Capítulo XI

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REINO DE ARTENA



Catarina estava sentada no Trono Real há tanto tempo que sentia estar se fundindo à madeira, quase se tornando parte daquele tão poderoso e venerado móvel. Suas pernas já estavam dormentes, o resultado de todas aquelas horas ininterruptas em que estava atendendo o povo de Artena na Sala do Trono, da mesma forma que vira o pai fazer inúmeras vezes.

Era um dia sexto, o dia da semana em que as portas do Castelo ficavam abertas a população, e quem desejasse e estivesse disposto a esperar na longa fila, poderia fazer uma petição pessoalmente ao Rei, ou como naquela ocasião, à Princesa, que agora atuava como regente na ausência do pai, um fato notado por todos e se tornando o comentário do dia em todas as vilas e aldeias da região.

Aquele trabalho era mais exaustivo do que ela imaginava que seria, e por vezes se tornava um tanto quanto entediante, Catarina se controlava todo o tempo para não bocejar na frente dos plebeus, afinal ela era a Princesa, tinha que se manter firme, altiva, incansável, e mais do que tudo, atenta aos apelos de seu povo.

Aparentemente, a maioria dos problemas eram triviais, uma briga entre vizinhas, uma alegação de roubo de galinha, uma briga em uma taverna, maridos alegando traições, e também haviam pedidos dos mais variados, uma nova ponte, a reforma de uma igreja, um concurso de dança, pedidos por comida e doações. Um ou outro se mostravam mais sérios, como a acusação que ouvira mais cedo de que um vigarista estava aplicando golpes por todo o reino, alegando ser um coletor de impostos e roubando o dinheiro de inúmeros plebeus, causando um grande alvoroço por onde passava, esse tipo de petição ela tratava com extremo cuidado.

Entretanto, de modo geral, Catarina ouvia a todos com atenção, e tentava remediar a situação, apaziguar os conflitos e oferecer algum auxílio aos que pediam, dentro do possível e do viável, claro, afinal como dizia a Rainha Helena "um monarca que cede a tudo está fadado a ser cobrado por tudo".

Catarina massageou a cabeça, tentando clarear os pensamentos e se manter concentrada. Ela olhou para o lado direito da Sala, onde logo abaixo dos degraus estava prostrado Afonso, rígido e sério como era exigido de alguém em seu cargo. Ele agora era integrante da Guarda Real, e já devidamente uniformizado com as vestes dos soldados de Artena, tinha uma das mãos apoiadas na espada que carregava, o que dava a impressão que ele esperava um ataque a qualquer momento.

As portas se abriram novamente, e um homem entrou, as vestes eram simples, as botas estavam sujas de lama seca e surradas pelo tempo, não portava capa, apenas um manto feito daquele pano rústico usado pelo povo das aldeias do norte, e pelo que ela podia perceber, ele era um camponês.

O homem se aproximou timidamente, era magro, já com muitos fios brancos no alto do vasto cabelo marrom, uma barba mal aparada e visivelmente suja se projetava de seu rosto, devia ter em torno de seus quarenta anos. Ao chegar perto do trono ele se curvou, murmurando de forma quase inaudível "Majestade".

- Qual o seu nome? – perguntou Catarina.

- Josimo, Majestade, me chamo Josimo. – respondeu se curvando novamente.

- Muito bem, Josimo, o que o trouxe aqui hoje? – perguntou ela.

- Bem, são minhas ovelhas Majestade, elas estão sendo mortas.

Outro caso com animais, pensou Catarina, desanimada. Estava farta de todas aquelas conversas sobre ovelhas, galinhas, vacas e cavalos, ou eram roubados, ou fugiam ou eram mortos. Estava grata por aquele ser seu último atendimento do dia, depois as petições estariam encerradas.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora