O polidance de Ashley

212 31 4
                                    

O dia seguinte, fora uma corrida contra o tempo. Passamos a manhã buscando dados e vestígios de ligações entre as vítimas, mesmo que todos estivessem convencidos de que não havia uma ligação lógica.
Essa ideia estava fixa na minha cabeça: deve haver alguma ligação. Mesmo que seja a mínima. Não tinha nexo, assassinato em massa, de um gênero específico e não haver nenhuma ligação.

-Isso não faz sentindo...-Watson falou afrouxando a gravata.

-Isso o que?-Perguntei colocando algumas pastas na mesa, para guardar toda aquela papelada.

-Isso que estamos fazendo. Porque insiste nisso? Já nos convencemos que esse assassino é atípico. Não escolhe características e nem estabelece uma "rede de mortes"

-Talvez ele esteja estabelecendo uma "rede de mortes" sem a gente perceber. Algum detalhe pequeno, quase invisível aos nossos olhos...-falei olhando a cidade através da janela.

-Para mim, isso é perca de tempo...

A verdade era que eu comandava tudo. Watson apenas dava a palavra final. Ele não era muito esperto com investigações nem muito bom com deduções e suposições. Era ágil fisicamente, no caso de uma perseguição, o bandido nunca escaparia de suas garras. Mas no final, tudo sobrava para mim.

A porta fora aberta, Jamia e Alex entraram com um velho magrelo e apavorado algemado.

-Quem é ele?-Perguntei.

Watson o olhou com desprezo. E Alex parecia cansado.

-É o cafetão da Ashley.-Jamia respondeu.

-Ora ora...-Eu comecei a ficar animado, esquecendo da preciosa arrumação de papelada. Que era sagrada.

-Ele parece velho, mas corre pra caramba...-Alex completou.

-Espero que você não me ache velho, porque eu também corro muito...-Watson falou em tom de brincadeira.

-Sente-o aí...-Sugeri apontando para a cadeira.-Virei-me para a estante de inquéritos do caso do assassino do vinho tinto.-Watson, pode chamar Oliver para nos ajudar aqui?

-Em quê que Oliver ajudaria?-Jamia perguntou cruzando os braços.

-Você vai ver...

Watson chamou Oliver através de um ramal no telefone e ele logo apareceu.

-Sabe... -Eu iria falar seu nome, mas não o sabia.-Qual seu nome mesmo?-Indaguei instigante.

-Jerônimo...-Ele falou tremendo, parecia que iria morrer ali mesmo.

-Muito bem Jerônimo. Eu tenho a impressão que já o vi em algum lugar. E o senhor tem que saber que, eu sou uma pessoa muito esperta e que consequentemente tenho memória fotográfica muito boa. Sabe lá Deus como meus parceiros te encontraram, mas você correu quando isso aconteceu, e para ter corrido você tem culpa em alguma coisa...-Eu andava de um lado para o outro.

O medo aparente daquele homem, demonstrava que eu estava no controle. Cafetoes são comuns no mundo inteiro. Uns são mais perigosos que outros, mas perigo não era o caso dele. Jerônimo era um tremendo de um cagão, que não podia ver um tira que já saia fugindo com medo.

-Oliver, analise cada rosto daquele dia em que fomos até aquele clube do livro maluco, e compare com o programa de reconhecimento. Continuando Jerônimo, há quanto tempo conhecia Ashley?

-E-eu n-não conheço nenhuma Ashley...-Ele mal conseguia elevar a voz.

-Ah...!-Exclamei-Pelos Deuses Jerônimo, não minta. Nós somos desvendadores de mentiras e verdades. Não adianta mentir; nós sabemos o que você era da Ashley.
Ele ponderou.

-Eu a conhecia desde os dezesseis anos. Ela apareceu na minha boate, procurando emprego.

-E a primeira coisa que você ofereceu para uma menina de dezesseis anos foi ser puta?-Jamia indagou.

-Não senhora...-ele respondeu acuado.-Eu ofereci um emprego de garçonete. Mas ela era horrível, derrubou um monte de bebidas nos clientes... Então, ela disse que não dava certo para aquilo. Mas que ainda queria ganhar dinheiro. Dinheiro fácil e rápido, então eu dei a ideia. Pedi sigilo, afinal ela era menor de idade...

-O que fazia para mantê-las sobre seu domínio?-Perguntei.

-Dívidas. Antes de irem para a cama com qualquer homem, elas passavam por uma repaginada. No caso de Ashley foi bem mais caro do que o habitual. Silicone, cirurgia no nariz, roupas íntimas de marcas renomadas... E assim eu mantinha ela na minha mão. Oferecia casa, comida...

-E o apartamento perto do Green palace?-indaguei.-Foi você que deu?

-Não. Havia um cliente, que gostava muito dela. Ele foi o milésimo. Temos uma política que, quando a garota tem seu milésimo programa ela ganha uma bonificação por isso.

-Ah nossa, vocês assinam carteira também?!-Jamia ironizou.

-Você desenha?-perguntei.

-Não.

-Ashley desenhava?

-Não. Ela era quase um saco de ossos com circulação sanguínea. Tinha a memória de uma mosca e inteligência de um ornitorrinco. Não sabia sequer quanto era nove vezes nove. A unica coisa que sabia fazer era chupar paus o dia todo...

-Se for para usar esse tipo de linguagem aqui melhor ficar calado...-ameacei.

-Frank...-Oliver me chamou.

-Sim?

-Ele estava naquela reunião do chá alucinógeno...

-Olha só!-Falei.

Bingo! Eu quase nunca estava errado.

-O que fazia lá?

-Nós nos reunimos, duas vezes por semana. Somos a S.S.L.N...

-O que diabos é isso?!-Alex perguntou.
Watson apenas observava.

-Sociedade secreta do livro negro. Acreditamos no êxtase através do conhecimento, usando substâncias como porta de transformação e guia ao Grande Prazer do Clímax Sensorial.

-Que viagem...-Alex alegou.

-O objetivo é apenas atingir esse orgasmo engraçado aí?-Perguntei.

-Temos Missões pessoais.

-Qual a sua?

Ele me olhou.

-A missão é intima. O que é intimo deve ser guardado.

-Qual sua relação com Gerard Way? Ele é lider do seu grupinho?-Indaguei.

-Gerard Way é apenas o orador. Nunca vimos o grande líder, apenas houvimos sua voz.

-Onde estava na noite em que a vítima foi encontrada morta?-Jamia perguntou.

-Na boate, de três da tarde às quatro da manhã...-Ele respondia a todas as perguntas sem olhar para nós.

-Se nem você, nem a Ashley sabem desenhar, de quem é o caderno de desenhos encontrado debaixo da cama dela?-Perguntei.

-Eu não sei!-Exclamou derrotado.-Ela levava muitos homens para a casa dela... Empresários e muitos artistas também...

"Eu a conheci num prostibulo de Londres. O nome dela era Judith, mas prefiro chamá-la de vadia Londrina"

Ah Gerard...!

-Você sendo culpado ou não, será preso de qualquer maneira. Afinal, prostituição é crime, não só para quem faz, mas também para quem gerencia.-Declarei.

Ele olhou-me suplicante. Como se fosse a pessoa mais inocente do mundo.

E eu, continuava torcendo. Torcendo para que o verdadeiro culpado, não fosse Gerard Way.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora