Capítulo 8

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— Volta pra cama, Rafael. — impôs.

— Qual parte do "eu perdi o sono" o senhor não entendeu? — disse olhando fixo pra ele.

— A parte que você não perdeu o sono! Tá assim por causa da Júlia, agora volta pra cama. — disse me olhando.

Desviei o olhar dele e liguei a TV com o controle remoto, o ignorando completamente. Ele pegou o controle da minha mão a força e desligou a TV.

— Caramba, que saco! Eu perdi o sono, tá tão difícil entender? — alterei o tom de voz.

— Fala baixo comigo. — disse em um tom intimidador.

Ficamos nos encarando, ele deixou o controle na mesa de centro e voltou a me olhar.

— Quer saber? Quer ir embora agora? Ótimo, vou te dar o dinheiro do ônibus e tu vai! — disse indo em direção ao quarto dele.

Obviamente ele estava tentando me intimidar, eu sabia que ele não iria fazer isso. Eu estava recém operado, ele não ia ter coragem.

Vi o meu pai voltando com a sua carteira, ele tirou 10 reais e me deu. Olhei pra ele assustado e não estendi a mão pra pegar a nota, então ele simplesmente a jogou em cima de mim.

— Pronto, já tá com o dinheiro da passagem, agora pega a sua mochila e vaza. Anda! — disse me olhando sério.

Continuei o encarando sem dizer nada e me levantei do sofá. Ele foi até seu quarto e quando voltou estava com a minha mochila, ele me deu a mesma e ficou me encarando.

— E aí? Vai ou não? — disse me encarando.

— Tchau. — disse indo até a porta e a abrindo.

Ele pegou na maçaneta e esperou eu sair.

— Tchau. — disse fechando a porta.

Fiquei olhando pra porta por alguns segundos, sem acreditar que ele estava fazendo aquilo mesmo, e então percebi que ele não ia abrir a porta, chamei o elevador. Quando cheguei no térreo, fiquei parado na portaria.


Fui até o sofá da recepção e abri a mochila pra procurar meu celular, queria ligar pra minha mãe, pra ela pelo menos ir me buscar. Eu não estava podendo andar muito e não conseguiria pegar um ônibus, na verdade, eu até conseguiria, mas eu iria ficar com dor depois, então nem tentei.

Depois de procurar por um tempão, percebi que havia esquecido o celular no meu pai, lembrei que ele nem me deu tempo de pegar o resto das coisas, só me tirou da casa dele.

Pedi o elevador novamente e quando a porta abriu no andar do meu pai, vi ele. Ele estava com a chave do carro e o meu celular na mão.

Dei alguns pequenos passos, ele me percebeu ali, me olhou sério e eu estendi a minha mão pra pegar o meu celular, ele me entregou o mesmo e continuamos sem dizer nada.

— Só vim buscar o celular mesmo. — disse entrando no elevador.

— Eu vou te levar. — disse ficando do meu lado.

A porta do elevador fechou.

— Não precisa, eu me viro. — o olhei.

— Eu disse que eu vou te levar. — disse entrando.

Fiquei em silêncio e ele também. Saímos do elevador e quando eu saí do prédio, pra ir pro ponto de ônibus, ele segurou meu braço.

— Já falei que eu vou te levar, não falei? Quer ser ignorante, eu sou mais! — disse ainda segurando meu braço, me olhando com a cara fechada.

Puxei meu braço forte da mão dele e ele ficou me olhando sério.

— Bora pro carro, agora! — disse me olhando ainda de cara fechada.

Me rendi a ele e fui caminhando até a garagem do prédio, entrei no carro dele e saímos em silêncio.

Estava olhando pra paisagem, mas percebi ele me olhando. Olhei pra ele, o que fez ele desviar o olhar pra pista.

— Olha... Cada dia eu tô ficando mais surpreso com o poder que a Júlia tem sobre você. — disse me olhando.

— Não entendi, o que ela tem a ver? — disse olhando pra paisagem.

— Você ainda tá chateado com o que eu fiz.

Olhei pra ele como se ele tivesse descoberto o óbvio.

— Tem um monte de menina pra tu gostar, tinha que ser logo ela?

— Não gosto dela.

— Imagine se gostasse. — disse sarcasticamente.


Ri um pouco sem graça e o olhei.

— Não quero que aquilo se repita, não quero ver você me respondendo, não quero quero você aumentando o tom de voz pra mim, não quero você batendo de frente comigo, você tá me entendendo bem? — disse me olhando sério.

Assenti positivamente e ele fez o mesmo. Ficou um clima chato no carro, mas ambos estavam com um pouco de culpa, não podia falar mais nada, nem ele.

Logo chegamos no apartamento da minha mãe.

Meu pai tocou a campainha e quem atendeu foi o Fraga.

— Nossa, pensei que fosse voltar à noite! — disse sorrindo e me abraçando.

— É... A minha mãe tá acordada?

— Dormindo. Vai lá acordar ela. — disse sorrindo.

— Já vou. — olhei pro meu pai.


Eu o abracei, ele beijou minha testa.

Tropa de Elite 3: Tal Pai, Tal Filho.Onde histórias criam vida. Descubra agora