A minha vida ultimamente estava sendo assim, a Júlia ia me buscar no trabalho, ficávamos quase a tarde toda vendo o que o bebê precisaria, aí quando dava o horário, eu ia pra faculdade.
Cada dia que eu chegava em casa, eu empacotava algo meu, eu estava pra me mudar e eu já até tinha um apartamento, só faltava fechar o negócio.
Eu ia cada vez mais me afastando dos meus pais, na verdade, só da minha mãe. O meu pai ainda falava comigo, não tinha muita mágoa, mas...
Ele não estava afim nem de acompanhar a gravidez da Júlia, na real, nem eu, mas eu tinha parte nisso, então não tinha o que fazer.
Estava no dia da ultrassonografia, já estava morando com ela, em sua casa. Ela estava estranha, eu entendia que a gravidez era indesejada, mas ela não estava estranha em relação a isso.
Mesmo eu não querendo ser pai, eu tratava ela bem, não desfazia dela, mas ela estava fazendo tudo isso comigo. Eu ligava, só não cobrava dela.
- Cê vai entrar na sala?
- Claro! É o meu filho.
Ela abriu a boca algumas vezes e abaixou a cabeça.
- Que foi?
- Nada. - disse pegando a sua bolsa.
Não liguei muito e saí do apartamento com ela, era sábado de manhã e no dia seguinte eu já iria pro meu apartamento alugado.
Chegamos e não demoramos muito pra sermos atendidos. Entramos na sala e foram feitas algumas perguntas, a Júlia deitou na maca e havia começado a ultrassonografia.
Estávamos com a respiração ofegante e ela pegou na minha mão, eu estava nervoso e a ficha que eu ia ser pai só caiu quando o doutor disse pra gente que era um menino.
A Júlia me olhou chorando e sorrindo, foi impossível segurar as lágrimas também.
Fomos embora dali melhor do que quando chegamos, e pela primeira vez eu queria aquela criança mais que tudo.
Três meses depois
A barriga da Júlia já estava enorme, ela já estava beirando os nove meses e eu, mesmo não morando junto com ela, passava todos os dias na casa dela pra vê-la.
Eu já estava morando sozinho havia três meses, a casa não estava mobiliada por completa, não tinha sofá, não tinha mesa, não tinha cama, não tinha ar-condicionado, não tinha muitas coisas, mas dava pra viver.
A Mavi de pouco em pouco estava voltando a falar comigo normalmente, mas era perceptível que não íamos voltar a namorar.
Era incrível o que estava acontecendo comigo, eu não sentia mais nada pela Júlia, eu tratava ela mais como amiga do que como mãe do meu filho. Mas... eu sentia pelo meu filho e sentia pela Mavi um amor que nem eu entendia, cada vez mais o meu amor por ela e pelo Antônio crescia, eu tinha decidido junto com a Júlia o nome do bebê.
Eu estava com a Júlia, na casa dela, depois de ter saído do meu trabalho, eu iria dormir na casa dela.
Ela estava pra ganhar o bebê, eu não queria deixar ela sozinha nas últimas semanas. Era sexta e eu tinha acabado de chegar da faculdade, eu tinha a chave do apartamento dela, quando eu abri a porta eu vi ela falando no celular com alguém, ela nem tinha me percebido lá, eu entrei bem devagar e sem fazer barulho, era de se esperar ela continuar no celular.
- Já tá pertinho, o Rafael tá até dormindo aqui comigo. - disse sorrindo.
Sorri escutando ela dizer aquilo e do nada ela ficou séria.
- Eu tinha esquecido... - disse com a voz pesada.
Coloquei a minha mochila em cima do sofá e ela se virou, me olhando.
- Depois eu te ligo, Nanda. Beijos. - disse desligando o celular rápido.
Ela sorriu pra mim e se aproximou.
- Cê tinha esquecido de quê?
Ela ficou séria e desconversou. Eu deixei passar, mas aquilo ficou na minha mente.
Eu jantei com ela e ela foi dormir mais cedo que eu, eu fiquei estudando, ia ter prova e eu tinha que me sair bem.
O celular dela não parava de chegar notificação então eu peguei ele pra colocar no silencioso. Vi que era a tal da Nanda que não parava de mandar mensagem, quando eu ia desligar a tela, chegou uma mensagem que me prendeu.
- Mas ele nem desconfia? - disse lendo a mensagem.
Olhei pra aquela tela sem entender nada, cheguei a desligar o visor, mas as notificações chegavam e era impossível eu não ler.
- Cê foi esperta, mas e quando a criança começar a crescer e não tiver as características dele? - disse lendo a mensagem.
Aquela mensagem me gelou, eu não conseguia nem pensar direito. Eu não gostava de invadir a privacidade de ninguém, mas... Aquela garota estava falando do nosso filho, eu queria saber o que era.
A senha da Júlia era a coisa mais idiota do mundo: três, dois, quatro, um. Desbloqueei o celular dela e fui pro banheiro ler as conversas dela com a Nanda. Ela tinha apagado as mensagens anteriores, aquilo me deu uma certa raiva. Eu fiz uma coisa que eu nunca pensei que faria, eu me passei pela Júlia, eu queria saber o que estava acontecendo.
Mandei pra tal da Nanda "acho que ele não desconfia", eu não sabia o assunto, então eu comecei a jogar verde.
"Se ele começar a desconfiar?", mandei mais essa mensagem pra garota e desliguei o visor. Eu comecei a andar de um lado pro outro com o celular na mão e de repente ele vibrou. Desbloqueei ele e quando eu li aquela mensagem eu... Eu senti uma coisa ruim, eu nunca tinha sentido.
- Só se você der a entender que ele vai desconfiar. Amiga, isso vai dar errado, ele vai descobrir que o filho não é dele com o tempo. - disse lendo a mensagem.
Foi muito automático, eu travei, fiquei olhando pro nada e comecei a tremer. Eu fiquei lendo e relendo aquela mensagem.
O filho da Júlia não era meu, ela agiu muito friamente quando me disse que era meu o filho e eu não conseguia acreditar.
Me sentei no chão e eu comecei chorar, eu lembrei de tudo que eu havia perdido por causa da mentira sem cabimento dela.
Eu praticamente comecei a passar um pouco mal, eu fiquei sem ar, as minhas vistas embaçaram e eu fiquei um pouco tonto.
A minha garganta tinha um nó que eu não conseguia nem respirar direito, a minha respiração estava incontrolável e na hora da raiva eu joguei o celular da Júlia na parede, a tela trincou inteira.
- Rafael? - disse batendo na porta com a voz embargada.
Eu sequei o rosto, levantei do chão e abri a porta do banheiro.
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Tropa de Elite 3: Tal Pai, Tal Filho.
Action(apresentação dos personagens no último capítulo + fotos) A história retrata a vida de Rafael Nascimento, filho do então coronel do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), exonerado, Roberto Nascimento, que foi baleado por engano em uma da...