Capítulo VII

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REINO DE ARTENA



Quando chegou ao Castelo de Artena, Afonso já tinha ensaiado inúmeras vezes o que iria dizer ao rei Augusto, cada palavra respeitosa e a forma como explicaria tudo, com a consciência do peso de sua decisão, ele sabia ser importante se desculpar da forma apropriada. Não tinha grandes preocupações quanto ao rei, pela carta de resposta que ele enviara a sua avó, sabia que ele entenderia. O que o deixava mais apreensivo era o que diria à Catarina, ele a conhecia desde que eram crianças, estavam noivos desde que se lembrava, e ele a rejeitara, toda a Cália sabia, isso somado ao fato de não ver ela desde que tinham dez anos de idade, o deixavam um tanto nervoso.

Porém, para sua surpresa, ela não viera recebê-lo quando chegou, e ao perguntar por ela, após um longo e embaraçoso momento, o rei Augusto respondeu que ela achava aquele encontro desnecessário, e pelo que entendera, do ponto de vista dela o perdão do pai já era o suficiente. Bom, poderia ser suficiente para ela, mas não era para ele, a promessa que fizera a avó pairava em sua mente. As palavras dela ressoavam em seus ouvidos desde que partira de Montemor, com lágrimas nos olhos e o peso dos olhares de todos em suas costas.

Após passar longas horas com o rei, onde lhe contou toda a história, desde o momento em que se viu em uma emboscada, até o momento que decidiu abdicar do trono, percebeu que o rei ainda estava um pouco desapontado com o cancelamento do casamento, mas via que ele apoiava a decisão de Afonso, considerou aquela atitude o que chamou de um "ato de coragem". Escutar isso foi como sentir uma brisa quente de verão no inverno, terno e reconfortante.

No fim, ele insistiu em que tinha que conversar pessoalmente com Catarina, ele tinha que fazer isso, havia sido um pedido especial de sua avó.

"Tudo bem, se foi um pedido especial de Crisélia e já que você faz tanta questão, ela está no jardim, provavelmente dentro do labirinto, por ir até lá encontrá-la, espero que ainda se lembre do caminho" respondeu o rei.

Com a aprovação do rei, Afonso se encaminhou ao jardim, e ao caminhar por aqueles caminhos confusos em meio aquelas belas flores, mil memórias voltaram à sua mente, e um sorriso se formou em seu rosto. Lembrava de três crianças que adoravam brincar entre aquelas sebes, correndo e se escondendo, quase podia escutar suas risadas, naquele tempo em que era tudo tão mais simples, quando tudo parecia quase mágico.

Depois de andar por um bom tempo e ter se perdido algumas vezes ele a encontrou, finalmente chegou ao chafariz que ficava no centro do labirinto, e se ele bem se lembrava, aquele sempre fora o lugar favorito de Catarina. Ela estava de costas, as mãos apoiadas na fonte, compenetrada observando algo naquelas águas cristalinas. Os longos cabelos caíam em ondas por suas costas, o vestido de fino algodão azul balançava ao vento, o tempo pareceu parar por um segundo. Então ele ouviu sua voz, quase um murmúrio que ela sussurrou para si mesma "Eu serei uma grande rainha meu pai, um dia você verá".

- Disso não tenho a menor dúvida. – respondeu ele.

Ela se virou de repente, por um breve momento se mostrou assustada com sua aparição repentina, mas logo recobrou a compostura, e seu rosto assumiu um ar sério, altivo, a postura da realeza. Ele a observou e ela a ele, e realmente os boatos não mentiam, Catarina era mesmo muito bela, alta e esbelta, com os olhos negros intensos e brilhantes, não era de se admirar que tivesse admiradores por toda a Cália.

- Ora ora, vejo que meu pai lhe contou onde eu estava, mesmo eu deixando bem claro para ele que não tinha nenhum interesse em conversar com você Afonso. – disse ela, seu tom era sério, mas não havia rancor em suas palavras, apenas um certo ar de superioridade, de arrogância. Ela o observava intensamente, o avaliando dos pés à cabeça.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora