Capítulo 1

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É, eu fui baleado, e a bala atingiu meu rim. Eu não lembro de muita coisa, eu só lembro de sentir uma pressão na região do abdômen e depois sentir um líquido quente escorrendo, foi como se eu estivesse suando.

Depois de escutar sons de disparos, eu vi o meu pai do meu lado, me olhando de um jeito que eu nunca tinha visto antes. Ele tentava me passar calma, mesmo ele estando mais nervoso que eu. Lembro de ter passado a mão na minha barriga e de ver a minha mão cheia de sangue, só então eu percebi que eu havia sido baleado.

Lembro de escutar a minha mãe gritando, e por fim, lembro do meu pai me amparando na maca, comecei a ver tudo a minha volta ficar meio embaçado, logo após ficou tudo escuro.

É estranho ficar dependente daquele jeito, eu queria respirar sozinho, mas eu não conseguia.

Eu escutava tudo a minha volta, e mesmo querendo acordar eu não conseguia abrir os olhos, eles pesavam demais.

Eu fiquei assim por 1 semana, mais ou menos, até que finalmente eu senti meus olhos leves e consegui abri-los.

— Rafa!

Eu queria falar, mas eu estava com fadiga, eu estava um pouco ofegante e não consegui me expressar por palavras. Mas só de ver meu pai perto de mim... Aquilo me acalmou.

— Pai... — disse baixo.


Eu estava bem fraco pra falar, mas eu tinha que tentar. Consegui falar uma só palavra, mas tinha valido o esforço.

— Não, não fala nada! Calma, eu tô aqui, filho! Eu tô aqui... — disse acariciando minha cabeça devagar e chorando um pouco.

Chorei involuntariamente, a lágrima apenas escorreu. Eu estava sentindo um pouco de dor, mesmo doendo pouco, era bem incômodo.

— Tá doendo, pai. Me ajuda... — disse baixo, com a voz trêmula, quase chorando.

— Já vão trazer o remédio, calma! — disse secando o rosto e me olhando.

Agora era oficial, eu não conseguia dizer mais nada, eu estava sentindo a minha barriga e as minhas costas doerem. Minha barriga não doía toda, era só uma linha que eu sentia doer. Minhas costas eram a mesma coisa. Era o corte da minha operação, eu não lembro de ter entrado na sala de operação, mas eu sabia que eu precisava ser operado, e eu fui.

Meu pai se afastou de mim e pegou seu celular.

— O Rafael acordou! Não, ele não tá falando muito, mas tá consciente. Vai demorar muito pra chegar? Tá, tá bom.

Ele dizia isso um pouco eufórico, alegre e com voz trêmula.

Meu pai não me dizia muita coisa da vida dele, nem o meu padrasto, o Diogo, mas eu sabia de quase tudo.

Eu sabia que eu estava naquela cama por causa de um tiro que era pro meu padrasto. Como eu sei? Ele defendia o movimento dos Direitos Humanos, de longe dava pra ver que ele só defendia vagabundo, no mínimo ele deve ter feito algo errado, e o pessoal que ele defendia ficou irritado.

Eu não sabia se esse era o motivo real, mas se não fosse, pelo menos o meu raciocínio estava perto disso.

Eu estava com muita fadiga, estava cansado e adormeci. Acordei com vozes falando em tons nem um pouco amigáveis. Não deixei perceberem que eu estava acordado, fiquei com os olhos entreabertos.

— Eu não quero discutir hoje, Rosane. Se coloca no seu lugar, respeita o seu filho. Aqui não é lugar pra isso!

— Beto, olha o quê você me perguntou! Se o Diogo tava feliz, que isso?!

— Você sabe que o tiro era dele! Se tem um culpado pelo meu filho tá nessa cama, essa pessoa é o Fraga!

— Pelo o amor de Deus, Roberto! Você me diz pra eu me colocar no meu lugar, olha o que você me perguntou!


Eu estava escutando tudo, mas não quis falar nada. Abri os meus olhos por completo e isso chamou a atenção da minha mãe, que quando me olhou, chorou.

— Filho, meu amor... Tá bem? Tá sentindo alguma coisa? Se você tiver sentindo qualquer coisa me fala! — disse ofegante.


— Tá doendo...

— Onde? — disse quase chorando de novo.

— Aqui e nas costas. — disse colocando a mão em cima do corte da cirurgia.

— A enfermeira já tá vindo, tá bom? — disse acariciando meu cabelo.

O meu pai chegou perto dela e me olhou sorrindo fraco, ele colocou a mão na minha perna e ficou me olhando, o olhar dele denunciava a tristeza e a pena que ele estava de mim naquele momento.

Depois de 7 minutos eu fui medicado e o cansaço não havia passado, então eu adormeci novamente.

3 semanas depois

No fim das contas eu perdi um rim, por isso minhas costas estavam doendo, mas nada mudou na minha vida. Eu já estava conversando normalmente, não estava com fadiga excessiva, mas eu ainda estava em observação.

O previsto para eu poder finalmente ir pra casa era de 5 dias, no mínimo.

— As dores ainda continuam? — disse colocando a mão no meu cabelo.

— Não tanto. Minha mãe vai chegar aqui que horas?

— Daqui a pouco ela tá aí. — disse sorrindo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas logo ele puxou assunto comigo.

— Sabe quem perguntou por você? — disse animado.


Assenti negativamente com a cabeça e fiquei esperando ele dizer.

Tropa de Elite 3: Tal Pai, Tal Filho.Onde histórias criam vida. Descubra agora