Capítulo I

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REINO DE MONTEMOR


Afonso caminhava a passos apressados pelo castelo, suas botas de caça, já desgastadas pelo tempo, ecoavam no duro chão de pedra. Ele estava voltando de uma caçada quando recebeu o aviso, sua presença era solicitada na sala do trono, e pelo visto era urgente, e urgente geralmente envolvia duas coisas: ou alguma fatalidade ou tragédia no reino, ou Rodolfo tinha aprontado mais uma das suas. Da última vez Rodolfo tinha dormido com a esposa do Conde Ricardo de Venice, um dos nobres mais poderosos de Montemor, e Afonso, apenas com muita dificuldade conseguiu evitar uma guerra civil dentro do reino.

Ao chegar na sala do trono, Afonso encontrou sua avó inquieta, ela caminhava de um lado ao outro, a mão coçando o queixo, e sabia que era algo grave referente ao reino, e não Rodolfo.

- O que aconteceu minha avó? – perguntou.

- Afonso, houve um acidente no aqueduto, algumas pedras desmoronaram, não sabemos a realidade da situação. – respondeu aflita.

- Houve mortes? Alguém se feriu?

- Não sabemos direito ainda, mas pelo que informaram apenas alguns construtores estavam no local do acidente.

Afonso aproximou-se e pegou as mãos da idosa senhora nas suas.

- Acalme-se, eu vou até a base do rio Mirdes para verificar como estão as coisas por lá e qual foi o estrago do desmoronamento. – disse. – Espero que ainda possamos entregar a obra no prazo previsto.

- Também espero, a obra já demorou muitos anos, esse aqueduto irá facilitar a vida de todo nosso povo, e levará a água até a vila mais distante, com mais rapidez e praticidade do que os canais que temos atualmente, poderemos inclusive duplicar nosso plantio para os próximos meses, nada pode intervir na finalização da construção desse aqueduto. – enfatizou Crisélia.

Água de Artena, pensou Afonso. O Rei Augusto aprovara a construção do aqueduto, que bombearia e traria a água do Rio Mirdes até Montemor com a nova engenharia dos aquedutos do Oriente. Mais um débito na conta de Montemor com Artena. Afonso não se sentia confortável com isso, embora soubesse que era o melhor para o seu povo. Artena não dependia exclusivamente do minério de Montemor, se quisesse o Rei Augusto poderia comprar o minério de outros reinos, como Castelotes, Lastrilha ou mesmo do Oriente, mas Montemor dependia da água de Artena, e dependia da boa vontade de seu soberano para concedê-la, e isso era algo que sempre o incomodara.

Afonso ordenou que fosse preparado um novo cavalo para ele e uma escolta para acompanhá-lo. Já iria se encaminhar para seu quarto a fim de tomar um banho e retirar toda a sujeira da caçada quando sua avó segurou sua mão.

- Meu neto, já que viajará para Artena, você deve visitar o Castelo Real. – a contrariedade deve ter passado por seu rosto pois ela completou. – Sua noiva regressou da Lúngria há mais de um mês, e você ainda não foi visitá-la.

Afonso sabia que chegaria a isso, nas últimas semanas qualquer menção à Artena culminava em um discurso de que ele devia visitar seu futuro sogro e sua noiva. Catarina havia sido enviada por Augusto para ser educada na Lúngria, e vivera lá pelos últimos anos como protegida da Rainha Helena, mas agora ela retornara, após o conflito com as invasões do povo das tribos na costa do mar de Artena ter enfim acabado, foi decidido que era chegada a hora do casamento ser realizado.

- Minha avó, eu não vejo Catarina desde que tínhamos dez anos, mais alguns meses não irão fazer grande diferença.

- Irão fazer sim toda a diferença, você é o noivo dela, ela retornou após todos esses anos e você a ignorou completamente, isso é desrespeitoso, e lhe deixa mal visto pelo seu futuro sogro, o Rei Augusto também espera essa visita. – afirmou Crisélia.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora