Capítulo XXX

982 65 22
                                    

REINO DE ARTENA – ESTRADA DO RIO



Os homens marchavam em um ritmo constante e preciso, os sons dos passos firmes dos soldados misturavam-se ao som dos cascos da cavalaria, e aquele som era mais harmonioso aos ouvidos de Afonso do que mil bardos afinados. A cada passo, a cada curva da estrada percorrida, eles estavam mais próximos do confronto, e por mais apreensivo que estivesse, Afonso desejava o ardor da batalha, nunca gostara de matar propriamente, tampouco gostava de ver os corpos no chão quando tudo estava acabado, mas a aura que o confronto proporcionava era única. A ansiedade, a adrenalina, a força dos combatentes, o suor, o som de aço encontrando aço, nessas horas ele estava vivo, podia sentir cada mínima parte do seu corpo vibrar com a energia da batalha.

Isso provavelmente era uma das poucas coisas que imaginava ter em comum com Constantino, era visível que o homem gostava da ansiedade do confronto, parecia o tipo de homem que estava sempre procurando alguma guerra para trabalhar sua espada.

Afonso e o Duque pouco conversaram após a divisão das tropas, quando Catarina seguiu rumo ao Castelo enquanto eles se dirigiram a região do conflito. Ele havia visto que Catarina conversara algo com o noivo, antes de finalmente partir, uma conversa privada, íntima. Quando ela encarou Afonso ele esperou que lhe dissesse algo, que talvez tivesse palavras apenas para ele também, mas ela deu-lhe um breve aceno antes de entrar novamente na carruagem e fechar a porta, janelas fechadas, não olhou para trás.

Pensar em Catarina ainda lhe doía o peito, ele descobrira que estava mais envolvido do que imaginara, sem perceber, sem se dar conta, fora envolvido por esse sentimento, aquilo o tomara completamente, preenchera seus pensamentos com medos, anseios, desejos que ele jamais imaginou sentir. Porém, ele se dera conta, realmente, quando já era tarde, muito tarde, ele havia perdido ela, Catarina, a mulher que estava destinada a ser sua esposa, agora se casaria com outro, e ele nada podia fazer exceto assistir, quão trágico pode ser o destino, e quão cruel também.

Catarina ordenara que ele se afastasse, para a segurança dela, dele e do reino, e ele assim faria, Afonso iria cumprir o que prometera, e manteria uma distância entre eles, uma distância formal, mesmo que cada momento longe dela fosse extremamente doloroso.

Amália também voltava aos seus pensamentos, ela que era sua esposa, e era para ela que devia direcionar esses pensamentos, a família que tinha com ela era a única família que teria, esse era seu destino, o que ele escolhera afinal, e Amália merecia mais do que ele poderia oferecer, ele sabia disso, mas sentia-se preso nessa confusão, e sem saber muito bem como proceder, decidira manter as coisas como estavam, e tentaria melhorar seu relacionamento com a esposa, ele fora intensamente apaixonado por ela, a respeitava e admirava, não estava tudo perdido, a paixão poderia reacender, e então, quem sabe, ele conseguisse ser feliz ao lado dela, tinha que tentar pelo menos.

Enquanto cavalgava, Afonso observou a paisagem ao redor, e pensava que ainda tinha muito a explorar em Artena, era um reino extremamente belo, que ele pouco conhecera. A Estrada do Rio, pela qual eles marchavam, era larga e ampla, e cortava toda a região do Descampado da Águaprata, uma área circundada por várias plantações, devido a terra fértil, e onde a água do Rio Biroge era límpida e cristalina, quase prateada, o que deu o nome a região.

Próximo, mais ao sul, Afonso sabia que ficava Lisandria, o grande e pitoresco castelo do Conde Raul de Albarca, e mais a oeste, em uma imensa fortificação, bela entre as águas claras do Rio Biroge, ficava Armori, o castelo do Duque Leopoldo de Ortega, um nobre honrado e influente de Artena, ambos os nobres em questão estiveram na coroação de Catarina, e tinham cedido seus homens para compor o exército, como era de praxe, ambos também tinham filhos servindo o Exército, soldados da Guarda Real, Afonso imaginava se os rapazes sonhavam agora com retornar ao lar onde cresceram, ou se tinham em mente apenas o confronto que se aproximava.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora