Capítulo 36

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Ela assentiu friamente, me despedi deles e fui embora.

Falei pra Mavi no dia seguinte, ela estava lá em casa e a reação dela foi que nem a reação de todos. Deu aquele sermão dizendo que era arriscado, era uma profissão ingrata e aqueles outros clichês, mas no final de tudo, ela me apoiou.

Me inscrevi pelo site e agora eu iria fazer a prova. Meu pai me deu uns livros que ele leu quando ele fez o concurso, muita coisa que eu estudei na faculdade poderia cair.

Estudei bastante, mesmo não precisando estudar tanto, e logo chegou o dia da prova. A ficha do que eu estava fazendo só caiu quando mandaram eu guardar as coisas porque a prova já iria começar.

As provas foram no final do ano de dois mil e dezoito, em outubro, e como o esperado, passei.

Logo depois eu tive que fazer o exame psicológico, depois eu fiz o exame antropométrico que é basicamente avaliar o tamanho, a forma e a composição do meu corpo, fiz o exame médico pra saber se eu tinha algum problema de saúde, fiz o exame físico, o toxicológico, o social e por fim, o documental.

Como eu tinha assumido cem gramas de maconha com dezesseis anos, isso pesou na minha avalição pro meu curso de aprovação, mas não é dado como reprovado quem tem antecedentes.

Eu só teria que contratar um bom advogado, na verdade eu nem precisaria, o meu pai já era advogado, pra provar que mesmo eu tendo assumido, a minha conduta era exemplar.

O chefe das pesquisas sociais absorveu o meu caso e então começou, comecei a fazer o curso de formação.

Eu ainda não estava acreditando, mais um ano e eu me formaria na Polícia Militar.

A formação durou um ano, lá eu aprendi ainda mais sobre tiro, aprendi a fazer abordagens, fazia várias provas, era bem igual a uma escola comum, só que mil vezes mais rígido. Estava perto dos meus vinte e três anos e a minha vida tinha tomado um rumo completamente diferente do que eu havia planejado.

Como eu já disse, eu sempre me importei mais com o dinheiro do que com o amor a profissão, só que dessa vez eu queria exercer essa profissão, mesmo que me pagassem pouco, considerado ao o que eu iria ganhar se eu fosse juíz.

Agora eu havia me transformado em um soldado. Na formatura o Fraga foi, só que ele não falou direito comigo, não sei o porquê.

A formatura durou cerca de quatro horas ou mais, mesmo eu não amando a profissão que eu iria exercer, eu estava feliz por ter conseguido fechar mais um ciclo.

No final da formatura, a primeira pessoa a me abraçar foi a minha mãe. Ele me abraçou chorando e não parecia que era de alegria, talvez até tenha sido alegria, ou tenha sido um misto de emoções, mas a emoção que mais transpareceu nela foi a tristeza.

— Para de chorar. — disse sorrindo e com a voz embargada.

— Ai, meu amor... — disse tirando a meu boné e passando a mão na minha cabeça.

Abracei ela novamente, bem mais forte, e beijei a sua testa.

— Eu te prometo que não vai acontecer nada comigo, eu vou voltar vivo pra casa todos os dias. — disse sorrindo, com a voz trêmula.

— Eu te amo, filho. — disse sorrindo e chorando ao mesmo tempo.

Olhei pra frente e o meu pai veio me abraçar, ele estava com os olhos cheios de lágrimas também. Foi a primeira vez que eu vi ele chorar de verdade, ele me parabenizou e nós oramos juntos, só nós. Nunca tive uma religião, meus pais eram católicos, mas eles nunca me cobraram ir a igreja de manhã, fazer catequese, nada disso.

Mas eu acreditava piamente na oração de São Jorge, e agora que eu era um policial, essa oração era perfeita pra mim, faria ela todo dia de manhã, antes de sair de casa.

A família da Maria estava toda lá, menos o Vinícius, eu nem fazia questão na verdade. Eles vieram me parabenizar e tudo mais, inclusive a Maria.

A Daiana falou comigo normalmente, feliz por mim, então eu estranhei o Fraga ter só apertado a minha mão, não disse nada, só fiquei um pouco chateado por ele não estar feliz daquela forma por mim.

Como nós íamos pra algum lugar comemorar, eu fui até o carro da Mavi pra pegar as minhas roupas, deixei a minha chave com ela e pedi pra ela pegar as roupas pra que eu me trocasse depois da formatura. Peguei a bolsa no carro e quando eu fui em direção ao vestiário, eu vi uma pessoa familiar.

— Oi... — disse sorrindo de lado.


A Júlia estava com o Antônio do lado dela, ele estava enorme, eu não vi ele quando bebê, essa era a primeira vez que eu estava o olhando cara a cara, das outras vezes tinham sido só virtualmente.

Pela as minhas contas, ele estava com 5 anos. Ele não teve nada a ver com o que aconteceu entre nós, e sinceramente, eu tinha uma vontade enorme de criar um laço com ele.

Mas... Eu fiquei tão nervoso que eu não tive outra reação.

— Tá fazendo o que aqui?! — disse grosseiramente.

— Eu vim te dar os parabéns e...

— Quem te falou da formatura? — alterei o tom.

— O Vinícius me disse. — sua voz trepidou.

— Ah, ele te disse? — perguntei rindo ironicamente.

Ela ficou em silêncio e várias lágrimas rolaram dela.

— Não era pra você tá aqui, vai embora. — disse ríspido.

Saí dali sem deixar ela falar e fui me trocar. Saí do vestiário e ela já não estava mais naquele lugar, a Mavi veio até mim e antes que eu dissesse alguma coisa, ela já me perguntou.

— O que ela tava fazendo aqui?

— Não sei.

— Você tava falando alguma coisa com ela que eu vi. — disse séria.

— Não foi nada demais, eu não tô a fim de falar disso. Esquece só, eu tô feliz demais pra me importar com isso.

Ela assentiu e pegou na minha mão, sorrindo de lado. Eu estava há muito tempo sem ver a Júlia e sim, eu estava com saudades, mas a mentira que ela havia me dito ainda não estava completamente digerida.

Saímos de lá e fomos pra um restaurante comemorar, dessa vez tudo ocorreu bem, sem nenhuma discussão entre os meus pais, nem nada. Eu ainda estava chateado por ter tratado a Júlia tão mal, estava com saudades dela, estava com saudades da criança que eu não via dês do dia do nascimento, enfim, estava com saudades do passado.

No dia seguinte eu fui a casa da minha mãe, ela ainda estava meio mexida mas não estava brava, estava até mais calma.

— Quer beber alguma coisa? — disse fazendo carinho no meu rosto.

— Deixa que eu pego. — disse sorrindo, levantando e indo até a cozinha.

Tropa de Elite 3: Tal Pai, Tal Filho.Onde histórias criam vida. Descubra agora