Capítulo 53

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Ainda eram 10 da manhã quando chegou uma ocorrência que só o BOPE poderia resolver, foi uma operação conjunta da COE na verdade (Comando de Operações Especiais da PMERJ).

Primeiro o BOPE iria pra estabilizar o terreno, depois o Choque e por último o BAC (Batalhão de Ações com Cães). Nos equipamos em menos de 10 minutos e fomos ver o mapa do morro, que era a Cidade de Deus, os outros policiais já conheciam bem o local então foi mais fácil pra eles explicarem para os policiais recém formados.

Logo após fomos pro Salão Nobre do batalhão para a formação, fomos instruídos pela última vez, oramos e fomos. Eu fui na viatura, o Higor foi no blindado.

Só quando chegamos perto do morro, que eu escutei os sons de tiros e fogos, que eu me dei conta que agora eu seria um dos responsáveis dessa ocorrência, percebi que tudo o que acontecesse em diante, seria reflexo de algo que eu fiz junto aos outros policiais.

As viaturas, que foram 5 e mais 1 blindado, foram deixadas bem antes de chegarmos na entrada da favela. Assim que entramos, já fomos recebidos a tiros, eu queria descarregar meu fuzil em cima dos traficantes, mas uma coisa que eu aprendi no curso foi que nós, em situação de confronto, nunca devemos dar um tiro sem ter certeza que pegue no traficante.

Diferentemente dos traficantes, que atiram sem se preocupar se pode pegar em alguém inocente, nós pensávamos assim, e nós prezávamos pela segurança dos moradores, mesmo em situações intensas.

Vi o Higor vindo do outro lado com o contingente dele. Como nós éramos uma polícia operacional, não podíamos ficar atrás da parede, parados, sem fazer nada. Depois que 3 policiais avançaram, eu avancei também, nos abrigamos atrás de uma parede.

xxx: Rafael, me dá cobertura. (disse saindo de trás da parede)

Ele ajoelhado e eu em pé, fomos avançando juntos e quando vimos uma cabeça sair de trás do muro, atiramos.

xxx: Caiu, caiu! (disse gritando)

Adrenalina era alta, corri com ele e vi que um tiro tinha pegado no peito e o outro no ombro, ele ainda estava vivo.

Rafael: E agora? Leva ele pro blindado pra ser socorrido?

xxx: Deixa morrer.

xxx2: Atenção aí, gente! Para de conversar! (disse passando pela gente correndo)

Os tiros continuavam intensos, mas depois de um tempo cessaram. O Choque já havia chegado e estavam fazendo o cerco, os traficantes estavam fugindo, pela mata principalmente, mas eles iam ser pegos.

A operação durou 4 hora e 30 minutos, o BAC vasculhou uma das casas que eram suspeitas, e logo depois descobrimos que era uma casa de endolação, haviam cápsulas pra cocaína, fita crepe amarela pra envolver as drogas, maconha prensada, crack, lança-perfume, e em grandes quantidades.

O traficante que havíamos atingido morreu, e nós que tivemos que levar pro hospital.

A mãe do traficante chegou alguns minutos depois, mais ou menos uns 40 minutos, e ver ela chorando não me deixou bem. Antigamente, antes de entrar pra corporação, eu achava que aquele policial que conseguia matar um traficante merecia ser reconhecido por todos, mas eu percebi que... Ninguém sai ganhando, não é uma coisa pra se vangloriar, no final das contas, é um ciclo que tá sempre se repetindo, só varia as vítimas.

Meses depois

A Maria já estava empregada, e ela não estava tendo tempo nem pra ela, vivia de plantão, e eu já estava ficando com pena.

Cheguei em casa às 5 da manhã, tinha acabado de chegar de um plantão também, e ela chegou às 8 da manhã, de um plantão de 12 horas.

Enquanto ela não havia chegado, eu tomei um banho e fui descansar, eu tinha feito um plantão de 24 horas, e dessa vez não havia sido obrigatório, eu que quis ficar pra caso acontecesse algo, nunca se sabe.

Acordei com barulho de passos, abri os olhos e a Maria estava tentando tirar os sapatos de uma forma silenciosa.

Mavi: Desculpa ter te acordado, meu bem. (disse sentando na cama)

Rafael: Tá tudo bem. (disse puxando ela pra deitar)

Ela estava tão cansada que dormiu ali mesmo, com a roupa que ela havia chegado, enquanto eu fazia carinho nela. Voltei a dormir também e acordei 2 da tarde, deixei a Maria dormindo e fui fazer o nosso almoço.

Um tempo depois, escutei barulho de chuveiro ligado e 15 minutos após a Mavi apareceu na cozinha.

Rafael: Eu te acordei?

Mavi: Não, eu que senti o cheiro da comida. Tô com fome. (disse rindo)

Rafael: Tá mais descansada? (disse sorrindo)

Mavi: Tô nova! E felizmente de folga, amém. (disse ficando do meu lado)

Rafael: Que bom! Eu tô de folga mas só são 2 dias.

Mavi: Eu tô 1 semana.

Rafael: Ai, queria. (disse rindo)

Ficamos conversando e ela arrumou a mesa. Enquanto comíamos, conversávamos. Mas do nada ela fez uma cara esquisita, respirou fundo, fechou os olhos e se apoiou na mesa.

Rafael: Que foi?

Mavi: A comida me deu um... Sei lá, mal estar.

Rafael: Tá enjoada?

Mavi: É, me deu uma fraqueza também, minha pressão deve ter abaixado.

Levantei e peguei o prato dela, ela não ia conseguir comer mais, sabia disso. Agachei na frente dela e fiquei a olhando, esperando ela ficar melhor de alguma forma.

Rafael: E aí?

Mavi: Tô bem, se preocupa não. (disse sorrindo doce)

Beijei a testa dela e ela me deu um beijo.

Rafael: Vai deitar um pouco então.

Ela assentiu e foi pro quarto, ver um filme no celular. A noite foi caindo e eu não queria ficar em casa com ela, estava uma mesmice sem fim. A minha vida era ir pro batalhão, treinar, combater... E a vida dela era suturar, coletar sangue, aplicar vacina...

Eu não queria ficar em casa mais uma noite. Disse a ela pra se arrumar, pedi pro Higor ir com a Bia, só que ele disse que estava muito cansado, que não iria.

Então eu me arrumei em uns 20 minutos e fiquei esperando a Maria se arrumar, demorou demais, mas finalmente ela ficou pronta... E linda como sempre.

Rafael: Podemos? (disse rindo irônico)

Mavi: Podemos. (disse rindo)

Tropa de Elite 3: Tal Pai, Tal Filho.Onde histórias criam vida. Descubra agora