Capítulo 6

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Mas foi inevitável não ficar um pouco desconfortável com a verdade que o meu pai tinha me dito. Fiquei em silêncio e o meu pai suspirou, continuando a falar.

— Tem medo de quê? De alguma garota dizer "não"? Por isso nunca falou com nenhuma?

— Só não tive a oportunidade de me aproximar de alguma.

— Tá certo. Não se precipita, é melhor assim.

Sorri pra ele e ele sorriu de volta.

Ficamos conversando até às 11 da noite, meu pai fez a nossa comida.

Eu já estava ficando cansado, então eu fui pro quarto do meu pai.

— Liga pra sua mãe, não ligou até agora pra falar que tá bem. — disse saindo do quarto, me deixando sozinho.

Peguei meu celular e liguei pra ela, que atendeu no mesmo momento.

— Oi, filho! Eu já ia te ligar! E aí, continuou sentindo dor? — disse rápido.

— Calma! — ri.

— Responde, filho! — disse alto, mas com um tom descontraído.

— Não, tá doendo mais não.

— Se doer, me liga e fala com o seu pai, tá?

— Tá bom.

— Te amo, filho.

— Também te amo, mãe.

— Passa pro seu pai, por favor!

— Peraí. — disse indo até a porta do quarto.

Quando cheguei na sala, vi o meu pai mexendo numa pistola. Eu achei que ele fosse devolver pro BOPE todas as armas dele, mas depois de uns segundos o olhando, cheguei à conclusão que a pistola era dele.

— Pai, a minha mãe quer falar com você. — disse estendendo a mão pra ele pegar o celular.

O meu pai não esperava eu o chamar, ele me olhou sério, deixou a pistola em cima da mesa de centro e pegou o celular.

Ele ficou sentado no sofá e eu sentei do lado dele, fiquei olhando pra pistola e por um momento eu quis pôr a mão pra sentir ela, eu quis atirar com ela.

Mesmo com o meu pai sendo policial a vida quase toda, eu nunca tinha visto uma pistola tão de perto.

— Tá, tá bom! Tá, tchau!

Ele desligou o celular e me entregou, eu coloquei o celular do lado da pistola dele e o olhei.

— Tá com sono não?

— Mais ou menos.

— Quando tiver cansado pode ir pro quarto.

Fiquei em silêncio por alguns segundos e ele pegou a pistola, a enrolou numa blusa velha e foi para o quarto. O segui e vi ele guardando a pistola na gaveta dele.

— É sua?

Ele me olhou como se não tivesse escutado o que eu tinha dito e ficou me olhando.

— O quê que é minha? — disse vindo em minha direção.

— A arma.

— É, por que quer saber?

— Por nada.

— Desliga tudo e vem pro quarto, já tô indo dormir.

— Posso ficar vendo TV?

Ele me olhou como quem estivesse cansado demais pra ter que me esperar ir dormir, então eu desisti. Desliguei todas as luzes da casa e me deitei na cama.

— Quer alguma coisa antes de dormir? — disse saindo da cama.

— Não, valeu.

Ele assentiu e saiu do quarto, 3 minutos depois ele voltou com um copo d'água.

— Pai, não quero mais água não. — disse deitando por completo na cama e o olhando.

— Não perguntei se você quer água, você vai beber a água. Vai, levanta logo!

Eu o olhei praticamente implorando pra não beber aquilo, mas ele nem se comoveu.

Era enjoativo ficar bebendo água toda hora, mas segundo os médicos, eu precisava, era bom pro meu rim solitário.

Bebi metade da água e devolvi o copo pra ele.

— Ainda tem água.

— Tô cheio, pai. Deixa pra eu beber isso amanhã! — disse implorando.

Ele me olhou sério e virou o resto de água que havia no copo.

— Agora chega pra lá que eu quero dormir. — disse brincando comigo.

Sorri e dei espaço pra ele deitar do meu lado.

Ele se cobriu com um lençol diferente, ficamos conversando por mais uns 8 minutos até eu dormir.

Acordei com o meu pai desligando o ar-condicionado.

— Ah, não! — disse com a voz embargada de sono.

— Sabe que horas são?

Ignorei ele e cobri a minha cabeça, meu pai puxou meu lençol e eu o olhei um pouco irritado. Em pleno sábado e ele queria que eu acordasse cedo.

— São onze para as três da tarde!

Olhei pra ele pra ver se ele iria rir, mas ele nem esboçou sentimento.

Peguei meu relógio e realmente já eram quase três da tarde.

Me sentei na cama e fui pro banheiro escovar meus dentes.

— Já tava ficando preocupado, não tava dando sinal de vida.

Olhei pra ele rindo, o que fez ele rir também.

— A gente vai sair, vai tomar um banho!

— Bora pra onde?

— Se você tomar banho rápido e entrar no carro, você vai descobrir!


Assenti enquanto enxaguava a boca, tirando a espuma da pasta e logo após entrei pro banho.

Tropa de Elite 3: Tal Pai, Tal Filho.Onde histórias criam vida. Descubra agora