Capítulo 2

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— A Júlia! Ela ficou preocupada e... Ela tava até perguntando o endereço do hospital pra vir aqui ver você!

— Ela vai vir aqui quando? — me interessei.

— Ela não disse o dia.

No fundo, eu tinha uma queda por ela, eu não teria assumido 100 gramas de maconha se fosse outra pessoa, mas era a Júlia. Eu não ia deixar ela assumir tudo sozinha, não ia conseguir dormir sabendo que ela estava presa. Esse foi o principal motivo de eu ter assumido tudo sozinho.

Ninguém sabia que eu gostava dela, mas o meu padrasto desconfiava.

A porta do meu quarto abriu e a minha mãe entrou, ela veio até mim sorrindo e beijou a minha testa.

— Tá se sentindo bem?

— Tô.

Ela passou a tarde comigo, e quando anoiteceu o meu pai ficou comigo pra minha mãe ir descansar um pouco.

— Amanhã eu vou ficar aqui de novo, não precisa vir se não quiser. — disse olhando pro meu pai.

Eu pensei que o meu pai iria bater nele, ou que eles fossem discutir, igual sempre fazem, mas o meu pai apenas assentiu. A minha mãe me deu outro beijo na testa e o meu padrasto fez o mesmo.

Ficamos só eu e o meu pai no quarto. Ele ficou em silêncio me olhando.

— A Júlia vai vir me visitar. — disse puxando assunto.

— Ela te disse?

— Não, o Fraga me disse.


Ele olhou pra baixo e me olhou sério, o que me fez fica sério junto.

— Ela não é boa companhia pra você.

— Ela é legal, pai.

— Não tô falando que ela não seja, nem sei como ela se comporta, eu só quero o seu bem. Já esqueceu o que ela fez?

— Eu não esqueci, só que não é por causa daquilo que a nossa amizade vai acabar!

— Amizade? É amizade ela ter deixado você assumir tudo aquilo sozinho? — disse calmo, porém, sério.

— Ela tinha dito que ela era a dona antes do senhor chegar lá, eu assumi porque eu quis! Eu não ia deixar ela na cadeia sabendo que eu podia ajudar!

— Tá, e quando ela vier te visitar vai fazer o que? Ela vai trazer 100 gramas de maconha de lembrança pra você por acaso?

Eu apenas olhei pra baixo por alguns instantes e o olhei de volta.

— Acho que ela não vai trazer nada. —disse sorrindo de canto de boca.

Ele me olhou sério e logo após sorriu de canto de boca também, ele pousou a mão na minha perna e fixou o olhar em mim.

— Fiquei com tanto medo de te perder, meu filho... — disse ficando sério, com os olhos cheios de lágrimas.

Inevitavelmente meus olhos lacrimejaram também e eu me sentei na cama com um pouco de dificuldade, estiquei meu braço e quando ele pegou na minha mão, eu o puxei pra abraçá-lo.

— Me desculpa se eu nunca te dei a atenção que você merece. — disse chorando.

Não disse nada, apenas fiquei com o rosto afundado no peito dele. Ele ficou acariciando meu cabelo e sussurrando que me amava.


— Também te amo, pai! — disse ainda abraçado nele.

Ficamos abraçados 2 minutos, coisa que nunca tínhamos feito antes. Eu sei que vai parecer loucura, mas por um lado, ficar a beira da morte foi bom.

Agora o meu pai iria querer ficar mais e mais comigo.

2 semanas depois

Eu já estava em casa, mas eu não podia fazer esforço e o que mais tinha era remédio pra eu tomar.

Eu não podia fazer muita coisa, então eu dormia, via TV, comia...

Bem sedentário!

Eu saí do hospital e a Júlia não tinha ido lá, eu coloquei muita expectativa desnecessariamente. Ela até se importava, mas não tanto assim.

— Bebe água! — disse vindo com uma garrafinha até a minha direção.

— Tô cheio de água. — disse colocando a garrafinha no chão, do lado da cama.

— Filho, você precisa beber água, ainda mais agora que...

Ela ficou em silêncio por alguns segundos.

— Ainda mais agora o que? Ainda mais agora que eu não tenho um rim? — disse um pouco ríspido.

— Não fala assim, Rafa! Tá sendo difícil pra todos nós. — disse um pouco melancólica.

— Mas quem tomou o tiro foi eu!

Ela me olhou séria, deu um longo suspiro e levantou da minha cama.

— Bebe a sua água, Rafa!

Eu olhei pra ela e olhei pra baixo. Peguei a garrafinha e bebi a metade da água.

— Já bebi! Pode ir agora.


Ela me ficou me olhando por alguns segundos e saiu do quarto. Admito, fiquei um pouco irritado por causa da superproteção exagerada que ela estava tendo comigo. Na verdade, tudo o que tinha acabado de acontecer comigo estava me estressando, mas eu não quis chatear ela.

Tropa de Elite 3: Tal Pai, Tal Filho.Onde histórias criam vida. Descubra agora