Capítulo VI

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REINO DE ARTENA



Catarina estava em seu quarto, e como tinha feito com frequência nos últimos dois dias, estava pensando, avaliando e repensando novamente. Tudo acontecera depressa demais, primeiro Afonso reapareceu, renascido das cinzas, e então depois, de uma hora para outra, ele decidiu abdicar do trono, deixando o irmão no lugar para assumir o posto de herdeiro e futuro rei. Todos ficaram surpresos com a decisão do príncipe, era um acontecimento extremamente raro, um herdeiro abdicar de seu direito ao trono, ocorrera poucas vezes na história da Cália, e jamais por um motivo tão trivial. Ele abdicara por amor, amor a uma plebeia, ela não conseguia entender.

Ao lhe dar a notícia, seu pai tinha sido cauteloso, talvez por esperar uma reação de ira, revolta, ou mesmo desespero, e a princípio Catarina tinha se sentido ofendida, afinal Afonso a estava rejeitando, mas depois tudo que sentiu foi alívio, um grande e imenso alívio. Se Afonso era capaz de abdicar do próprio reino em prol de uma paixão, realmente ele não era o marido ideal para ela, um homem com um pensamento tão limitado e ignorante, realmente servia para ser o marido de uma camponesa, não de uma rainha.

Já seu pai, por outro lado, se sentiu ofendido como era de se esperar, mas ao mesmo tempo admirou Afonso por desistir de tudo para viver seu amor. E ao ouvi-lo declarar tamanha admiração pela atitude de Afonso, ela reavaliou bem, e olhando apenas por esse lado, Catarina também admirava essa atitude, alguém que luta pela pessoa que ama com tudo que possui, era de fato um gesto muito bonito, mas era bonito apenas nas canções e nos contos, pois ali, na Cália, essa atitude era vista como a de um homem ingênuo e fraco.

Naquela mesma manhã recebera uma carta de Beatriz, a notícia já havia se espalhado, agora todo o reino sabia, e pelo que Beatriz lhe informara, as opiniões eram divididas, alguns pareciam achar a decisão mais irresponsável e idiota que um príncipe poderia tomar, e a rainha Helena partilhava dessa opinião, já outros afirmavam ser um belo gesto de amor, em sua maioria as jovens do reino tinham essa opinião, mas em um ponto todos concordavam, essa decisão acarretaria consequências, se seriam boas ou ruins apenas o tempo diria. Beatriz também se mostrou solidária, perguntando como Catarina se sentia com tudo aquilo e nas entrelinhas insinuou que odiaria Afonso juntamente com ela se fosse necessário. Por fim, ela disse estar vivendo um romance secreto com um dos soldados reais, um que estava cotado para ser o Chefe da Guarda, Catarina sabia do interesse mútuo entre os dois, era nítido para quem prestasse a devida atenção, mas ela tinha certos receios quanto a esse relacionamento, Beatriz era dada a romantizar tudo e muitas vezes parecia achar que vivia em uma das canções de amor que tanto adorava, sem Catarina lá para aconselhá-la, as coisas poderiam se complicar. Catarina tinha certeza que se não fosse ela a princesa que Afonso rejeitara, a amiga exaltaria essa atitude como um ato do mais puro amor. Neste aspecto elas sempre divergiram, nesse aspecto ela considerava Beatriz um tanto tola e ingênua.

Escutou uma batida na porta, e então seu pai entrou, os passos pesados ecoando pelo aposento.

- Catarina, minha filha, como você está? – perguntou com extrema amabilidade, como tinha feito nos últimos dois dias.

- Eu estou perfeitamente bem meu pai. – respondeu ela.

Desde que chegara a notícia da abdicação de Afonso e do rompimento do compromisso de matrimônio, seu pai parecia pensar que ela era uma flor delicada, como se ela estivesse desconsolada por ter sido rejeitada e a mera menção ao assunto fosse despedaçá-la.

- Tem ficado tempo demais nesse quarto ultimamente, precisa tomar um pouco de ar.

- Eu precisava de um tempo para pensar, para refletir. Aconteceu tanta coisa em tão pouco tempo. – respondeu ela.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora