Capítulo XXII

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REINO DE ARTENA – VALE DE LETANA



Catarina estava cavalgando desde o dia anterior, e agora, passadas tantas horas, podia sentir a dormência em suas pernas e a dor subindo por sua coluna, não estava acostumada a cavalgar por tantas horas, uma marcha não era como cavalgar pelo bosque ou no pomar do Castelo, era cansativa, extensa e eternamente sondada pela tensão que os abatia conforme se aproximavam do Castelo de Castis.

Após os primeiros dias de marcha ela se cansara de permanecer na carruagem, queria olhar o Vale ao redor, e principalmente, saber ao certo o ponto onde estavam instaladas a substância explosiva, nas altas colunas de rochas e mais rochas que circundavam a Passagem da Neblina.

Faltavam poucas horas agora, enfim chegaria ao Castelo, e então seria a hora de seu encontro com Otávio. O ódio e a ira cresciam nela a medida que se aproximava, ela remoía a morte do pai, atingido pela espada daquele crápula, e também a lembrança do horror que havia visto na Aldeia do Vale, isso fazia com que seu ódio por ele crescesse exponencialmente.

Antes que ela e sua tropa chegassem a aldeia, Catarina sabia o que encontraria, o cheiro da morte e da decomposição podiam ser sentidos a mais de 3 milhas de distância, mas nada a havia preparado para o que ela vira lá. Ao entrarem na aldeia os soldados imediatamente tamparam as narinas com suas vestes, todos enojados, e ao mesmo tempo espantados com tamanha carnificina.

Os corpos estavam espalhados por toda a extensão do vilarejo, caídos nas praças, dentro das casas, próximos a fonte, alguns dos feirantes caíram sob suas frutas e verduras e lá ficaram. O sangue há muito já coagulara, os corpos já se encontravam em avançado estado de decomposição. Urubus e corvos circundavam toda a área, embora já tivessem feito boa parte do serviço, e foram espantados pelos soldados. Várias casas haviam sido incendiadas, e dentro dessas encontravam-se os corpos incinerados de seus moradores, corpos tostados, sem rosto, endurecidos. Homens, mulheres, crianças, até bebês, todos mortos. Otávio não poupara ninguém.

Catarina fez a marcha parar, e ordenara que os soldados enterrassem todos os corpos, aquelas almas precisavam descansar. Eles haviam perdido um dia inteiro naquela aldeia, levou todo o dia e parte da noite todo o procedimento de cavar as sepulturas e enterrar os corpos, mas aqueles eram cidadãos de Artena, e apenas devidamente debaixo da terra, como é pedido pelos deuses, eles poderiam encontrar paz, mesmo após sofrerem mortes tão violentas.

Todas aquelas pessoas, todas aquelas mortes, eles eram plebeus, mas eram o povo dela, e matá-los daquela forma havia sido cruel, e também era uma afronta a ela e seu reinado. Otávio não precisava ter atacado aquela aldeia, ela ficava a muitas horas de distância do Castelo de Castis, eles não representavam ameaça alguma, ele fizera aquilo única a exclusivamente para atingi-la, havia massacrado aqueles camponeses um dia após ela ser coroada, era uma mensagem, um aviso, ele estava disposto a tudo, mataria quem estivesse em seu caminho, não tinha qualquer receio ou temor, e ela deveria ficar preparada.

Bom, ela estava.

- Majestade, ali, no alto daquelas rochas. – comentou Silas, apontando para o lado direito, bem no alto da parede de pedras tão alta que fazia até o sol se esconder. – Vê as árvores esparsas lá em cima, próximo a elas tem algumas cavernas pequenas, instalamos dentro um grande barril de pólvora, e fizemos um caminho por toda a extensão da montanha, com pontos de grande concentração da substância. A chuva de pedras que virá é certa.

O jovem Capitão a encarou, a pele morena se destacava no uniforme cinza das Infantarias, os cabelos de um preto luzidio e brilhoso estavam presos em um pequeno rabo de cavalo, e a capa preta de sua posição esvoaçava no ar enquanto ele cavalgava ao seu lado. Forte e com ombros largos, ela o considerava atraente, embora jamais demonstrasse isso. Mesmo nascendo no seio da nobreza, Silas não estava aos pés de uma princesa ou rainha. Ele era o filho mais jovem do Visconde de Lisandria, Raul de Albarca, com sua segunda esposa, um rapaz que pouco herdaria do pai, mas que tinha uma grande sede de provar seu valor.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora