cabeça erguida ele encarou os demais, mas tudo o que Catarina desejava no momento era rir, saber que ele se auto proclamava "o Invencível", esse era um título, talvez, exagerado, mas o que trouxe um genuíno riso aos seus lábios foi a nomenclatura de "Touro de Ferro", ela lembrou, a visão dos chifres lhe caía bem.

- Bom, a questão principal aqui não é Montemor ou as nomenclaturas de nosso Comandante, mas sim algo muito mais urgente, a Tríplice Aliança, penso que agora já foi confirmada. – afirmou Catarina. – Fausto foi visto movimentando suas tropas, não sei que tipo de acordo Otávio conseguiu, mas Chaelle do Norte, ao que tudo indica, se uniu a ele e Bóris.