Capítulo 29

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A minha vida ultimamente estava sendo assim, a Júlia ia me buscar no trabalho, ficávamos quase a tarde toda vendo o que o bebê precisaria, aí quando dava o horário, eu ia pra faculdade.

Cada dia que eu chegava em casa, eu empacotava algo meu, eu estava pra me mudar e eu já até tinha um apartamento, só faltava fechar o negócio.

Eu ia cada vez mais me afastando dos meus pais, na verdade, só da minha mãe. O meu pai ainda falava comigo, não tinha muita mágoa, mas...

Ele não estava afim nem de acompanhar a gravidez da Júlia, na real, nem eu, mas eu tinha parte nisso, então não tinha o que fazer.

Estava no dia da ultrassonografia, já estava morando com ela, em sua casa. Ela estava estranha, eu entendia que a gravidez era indesejada, mas ela não estava estranha em relação a isso.

Mesmo eu não querendo ser pai, eu tratava ela bem, não desfazia dela, mas ela estava fazendo tudo isso comigo. Eu ligava, só não cobrava dela.

- Cê vai entrar na sala?

- Claro! É o meu filho.

Ela abriu a boca algumas vezes e abaixou a cabeça.

- Que foi?

- Nada. - disse pegando a sua bolsa.

Não liguei muito e saí do apartamento com ela, era sábado de manhã e no dia seguinte eu já iria pro meu apartamento alugado.

Chegamos e não demoramos muito pra sermos atendidos. Entramos na sala e foram feitas algumas perguntas, a Júlia deitou na maca e havia começado a ultrassonografia.

Estávamos com a respiração ofegante e ela pegou na minha mão, eu estava nervoso e a ficha que eu ia ser pai só caiu quando o doutor disse pra gente que era um menino.

A Júlia me olhou chorando e sorrindo, foi impossível segurar as lágrimas também.

Fomos embora dali melhor do que quando chegamos, e pela primeira vez eu queria aquela criança mais que tudo.


Três meses depois


A barriga da Júlia já estava enorme, ela já estava beirando os nove meses e eu, mesmo não morando junto com ela, passava todos os dias na casa dela pra vê-la.

Eu já estava morando sozinho havia três meses, a casa não estava mobiliada por completa, não tinha sofá, não tinha mesa, não tinha cama, não tinha ar-condicionado, não tinha muitas coisas, mas dava pra viver.

A Mavi de pouco em pouco estava voltando a falar comigo normalmente, mas era perceptível que não íamos voltar a namorar.

Era incrível o que estava acontecendo comigo, eu não sentia mais nada pela Júlia, eu tratava ela mais como amiga do que como mãe do meu filho. Mas... eu sentia pelo meu filho e sentia pela Mavi um amor que nem eu entendia, cada vez mais o meu amor por ela e pelo Antônio crescia, eu tinha decidido junto com a Júlia o nome do bebê.

Eu estava com a Júlia, na casa dela, depois de ter saído do meu trabalho, eu iria dormir na casa dela.

Ela estava pra ganhar o bebê, eu não queria deixar ela sozinha nas últimas semanas. Era sexta e eu tinha acabado de chegar da faculdade, eu tinha a chave do apartamento dela, quando eu abri a porta eu vi ela falando no celular com alguém, ela nem tinha me percebido lá, eu entrei bem devagar e sem fazer barulho, era de se esperar ela continuar no celular.

- Já tá pertinho, o Rafael tá até dormindo aqui comigo. - disse sorrindo.

Sorri escutando ela dizer aquilo e do nada ela ficou séria.

- Eu tinha esquecido... - disse com a voz pesada.

Coloquei a minha mochila em cima do sofá e ela se virou, me olhando.

- Depois eu te ligo, Nanda. Beijos. - disse desligando o celular rápido.

Ela sorriu pra mim e se aproximou.

- Cê tinha esquecido de quê?

Ela ficou séria e desconversou. Eu deixei passar, mas aquilo ficou na minha mente.

Eu jantei com ela e ela foi dormir mais cedo que eu, eu fiquei estudando, ia ter prova e eu tinha que me sair bem.

O celular dela não parava de chegar notificação então eu peguei ele pra colocar no silencioso. Vi que era a tal da Nanda que não parava de mandar mensagem, quando eu ia desligar a tela, chegou uma mensagem que me prendeu.

- Mas ele nem desconfia? - disse lendo a mensagem.

Olhei pra aquela tela sem entender nada, cheguei a desligar o visor, mas as notificações chegavam e era impossível eu não ler.

- Cê foi esperta, mas e quando a criança começar a crescer e não tiver as características dele? - disse lendo a mensagem.

Aquela mensagem me gelou, eu não conseguia nem pensar direito. Eu não gostava de invadir a privacidade de ninguém, mas... Aquela garota estava falando do nosso filho, eu queria saber o que era.

A senha da Júlia era a coisa mais idiota do mundo: três, dois, quatro, um. Desbloqueei o celular dela e fui pro banheiro ler as conversas dela com a Nanda. Ela tinha apagado as mensagens anteriores, aquilo me deu uma certa raiva. Eu fiz uma coisa que eu nunca pensei que faria, eu me passei pela Júlia, eu queria saber o que estava acontecendo.

Mandei pra tal da Nanda "acho que ele não desconfia", eu não sabia o assunto, então eu comecei a jogar verde.

"Se ele começar a desconfiar?", mandei mais essa mensagem pra garota e desliguei o visor. Eu comecei a andar de um lado pro outro com o celular na mão e de repente ele vibrou. Desbloqueei ele e quando eu li aquela mensagem eu... Eu senti uma coisa ruim, eu nunca tinha sentido.

- Só se você der a entender que ele vai desconfiar. Amiga, isso vai dar errado, ele vai descobrir que o filho não é dele com o tempo. - disse lendo a mensagem.

Foi muito automático, eu travei, fiquei olhando pro nada e comecei a tremer. Eu fiquei lendo e relendo aquela mensagem.

O filho da Júlia não era meu, ela agiu muito friamente quando me disse que era meu o filho e eu não conseguia acreditar.

Me sentei no chão e eu comecei chorar, eu lembrei de tudo que eu havia perdido por causa da mentira sem cabimento dela.

Eu praticamente comecei a passar um pouco mal, eu fiquei sem ar, as minhas vistas embaçaram e eu fiquei um pouco tonto.

A minha garganta tinha um nó que eu não conseguia nem respirar direito, a minha respiração estava incontrolável e na hora da raiva eu joguei o celular da Júlia na parede, a tela trincou inteira.

- Rafael? - disse batendo na porta com a voz embargada.

Eu sequei o rosto, levantei do chão e abri a porta do banheiro.

Tropa de Elite 3: Tal Pai, Tal Filho.Onde histórias criam vida. Descubra agora