Samantha e Kent conversam

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Samantha

Não sei onde estava com a minha cabeça quando aceitei dormir no apartamento do Kent. O homem tinha me dispensado totalmente sem a menor cerimônia, e, ali estava eu bancando a trouxa e recolhendo pratos de bolo que tinha sido deixados em todos os cantos da sala.

- Como conheceu a mãe da Emmanuelle? - indaguei para quebrar o silêncio que tinha se instalado.

- Ãh!? Não foi num hospital! - Ele sorriu engraçado. - Foi no aeroporto... Estávamos no mesmo voo, voltando da França. eu fui como turista e ela foi a um casamento... Acho que da prima ou amiga, não me lembro bem.

- Hum! - A história me interessou. - Conte mais.

- Bem! Ela cismou que eu estava sentado em sua poltrona, chegou a sapatear dizendo que a janela era dela. - Ele riu apanhando os pratinhos. - Eu até cederia o lugar se não tivesse sido tão idiota. e perguntando com educação. mas ela á chegou me dando um safanão com a blusa de frio que levava na mão. Eu fiquei chocado com aquela atitude, por fim, ela entendeu o erro e se sentou na ponta do corredor, não conseguia olhar para mim, quase foi tirada do avião por causa do escandalo. Quando chegamos em Nova York, ela me pediu desculpas, toda acanhada, e para deixar a coisa mais engraçada... Nossas malas eram iguais, com a vontade de um fugir de perto do outro, trocamos as malas... e eu descobri muitas coisas pelas roupas de Leila.

- Hum! - Fiquei ainda mais curiosa. - Parece enredo de comédia romântica! Continue...

- Minha agenda estava na minha mala... ela ligou para vários amigos meus e me achou no hospital... Mas em vez de me ligar e combinar a troca das malas, ela veio ao hospital, conversamos e a troca de malas não foi preciso... ela trouxe as roupas dela, casamos depois de dois meses, se transferiu de hospital.

- Uau! Ela deve ter sido uma mulher incrível! E depois disso você não conseguiu se apaixonar de novo.

- Não é bem me apaixonar... Gostei sim... Mas não avassaladora como... Com a mãe de Manú!

- Compreendo! - dei de ombros e levei os pratos para a lixeira da cozinha, voltando a sala com um balde de água e o esfregão. - Quem diria que uma festinha simples, deixaria tamanha bagunça.

- Esse ano até se comportaram! -Kent sorriu. - E você? Era muito apaixonada por Caleb?

- Não! Apesar de ter nutrido a ilusão de que iríamos casar e ter filhos um dia.

- Chegou a esse ponto? - Kent parou o que estava fazendo e me olhou surpreso.

- A que ponto? Eu não pareço ser uma mulher romântica?

Kent colocou as mãos na cintura me analisando.

- Se eu não tivesse visto esse seu lado com crianças... Diria que não!!

- As vezes as pessoas surpreendem, Kent! - passei a esfregar alguns pontos que estavam com bolo grudado no chão. - Talvez eu seja mais do que a filha mimada e promíscua do diretor do hospital.

- Eu não disse que é promíscua, Dra. Lincoln! - ele veio pro meu lado. - Nunca diria isso de você. E de nenhuma aluna minha!

- Não disse! Mas, imagino que... Deixa pra lá! O pessoal do hospital as vezes espalha muita merda e vai construindo uma imagem em cima do perfil dos outros. Eu só namorei o Caleb naquele hospital, mas já ouvi rumores de que "a filha do diretor dá pra qualquer um", você não?

- Não! - Ele cruzou os braços franzindo o cenho. - Creio que isso não chegou a mim por eu ser amigo de seu pai... Médico chefe da equipe. Mas eu vou me certificar desses boatos.

- Boatos correm hospitais todo o tempo, Kent! O melhor a se fazer é ignorá-los.

- Então o doutor Bonitão? Como é!? - Ele riu. - Gostosão?

- Ambos os títulos lhe pertencem. -ri pra ele e continuei a limpar

- Então o Dr. Adjetivos simpáticos, irá ignorar o que falam da Dra. Gostosona! Melhor assim?

- Dra. Gostosona? - gargalhei. - Tudo bem, Dr. Kent do P quente. - ele me olhou sobre o ombro. - O pessoal é bem criativo nos apelidos carinhosos

- Eu já estou ficando envergonhado com tantos apelidos... Daqui a pouco terei que pedir demissão.

- Sei! - ri de soslaio. - Vou acreditar que a concorrência vai conseguir te eliminar assim!

- Até parece que morrem de amores por mim! Acho que tem muitos aí que queriam minha cabeça para estudos... - Kent deixou a sala e voltou com duas cervejas. - Largue este balde... Sente-se... Vamos aproveitar uma boa cerveja... Cansei. O bom é que crianças só fazem aniversário uma vez por ano!

- Ela se divertiu bastante, Kent!- eu ri e apanhei a cerveja de sua mão, abri-a e ofereci um brinde. - Um brinde aos nossos títulos no hospital e a bagunça no fim da festa da Manu! - eu ri

- Saúde!!! - Batemos as garrafas e demos um gole. - Sabia que nunca se deve fazer um brinde e não tomar logo em seguida?

- E por que não? 

- A tradição diz que você fica um ano sem trepar... - Kent escorregou um pouco no sofá ficando largado, ri da sua fala.

- Será que eu andei fazendo algum brinde sem beber em seguida nos últimos tempos? - me indaguei rindo e dei um gole generoso na minha cerveja.

- Vem!? Vou arrumar uma roupa pra você dormir. - Kent se levantou indo para seu quarto o segui curiosa para conhecer aquela parte.

- A Manu ainda não frequenta a escola?

- Não ela completou 3 anos essa semana. A creche a ajuda muito. - Entramos no seu quarto.

-Olha só, tudo muito bem organizado! Achei que encontraria uma bagunça generalizada, digna de um homem solteiro.

- Eu sou um homem organizado... Ou não seria médico! - Ele me olhou sorrindo.

Abriu a gaveta do meio puxando uma blusa de moletom cinza com o nome da Universidade que frequentou, Harvard. Segurou na mão, abriu a primeira gaveta puxando uma cueca branca novinha com etiqueta de compra e por último uma calça de pijama.

- Vai ficar enorme, mas ficará confortável.

- Vou dispensar a cueca, sim? Ou você acha que eu vim pra sua casa sem calcinha?

- É... Eu achei que gostaria de tomar um banho e trocar... - ele estreitou os olhos. - Está bem! - Ele devolveu a cueca pra gaveta... - Se precisar...

- Pensando por esse lado! - apanhei as três peças que ele me ofereceu. - Obrigada, Dr. Kennedy!

- Pode usar meu banheiro... O da Manú é só o vaso que se usa, ela gosta da minha banheira. - Ele abriu a porta, um banheiro claro e limpo surgiu. - Toalhas na última gaveta do móvel. Não tenha pressa... Demore quanto quiser.

 Adentrei o seu banheiro e tomei um banho bem rápido, tomando o cuidado de não molhar os cabelos. Acabei me tocando debaixo do chuveiro, pensando nas mãos grandes do Dr. Kennedy, que infelizmente jamais tocariam o meu corpo como eu queria ser tocada.

Lavei a minha calcinha e deixei pendurada no varalzinho, me vesti e deixei o banheiro.

- Acho que suas roupas caíram bem. Obrigada, Kent!

 Kent se virou ao ouvir a minha voz, ficando estático, senti que seu corpo se agitou e ele desviou o olhar.

- Manú já esta dormindo... se quiser ir se deitar... Fique a vontade. - Ele coçou a testa e foi para a janela fechar as cortinas.

- Boa noite, Kent! - Sorri e deixei o quarto. Talvez o Dr. Gostosão não fosse tão indiferente afinal.



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