Capítulo XXXIX

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REINO DE ARTENA - DESCAMPADO DOS RIOS



Um vento varria a campina, uivando entre os soldados. O inimigo ainda se encontrava imóvel do outro lado, as fileiras de Andnar e da Lastrilha perfeitamente alinhadas, e um silêncio inquietante se manteve por algum tempo. Otávio, então, cavalgou à frente, e Afonso o viu gesticular, ele dizia algo a seus homens. Aqueles soldados morreriam pelo reino e pelo rei, era necessário um discurso para incutir neles toda a coragem necessária.

Ali, próximo a ele, Catarina cavalgou para a frente, e virando-se encarou os homens, lentamente movendo a cabeça, observando calmamente todo o poderio militar ali reunido, enquanto o vento balançava seus cabelos. O tempo, por um pequeno instante, pareceu parar, Afonso apenas a encarou, olhava aqueles olhos negros, admirou toda a determinação e firmeza que ela ostentava, ela o olhou de volta, por alguns segundos seus olhares se encontraram, e então ela começou a falar:

- Filhos de Artena! Guerreiros de Montemor! Soldados de Vicenza! Eu me dirijo a vocês. – exclamou ela, a voz ecoava entre as fileiras, grave e poderosa. – Hoje vocês são todos irmãos em armas, estão todos do mesmo lado, para lutar e defender este belo e vasto reino. Ouçam! O inimigo também possui um vasto exército, possui homens corajosos, e esses homens desejam tirar as vidas e a liberdade de todo um povo, o meu povo, o nosso povo, pois hoje, somos todos um. Uma única força! Um único exército! Eles esperam encontrar soldados assustados, querem encontrar medo e covardia, mas não é isso o que eu vejo em vocês! Não é isso o que vocês são! Não, eles irão ver homens livres, eles irão ver coragem e liberdade! O que o inimigo irá ver será o nosso grito ecoando por essa campina. Eles ouvirão o som das nossas espadas, e eles saberão do que somos capazes! Pelo aço das espadas e lanças, maças e escudos, e pela coragem dos nossos corações, hoje a vitória será nossa, hoje, Artena irá se erguer sobre o inimigo. Meus senhores! Todos! Filhos de Artena! Ergam os brasões! Ergam suas espadas!

Escutar isso fez o peito de Afonso inflar, se aquecer, ele olhava o inimigo do outro lado certo de que aqueles homens seriam derrotados, certo de que essa era a última batalha, a batalha final, a batalha na qual Artena derrotaria a Lastrilha. Afonso sorriu, eufórico, e levantou sua espada acima de sua cabeça, um grito de excitação escapando-lhe dos lábios, assim como de muitos soldados ao seu redor. Inúmeras espadas eram agora erguidas, brandidas ao ar, a vibração de todo o exército agora era palpável.

Afonso se dirigiu para a frente, e olhou Catarina, nos olhos dela viu a certeza, ela o encarou, e ele percebeu que ela esperava algo dele também.

- Ergam-se! Ergam-se homens de Montemor! – gritou Afonso, agora cavalgando na frente das fileiras, queria que todos escutassem, queria olhar nos olhos do máximo de soldados. Ali, na frente de seus homens viu Cássio e Selena, e ambos carregavam um olhar firme, os rostos pesados e sérios que antecediam uma batalha. – Ergam-se homens de Vicenza! Ergam-se filhos de Artena! Lanças devem ser destruídas, escudos devem ser quebrados, um dia de espadas, um dia de sangue e de vitória!

O barulho agora vibrava o solo, os pés dos soldados batiam no chão verde da campina em um ritmo alto e vibrante, o som das espadas agora era ouvido enquanto eles batiam com elas em seus escudos, o som da guerra, o som do confronto, o som de guerreiros prontos para a batalha.

- Fileiras prontas! – gritou agora Demétrio, avançando ao lado de Catarina. Afonso cavalgou e se aproximou deles. – Lanceiros à frente! Cavalaria à frente! Arqueiros atrás!

- Meus irmãos de espada! – exclamou Afonso, a voz alta sobrepondo-se a balbúrdia. – Ali, do outro lado, se encontra a nossa vitória. - ele apontou o outro lado do campo com a espada erguida. - Ali se encontra a grandeza que vocês buscam! Então, para a frente, não temam! Pela Rainha! Por Catarina de Lurton!

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora