Capítulo X

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REINO DE ARTENA



- Não deve ser nada sério, não se preocupe. – repetiu Afonso mais uma vez, tentando acalmar a esposa.

- Uma convocação real é sim algo preocupante meu amor. – afirmou Amália, apreensiva. – Qual o motivo para o Rei Augusto querer te ver?

- Por vários motivos, imagino que pode ser algo relacionado a Montemor. Eu posso ser um ferreiro agora, mas de uma forma ou de outra ainda possuo uma ligação com meu antigo reino. – explicou ele. Ao mencionar o reino onde nascera, o semblante de Amália se tornou sério, como acontecia quando seu passado como príncipe era levantado. – Deve ser apenas alguma notificação, um simples aviso.

- Se fosse esse o motivo ele poderia ter enviado uma carta, não precisaria convocá-lo. – disse ela.

- Ele pode apenas querer me avisar pessoalmente. – reafirmou ele. – De qualquer forma, é uma convocação real, eu preciso ir.

- Ele é o Rei, não sei porque se daria ao trabalho de lhe dar alguma notícia pessoalmente. Pode ser algo ruim. – comentou ela.

Afonso preferiu não responder, nenhuma explicação era suficiente e nenhum motivo parecia satisfazer Amália. Ele entendia o medo dela, para quem nascera e vivera a vida toda como um plebeu, receber uma convocação real era motivo de grande alarde, pois ou a pessoa era extremamente afortunada e o próprio rei tinha motivos para querer conversar com ela, fosse por um feito ou grande talento que possuísse, ou então essa pessoa cometera um ato terrível ou fora acusada de algo, e quando era isso as consequências poderiam ser terríveis.

Amália o encarava enquanto ele terminava de se arrumar e vestir a capa, ainda apreensiva e resoluta. Ela era assim, desconfiada dos nobres e suas intenções, e teimosa como poucas pessoas que conhecera, mas ele admitia que isso era parte do charme que o encantara quando se conheceram, ela parecia vê-lo além da fachada de um príncipe, o conheceu como um moribundo, e sem saber quem era ou o que tinha feito anteriormente em sua vida, permitiu que entrasse em seu coração. Com ela ele sentia que tudo era mais simples.

Finalmente ela descruzou os braços, então foi até a cozinha murmurando consigo mesma, ainda reprovando veementemente sua atitude de ir sozinho até o castelo. Aos olhos dela, se ele fosse acompanhado, as chances do rei lhe fazer alguma coisa, como mandar para a masmorra por exemplo, eram menores. Mas ele tinha que ir sozinho, o nome que constava na convocação era o dele e de mais ninguém, além do mais, a mãe de Amália, Constância, estava na feira vendendo os caldos na barraca na feira, e o pai dela e seu irmão, Thiago, vendendo as moringas, a única disposta a ir com ele era Amália, e ele não podia levá-la. Ele não podia levar sua esposa ao Castelo Real, não ela, a responsável pelo rompimento do compromisso de casamento, ele sequer conseguia imaginar qual seria a reação de Catarina ao conhecê-la.

Provavelmente se manteria distante, altiva, mas ainda assim seria cortês, pensou. Ela era uma princesa, sabia manter a compostura não importasse o quanto embaraçoso fosse a situação. Talvez soasse um pouco arrogante, com um leve tom sardônico em suas palavras, mas mesmo assim manteria a postura da realeza, Catarina mais do que ninguém saberia exatamente como agir e o que dizer, não era com ela que estava preocupado. Afonso sabia bem o peso da quebra de um compromisso daqueles, levar Amália com ele seria desrespeitoso, e ele jamais faria algo assim, fosse com Catarina ou com o Rei Augusto.

Ele se lembrou da última vez que vira Catarina, o ataque na estrada, a conversa durante a viagem, a despedida rápida, e quando ele olhou para trás ainda pode ter um vislumbre dela pela janela, se afastando, mas ela não olhou de volta. Ela o tinha visto na multidão em frente à Catedral, ao vê-la ele se lembrava de como estava bonita, e então ela o encarou, daquela maneira firme e intensa que sabia tão bem, sem hesitação e sem desviar o olhar, e mesmo de longe ele percebeu que ela o tinha reconhecido, mesmo sob o capuz ela o tinha reconhecido.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora