Capítulo XXVI

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CONDADO DE BRAVIA



- Não, eu juro, era um dragão, com as escamas, cauda e tudo mais. – comentou em voz alta o homem na mesa ao lado, baixo e de ombros largos, forte como um minerador, enquanto falava gesticulava enfaticamente com a mão livre, enquanto com a outra entornava mais uma caneca de cerveja.

- Um dragão? Um dragão nas Colinas de Talese? – perguntou o homem ao lado, de nome Grilo, ou poderia ser apelido, pelo que Catarina escutara. Ele ria. – Vai me dizer que viu também fadas e lobisomens por lá?

- Eu estou dizendo, eu vi o bicho. – enfatizou o outro, com porte de mineiro.

- Viu ele soltar fogo também? Voar?

- Bom, não.

- Ele era bem grande? Com dentes afiados? – perguntou Grilo, visivelmente descrente.

- Na verdade não, eu o vi de longe, meio que a sombra dele, era até que grande.

- Você estava era muito bêbado Bartô, isso sim! – ressaltou o homem magro e de cabelos ralos, Grilo, e ambos riram.

Esse era o tipo e o nível das conversas que circundavam aquele salão de jantar da estalagem "Girassol de Ouro". Em sua maioria, ou estavam falando sobre batalhas e guerras, grãos e plantio, ou alguma besteira qualquer. Catarina se irritava profundamente com conversas de plebeus, pois sobre assuntos políticos eles falavam sem entender realmente, apenas opiniões rasas e infundadas, conversas sobre plantio e colheita eram extremamente entediantes, e essas tolices como dragões e lendas populares eram total e completamente sem sentido.

Eu preciso sair desse lugar, pensou.

Assim que tinham chego, ao subirem as escadas e serem levados ao quarto a eles destinado, Catarina entrou, o corpo gelado do banho de chuva que tinha tomado, assim como estava Afonso. Porém, ele nem se deu o trabalho de olhar ao redor, saiu logo atrás do homem, dizendo que iria conversar com os soldados no celeiro, e para a proteção dela trancaria o quarto. Na verdade, ele mal a tinha olhado nos olhos.

Sem mais o que fazer, Catarina vestiu roupas secas, e lá aguardou, Afonso retornou um tempo depois, já tendo trocado de roupa, provavelmente no mesmo celeiro, e a informou que deveriam descer para jantar, precisariam dormir cedo para guardar as energias para o outro dia que viria, ainda havia uma boa estrada a se percorrer.

Sentados à mesa estavam Catarina e Afonso, como os alegados Visconde e Viscondessa, atrás deles estavam os homens, Delano, Gael e Silas, e nas mesas ao redor, todo o tipo de gente da Cália, em sua maioria comerciantes, mas havia também artesãos, mineradores, e até soldados de outros reinos, provavelmente em viagem.

- Eu contei pelo menos vinte soldados de Castelotes, devem ter um acampamento próximo. – comentou Afonso, apontando discretamente para algo atrás de Catarina. Ela se virou rapidamente para olhar.

Um grupo de homens, todos de cota de malha, no peito o símbolo de Castelotes, a capa azul demonstrando se tratarem de uma tropa da Guarda Real. Eles estavam sentados próximos uns dos outros, riam, bebiam e conversavam, vários tinham como companhia uma prostituta, elas em sua maioria, sentadas no colo de seus protetores, e riam também.

- A Senciera tinha um Exército instalado próximo a Teravila, pelo que eu soube, penso que pode haver um grande confronto nos próximos dias. – disse Catarina. – Temos que chegar logo a Alfambres, antes que Heitor cogite enviar mais tropas, ou então qualquer acordo seria ineficaz.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora