Capítulo XXXI

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REINO DE ARTENA – CASTELO REAL



- Majestade, onde eu devo colocar esses girassóis? – perguntou Lucíola, entrando no quarto com um vaso nas mãos, onde vários girassóis, todos vivos, brilhavam amarelos e exóticos. – Estavam na sala de reuniões, Demétrio disse que vossa Majestade talvez as quisesse aqui.

- Ele estava certo. – confirmou Catarina. – Amanhã coloque-os na minha varanda, eles precisarão de luz do sol.

- Claro. – Lucíola os ajeitou, depositando o vaso sobre a mesa do canto. – São flores tão bonitas, penso que aqui realmente serão mais apreciadas do que na sala de reuniões.

- Esses girassóis vieram de Vicenza, não são característicos de Artena, como deve saber, o Duque Constantino as enviou para mim como um presente, recebi assim que cheguei, mas naquele momento acabei por deixá-las na sala de reuniões. – comentou Catarina. – Em Vicenza, elas são chamadas de "leões do sol", por sua cor amarela vibrante, e por suas pétalas em formato de, podemos dizer, juba. São flores tão exóticas, e tão diferentes das que vemos aqui.

- São mesmo lindas, mas o jardim de Artena possui flores tão belas quanto essas, na minha opinião. – respondeu a serva. – E o Duque? Enviou mais alguma carta?

- Graças aos deuses não, a escrita dele é um atentado aos olhos, cheia de erros, chega a ser doloroso de ler. – disse Catarina, e observou a carta sobre a escrivaninha, parcialmente lida. – Afonso mandou alguma notícia?

- Não, Majestade, desde a última, não chegou mais nenhum mensageiro, mas eles logo estarão aqui, devem acampar na estrada e amanhã estarão nos portões.

- É, imagino que sim. – confirmou ela.

Três batalhas, duas vitórias, Catarina se regozijava com isso, ela saíra vitoriosa sobre o exército de Otávio, enfim ele experimentara um pouco do amargo sabor da derrota. Houvera baixas, mas nada além do normal, e mais importante, Afonso estava vivo, ele sobrevivera, era aclamado como um grande guerreiro e herói de guerra pelo povo, e estava bem, agora finalmente regressava, com a graça dos deuses.

Ela se surpreendera com a falta que sentia dele, sentira a falta dele todos os dias, um vazio que se abria, que a tomava, doía não tê-lo por perto. Catarina sentia falta de vê-lo, de conversar com ele, de olhar em seus olhos e ver seu sorriso, de escutar sua voz, chamando seu nome. Ela se reprimia por isso, por ser fraca, por persistir com esse sentimento, mas era algo que não controlava, já não dependia mais dela, quando dava por si estava imaginando ele ao seu lado, lembrando de seu abraço, de seu beijo, de estar nos braços dele naquela noite, apenas os dois, um pertencendo ao outro, isolados naquela tempestade, aquela noite, mais do que tudo, não saía de seus pensamentos, era um martírio, quanto mais ela tentava afastá-lo de sua mente, mas sua imagem aparecia diante de seus olhos.

Afonso e a bruxa, Brice, eram duas pessoas tão diferentes, mas ambos iam e vinham em seus pensamentos, mesmo contra a sua vontade. A bruxa, as palavras dela ainda causavam um impacto nela, a forma como curara seu ferimento, todo aquele ambiente, aquelas palavras, pensar demais naquelas tais profecias a deixariam louca.


Ela disse que nos encontraremos novamente, pensou ela. Catarina aguardava esse momento, então poderia arrancar toda a verdade daquela mulher, nada de palavras sem sentido, nada de falar em charadas. Catarina já não tinha tempo nem paciência para isso.

- Majestade, devo trazer seu jantar? Imagino que irá desfrutar de sua refeição aqui? – perguntou Lucíola.

Catarina estava de pé próxima a lareira, estava há muito tempo sentada, em uma pequena mesa próxima ela estivera trabalhando desde que o sol ainda estava alto no céu, em cima livros e pergaminhos estavam distribuídos por toda a extensão, ela estava avaliando os recursos do reino, tinha que rever o Tesouro Real, distribuir os grãos, isso e ainda separar as quantias destinadas ao exército e ao pagamento dos soldados. Logo voltaria aos relatórios, seria uma noite longa.

A Grande Rainha - Contos da CáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora