Capítulo XVIII

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REINO DE ARTENA



Sangue. Isso foi a primeira coisa que Catarina havia notado ao entrar no quarto, um cheiro de sangue e pus parecia impregnado no ar, ela quase podia sentir o gosto do ferro em sua boca. Deitado na cama, com a respiração fraca e ainda inconsciente se encontrava seu pai, Augusto, o Rei de Artena. Ele suava, uma leve transpiração escorrendo por sua testa e molhando seus cabelos brancos, a marca de sua idade e longo reinado. Ela se surpreendeu ao constatar como ele estava pálido, podia ver as veias se projetando por seu braço e pescoço, seu peito subia e descia lentamente, por vezes em movimentos irregulares, fazendo parecer que estava cansado, ou doente.

Sentada ao lado da cama, ela segurava a mão do pai, que devido a febre estava quente nas suas, e ali, quieta e imóvel, ela o observava, enquanto silenciosas lágrimas escorriam por seu rosto.

Eu não deveria ter permitido que você fosse, pensou. Ela tinha sentido, sabia que era uma péssima ideia, o pai já não tinha idade para travar batalhas, deveria ter lidado da mesma forma que havia lidado com o ataque das tribos, liderando de longe, mas ele insistira em liderar seus homens em campo, se recusando a escutá-la e se mantendo firme a ideia de enfrentar Otávio pessoalmente, e agora essa teimosia estava cobrando seu preço.

Quando desceram seu pai da carruagem, ela o viu ser carregado na maca para dentro do Castelo, na lateral direita do corpo um grande ferimento havia feito sua roupa se encharcar de sangue. Catarina sentiu o chão desaparecer, o mundo girava ao se redor, de repente era como se suas pernas não tivessem forças para suportar seu peso, ela fraquejou, e não fosse o braço de Afonso para ampará-la, não sabia se teria forças para chegar sequer até o quarto.

O capitão da Quarta Infantaria, Silas, havia lhe contado o que acontecera, como a tropa de Otávio era maior do que eles esperavam, havendo três soldados da Lastrilha para cada Arteniano, e Otávio havia instalado seus arqueiros no topo das árvores, tornando-os invisíveis e letais, eles não tiveram a menor chance.

"O Rei Augusto tinha um escudo de cavaleiros que o protegiam" havia contado Silas, "Um por um eles foram caindo, e então o próprio Rei Otávio se aproximou a cavalo, e duelou com vosso pai, mas ele era mais forte e mais rápido, bem mais rápido, Aquino já estava morto a essa altura, eu tentei me aproximar, mas então era tarde, existem algumas partes do corpo que a armadura não protege, e a lateral do corpo é um ponto vulnerável princesa, vi o Rei ser atingido pela espada do rei da Lastrilha, e quando ele caiu no chão eu vi que fora profundo, que era grave, então ordenei uma retirada", explicou o jovem.

O médico do Castelo, Fidélio, fora chamado e imediatamente prestara os cuidados necessários, quando saiu do quarto carregava uma expressão séria, a respiração pesada de quem buscava coragem, a tristeza em seus olhos dissera o que não conseguiu dizer com palavras. Augusto de Lurton estava morrendo.

O médico tentara explicar para ela da forma mais simples e breve possível, e com um grande pesar na voz disse que o golpe havia sido profundo, que atingira áreas que não podiam ser reparadas, ele limpara o ferimento e colocara um emplastro de ervas que ajudariam a conter a hemorragia, mas não por muito tempo, por fim disse que tudo o que eles podiam fazer era diminuir sua dor e esperar.

Catarina gritou, xingou e em um acesso de raiva tentara até agredir o pobre homem, porém foi contida por Afonso e Demétrio, que insistiram para que ela fosse fazer companhia ao pai em seus momentos finais, precisava se despedir, precisava confortá-lo, então ali estava ela, sentada ao lado dele enquanto sentia um buraco se abrir em seu peito, um vazio que aumentava de proporções e parecia que nada jamais iria preencher.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora