REINO DE MONTEMOR
Era uma noite sem lua, o céu, nublado e sem estrelas, pouco auxiliava na visão, a escuridão há muito havia tomado os campos de Montemor. No Bosque dos Lobos, próximo as Colinas de Cumbres, as ruínas da Torre Vermelha se erguiam solitárias, seus tijolos de barro avermelhado elevando-se alto acima das árvores, videiras tomavam grande parte das paredes, escadas e até do chão, resultado das centenas de anos isolada do mundo, um monumento agora incompleto, uma construção esquecida. Ali, entre aquelas paredes quebradas, encontravam-se muitos homens, algumas mulheres, sendo os homens, em sua maioria soldados, mas haviam também camponeses, artesãos, mineradores e até alguns comerciantes. No meio deles, estava o antigo príncipe, Afonso de Monferrato.
Já fazia três dias que Afonso retornara ao seu reino, escondido, a identidade preservada, e ali, naquelas ruínas, ele permanecera. Nesses três dias, Cássio e a jovem, Selena, haviam reunido praticamente todos os apoiadores da rainha Crisélia, todo aqueles que desejavam que o trono retornasse a quem pertencia por direito, aqueles que se levantariam contra Rodolfo.
Para a surpresa de Afonso, dentre eles encontrava-se o Comandante do Exército de Montemor, Romero, o homem da mais alta confiança de sua avó, e o filho dele, Ulisses, e também grande parte dos capitães e altos oficiais. A desaprovação ao reinado de Rodolfo era grande, e pelo que ele sabia, não apenas entre os soldados, mas entre o povo também, que já tentara mais de um levante.
Seja com a fome, seja com a guerra, são os mais pobres que sofrem, pensou ele.
A guerra também trazia esse tipo de sofrimento, o medo e o desespero das batalhas vinham também, não era à toa que grande parte dos aldeões de Artena partiam em direção à costa e ao Porto das Gaivotas, todos com medo de permanecer em meio a uma batalha, onde a morte acompanhava os soldados.
Três dias. Ele partira de Artena fazia três dias, deixara seu posto, deixara Catarina. Afonso se recriminava fortemente por isso, saber que a deixara em um momento tão delicado para ela, em meio a uma guerra, ela confiava nele, e Afonso quebrara essa confiança quando partiu, quando a abandonou. Ele não pensou no momento, partiu na aflição de libertar a avó, mas depois, quando tudo se acalmara e ele estava instalado ali naquela Torre, ele pensou que deveria ter enviado um emissário, enviado uma carta ou algo assim, Catarina merecia uma explicação, merecia uma justificativa por seu desaparecimento repentino. Ele havia expressado esse desejo, mas Cássio o alertara que o melhor era que nem ela nem ninguém soubessem o motivo de sua partida, quando tudo estivesse resolvido ele poderia retornar, e melhor, voltaria como o herdeiro, e junto com ele traria o apoio de Montemor.
Catarina. A última vez que a tinha visto havia sido na noite do casamento da rainha, lembranças dela dançando com o marido, Constantino a beijando, então se aproximaram de Afonso e Amália, o olhar de Catarina enquanto o encarava, preocupada com seu estado, era só o que se lembrava, a visão do olhar dela sobre ele. Estava bêbado demais para se lembrar da conversa ou do que haviam dito, então era a imagem dos olhos dela que ficaram em sua mente, aqueles belos olhos negros, intensos e brilhantes, que insistiam em tomar sua visão a todo momento.
Ele tinha que se concentrar, afinal, havia um plano em andamento. Durante esses três dias, Afonso, Cássio, Selena e Romero haviam formulado um plano, juntamente com eles haviam muitos soldados, porém a proteção do castelo ainda era eficiente, um ataque frontal não era aconselhável, desta forma Afonso sugerira uma manobra que ele usava muito quando jovem, quando era um adolescente que gostava de se aventurar sozinho, ele sugerira utilizarem os túneis subterrâneos. Abaixo do Castelo Real de Montemor havia uma rede de túneis, atualmente não era utilizada, era apenas uma medida de segurança, para ser usada por reis e herdeiros em caso de guerra ou um ataque inimigo, uma rota de fuga, e agora, seria de grande ajuda na derrocada de Rodolfo, Afonso jamais pensara que usaria das defesas do castelo para lutar contra o próprio irmão.
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A Grande Rainha - Contos da Cália
FanfictionExistem aqueles que nasceram para ser reis, que nasceram para ter seu nome escrito na eternidade e que mais do que tudo desejam a grandeza, e assim era Catarina de Lurton, princesa do reino de Artena. Prometida desde criança ao príncipe Afonso do re...