Capítulo IV

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REINO DE MONTEMOR



- Onde ele está? – perguntou Crisélia, pela décima quarta vez.

- Ele está chegando Majestade. – Petrônio respondeu. – Ele se atrasou por conta de um, um imprevisto na cidade, mas já está a caminho, a qualquer momento estará aqui, garanto.

Impaciente, Crisélia andava pelo salão. Rodolfo como sempre irresponsável, ele sempre fora um menino voluntarioso, imprudente e extremante egocêntrico, mas agora era a tarefa dela deixá-lo apto para assumir o trono.

O tempo do luto se fora, embora em seu coração ela sabia que ele nunca passaria, a perda de seu neto ardia em seu peito, doía ao menor pensamento, e seria assim pelos anos que lhe restassem.

Treze dias haviam se passado desde a cerimônia fúnebre, e agora passado o luto oficial ela enfim iria realizar a cerimônia em que apresentaria Rodolfo como herdeiro, bem como seria a realização do casamento dele com a princesa de Alcaluz. Estava marcada para dali quinze dias, logo os primeiros convidados começariam a aparecer.

A porta se abriu, revelando seu neto, que caminhava afobado até chegar diante do trono. Petrônio aproveitou a brecha para se esgueirar de fininho da sala, deixando Crisélia e o neto a sós.

- Perdão pelo atraso minha avó, eu tive uns contratempos em uma taverna e...bem, isso não importa, estou aqui. – informou Rodolfo.

- Sim, vejo que você está aqui. Atrasado. – respondeu Crisélia. – Um rei deve sempre ser pontual, um rei é diligente, e acima de tudo, um rei sempre honra seus compromissos.


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- Bom, eu não sou o rei ainda. – disse Rodolfo com uma risadinha.

- E não merece ser com esse tipo de comportamento.

- Perdão, você está certa, prometo me empenhar em melhorar meu comportamento.

Lá vinha ele com essa frase pronta novamente, nos últimos dias sempre que ela lhe fazia uma crítica ou reprimenda ele respondia com esse mesmo discurso ensaiado, e agora isso estava começando a irritá-la.

- Tenho uma notícia para você. – ao dizer isso viu o rosto dele se animar um pouco. – O dote de sua noiva acabou de chegar. O tio dela, Heráclito, me enviou uma carta informando que eles devem chegar até o final da semana, e ficarão hospedados conosco até a data da cerimônia.

- Mas que...maravilha. – disse Rodolfo, com desânimo. – Então, todos os cem cavalos chegaram? Todos grandes corcéis de batalha?

- Sim, e pelo que vi são belos garanhões, são muito valiosos e serão de extrema ajuda ao nosso exército. – respondeu Crisélia.

- Imagino que sim. – batendo as mãos em sinal de que estava tudo concluído, ele fez sinal de se dirigir a saída. – Bom, se me der licença cara avó, quero verificar esses animais fabulosos.

- Não tão rápido. – ele parou e a encarou. – Sua noiva. Você não parece muito animado com esse casamento.

- Impressão sua querida avó, eu estou animado, demasiado animado com esse casamento. – ele respondeu, sem sorrir. – Tenho apenas certa apreensão quanto ao fato de não estarmos concretizando a união com Artena.

Crisélia observou atentamente o neto, sabia que o que ele acabara de dizer era algo sensato, algo que ela própria se preocupara após todos aqueles acontecimentos, mas também sabia que Rodolfo em nenhum momento estava pensando em Montemor ou na aliança dos reinos, ele estava pensando era em sua aliança com a princesa Catarina. Ela realmente era de uma beleza estonteante, uma das moças mais belas que já conhecera, e viu que seu neto partilhava deste pensamento, durante toda a cerimônia fúnebre ela notou Rodolfo observando a filha de Augusto, e ao final ficou desapontado quando nem ela nem o pai pernoitaram no castelo.

- Sim, isso é algo que também me preocupa. – respondeu ela. – Mas infelizmente isso está além do meu alcance, você e Lucrécia estão prometidos há muitos anos, eu selei o compromisso com a rainha Margot, essa aliança não pode ser desfeita.

- Ora poderia ser desfeita, bastava a senhora desfazer, sabe, desfazendo. - Rodolfo disse quase implorando. – Do meu ponto de vista a união com Artena é mais importante.

- Ambas as uniões eram importantes, Alcaluz é o reino mais rico de toda a Cália, possui grande influência no Conselho, tem alianças com reinos como Senciera e Castelotes, não podemos quebrar esse acordo com eles. Isso está fora de cogitação, o acordo está selado, e não será desfeito.

- Mas e quanto a água de Artena? – perguntou Rodolfo com um resquício de esperança.

- A questão da água eu irei tratar com Augusto, reformularemos as condições do tratado se for necessário, é o que podemos fazer. Agora venha, vamos dar uma olhada no corsel que foi reservado à você. – chamou ela, animando-o.

Ao chegar ao pátio Rodolfo realmente se animou, aqueles grandes corcéis eram de fato uma visão magnífica, e seu neto logo saiu cavalgando em seu corcel negro, feliz e animado com tão grandioso animal.

Ele sempre fora assim, um menino voluntarioso e um tanto mimado, que se chateava com facilidade, mas bastava lhe dar algum presente e ele logo se animava, como se nada tivesse acontecido, e embora agora estivesse mais velho, com seus vinte anos completos, algumas vezes ainda era aquela criança.

Crisélia permaneceu mais um pouco ali no pátio, observando enquanto os belos animais eram levados para os estábulos, quando um homem adentrou vindo da cidade, os portões ainda estavam abertos e na movimentação com os animais, nenhum guarda o parou. Ele montava um velho pangaré, e seu traje era de plebeu, usava trajes simples, desgastados e sujos pelo tempo, um manto corroído nas pontas pelas traças e um grosso capuz cobrindo a cabeça. Andava curvado, como se temesse algo, ou estivesse envergonhado, se aproximou mais e foi quando os guardas notaram sua presença, imediatamente o cercaram com lanças e ordenaram que se identificasse. O homem levantou as mãos em sinal de rendição, e então, num gesto rápido, abaixou o capuz, e um suspiro de surpresa ficou suspenso no ar.

- Eu sou Afonso de Monferrato, príncipe de Montemor. – disse seu neto.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora