Samantha conhece Calú

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Samantha

Kent não fazia questão de esconder os ciúmes que estava sentindo de James e era até engraçado, e ao mesmo tempo incômodo. Porque ficava bem claro que ele ainda não confiava em mim, e talvez jamais viesse a confiar, já que ele era bastante inseguro, o que me fazia temer que a nossa relação não desse certo.

Era fim de semana e eu estava de folga no sábado e domingo, Kent fôra para o hospital, dobraria o plantão, mas passaríamos o domingo inteiro juntos e eu já planejava um passeio pra nós e a Manu.

 A pequena estava largada no tapete felpudo da sala com um monte de almofadas em volta dela, vendo um desenho com unicórnios cor-de-rosa falantes. Estava tão concentrada na animação que fazia "Shhhh" pra mim quando eu tentava falar com ela. Totalmente resignada, apanhei o meu notebook e resolvi procurar por uma loja de móveis personalizados, eu estava empenhada em encontrar uma cama em formato de abóbora quando a companhia tocou. Me levantei, ajeitando a larga camisa de moletom do Kent no meu corpo. Abri a porta imaginando que fosse ele, mas se tratava de uma loura estonteante de grandes olhos verde-água

- Posso ajudar? - indaguei curiosa

- Há! - Ela me olhou de cima a baixo e voltou a me olhar nos olhos.

- Tia, Calu! - Manu abriu mais a porta e se jogou nos braços da mulher.

- Oi meu anjinho! nossa como você cresceu! - Ela apertou Manu em seus braços e se colocou de joelhos no chão com Manu, acariciou os cabelos da menina. - Como você está?

- Eu estou bem! - Ela disse rindo apertando as bochechas de Calú. - Essa é a minha tia Shan! ela é namorada igual você!

Calu riu sacudindo a cabeça em negativa.

- Não meu anjinho... a tia Calu não é namorada do seu pai. A tia Calu agora é casada.

Ela se colocou de pé e me encarou.

- Me desculpe... eu achei que iria achar Ken de folga... a dias venho dizendo a ele para marcar um dia para eu pegar as minhas coisas.

- É um prazer! - eu queria fuzilar aquela mulher e tinha de admitir que estava com ciúme de todo aquele carinho que a Manu estava tendo com ela. - Samantha Lincoln! - estendi a mão para ela.

- Ana Cláudia... Know... - ela estendeu a mão para mim.

- Entre por favor! - lhe dei passagem depois de apertar brevemente a sua mão

- Obrigada... - Ela entrou segurando a mão de Manu e se sentou no sofá.

Ela deu uma boa olhada pelo local e me olhou sorrindo encabulada.

- Não deve ser fácil abrir a porta para alguém que já fez parte da vida de Ken!

- Não é nada demais! - Aquela mulher estava se dando muita importância. - Então, eu posso ajudá-la? O Kent não volta pra casa hoje, plantão dobrado.

- Entendo... - Ela torceu a boca. - E como ele está?

- Está ótimo! Quer uma água... Café?

- Não quero nada... - Calú se levantou dando uma volta na sala, parou a minha frente. - Ken é um bom homem... Mas não se deixe levar pelo seu jeito durão. Ken engana muito pelo seu jeito carente, quente e bravo.

- Muito obrigada mesmo, mas prefiro que não me dê conselhos, sim? Então, o que a trouxe aqui?

- Vim buscar as minhas coisas... - Ela apontou para a lavanderia. - Posso?

- A vontade! - sorri amarelo.

Dei passagem para ela, mas ao contrário, ela se manteve a minha frente.

- Samantha... Ken não fala da vida dele... e acho que precisa saber de algumas coisas sobre ele que nunca vai te contar se não perguntar com insistência... - Ela se aproximou de mim. - Ken tem problemas emocionais profundas dentro dele que nunca irá te contar. Então se realmente está apaixonada por ele e quer construir uma vida. Precisa conhecer a vida passada dele... - Ela saiu da minha frente indo para a Lavanderia.

- Do que está falando? - A segui e indaguei curiosa.

- Que Ken precisa de alguém que mostre para ele que amar nã é algo ruim... - ela apanhou o uma caixa e colocou sobre a maquina de lavar e me olhou. - Sua infância foi muito pobre, a mãe foi embora quando ele tinha 4 anos, o pai era lutador de Box falido... era ele quem fazia os curativos do pai... Ken conhece a medicina a muito mais tempo do que qualquer um... O pai foi morto num ringe, depois de ser diagnosticado com tumor cerebral de tanta porrada... Kent viu o pai morrer... Ele ficou sozinho na vida aos 16 anos... Traficou, roubou para sobreviver... Se alistou no exército aos 18 anos depois que um policial se compadeceu dele. aconselhou e o ajudou a entrar para a vida militar... foi aí que conseguiu bolsa para a universidade... e se ele te conta que estava na França a passeio... é mentira. ele estava Retornando do acampamento da ONU depois de três meses de trabalho em Angola.

- Nossa!- eu fiquei realmente surpresa com aquilo, ele tinha um histórico de lutas e vitórias invejável, e me fazia desejar conhecê-lo ainda mais a fundo.- Obrigada por me contar tudo isso Calú

- Não há de quê! - Ela sorriu. - Pegue leve com ele. Ken gosta de se fazer de durão. Mas ele se quebra com facilidade. Não confia em ninguém... E acho que ele não confia nem nele mesmo. E você está muito apaixonada, dá pra ver no seu olhar e no modo como reagiu a minha presença. - Ela apanhou a caixa no colo. - Obrigada por ter me deixado pegar o restante das minhas coisas.

- Sem problemas! - Sorri e a acompanhei até a porta, Manu correu para abraçá-la e mais uma vez senti o ciúmes gritando na minha cabeça. - Tenha um bom dia, Calú!

- Adeus! - Vi seus olhos cheios D'água ao se levantar depois de abraçar forte Emmanuelle.

Deu as costas e foi embora.

- Ela ficou triste? - Manú perguntou se recostando em mim.

- Vai passar, meu amor! - me abaixei e a coloquei no colo, afagando os seu cabelos louros. - Ela já está com saudades de você.

Emmanuelle me abraçou forte.

- Você também não vai embora, não é? - Senti a angustia de Manú agarrada a mim

- Não! - respondi resoluta. - Como eu poderia deixar você?

Manú me olhou fazendo beicinho de choro.

-Que tal tomarmos um sorvetão ali na esquina?

- Eba!!! - Manú riu passando a mão nos olhinhos. - Quero um de morangão!!!

- De morangão? - Eu ri e segui para o banheiro com ela. - Vamos tomar um gostoso banho e tomar sorvetão de morangão! - Gargalhei e a coloquei no chão.



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