Capítulo XXV

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MONTANHAS DE BRAVIA



Catarina sempre escutara quando criança que era na floresta das Montanhas de Bravia que viviam as bruxas da Cália, onde elas se reuniam em segredo, ocultas do resto das pessoas e das fogueiras que as perseguiam, mas agora, cavalgando pela trilha que cortava aquelas montanhas, parecia ser uma floresta como outra qualquer, nenhum traço de bruxaria ou outra arte oculta, apenas uma quietude esmagadora e uma trilha sinuosa pouco usada e em péssimo estado de conservação.

- Eu não gosto dessas montanhas, tudo é muito igual entre essas árvores, parece que andamos em círculos. – comentou Delano, apreensivo.

- O forte e corajoso Delano está com medo? – perguntou Gael, rindo. – São apenas árvores e folhas, o pior que podemos encontrar por aqui são lobos, e desses nós damos conta.

- Não estou com medo. – afirmou Delano. – Apenas não quero que corramos o risco de nos perdermos nessas trilhas, é bom ficarmos atentos.

O pequeno grupo que partira junto com Catarina fora composto de cinco pessoas contando com ela, na frente do grupo se encontrava Afonso, liderando os homens, logo atrás vinha Catarina, e atrás dela, lado a lado, Delano e Gael protegiam sua retaguarda, e por fim, no final da minúscula comitiva, cavalgava Silas, o capitão que perdera boa parte de sua Infantaria.

Eles cavalgavam devagar naquela estrada, mas mantinham um ritmo estável. Catarina havia decidido viajar sem uma carruagem, assim eles viajariam mais rápido, e poderiam, como faziam agora, optar por estradas mais estreitas e pouco usadas, com as guerras que assolavam a Cália no momento, era bom se afastar das estradas oficiais, apenas por precaução.

- Dizem que há bruxas nessas montanhas, e que elas amaldiçoam aquelas que cruzam seu caminho. – disse Silas. – Mas, eu particularmente sempre quis conhecer uma bruxa.

- Eu pensei que elas viviam na Floresta de Artena, era o que minha mãe me dizia. – comentou Delano, olhando ao redor.

- Vai ver elas habitam essa floresta e a de Artena, e todas as outras também. – interveio Gael. – Vai ver as bruxas estão em todas as florestas ao mesmo tempo.

Os homens vez ou outra faziam comentários a respeito da floresta e seus mistérios, era um modo de fazer passar o tempo, e de distraí-los também, Catarina se irritava com aquela conversa fiada, mas mantinha-se quieta, os soldados tinham, juntamente com ela, passado por maus bocados, perderam amigos, era melhor que aliviassem a mente, algo que Catarina não conseguia fazer.

Ela avaliava e reavaliava tudo várias vezes, repassando os acontecimentos que a levaram a estar ali, nas trilhas das Montanhas de Bravia, seguindo rumo a Alfambres, em segredo e perdendo uma guerra que arruinaria seu reino. A esperança dela estava depositada em uma possível aliança com o Rei Heitor, ou, se fosse o caso, com o Duque Constantino, o que fosse preciso para vencer, ela teria a cabeça de Otávio presa em uma estaca, não importasse o preço que fosse necessário pagar, ela o faria, não perderia o reino que acabara de ser seu, não deixaria de vingar seu pai.

Catarina observava Afonso mais a frente, ele mantinha-se ereto e sempre com o olhar fixo na estrada, poucas vezes havia se virado para encará-la, apenas para averiguar se tudo corria bem, para perguntar como ela estava e se precisava de uma parada para descanso. Catarina recusava-se a mostrar-se fraca, e durante toda a trilha nas montanhas não tinha permitido que eles parassem a marcha, mas agora a dor em sua perna estava insuportável, o ferimento queimava e a cada movimento da cela ondas de fogo subiam por sua coxa, fazendo-a quase curvar-se de dor.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora