O "Vadia Londrina" é roubado [Gerard Way]

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Parte da minha aflição não provinha apenas de meu passado obscuro e um tanto ilegal. Claro que este, me proporcionava o lento e amargo definhar, como se a falsa auréola que eu usava sobre minha cabeça pesasse muito mais que... Não sei, decerto dez caminhões.

E sim, repito e afirmo com toda a sinceridade: eu tinha culpa. Eu a sentia da pior maneira possível, querendo me punir. A sentia por não ser o psicopata, desalmado que aparentei ser. E odiava quando era citado como Serial Killer na televisão – outro aparelho cancerígeno e demoníaco. Por que eu não era tudo aquilo que diziam. Psicólogos iam nos programas, mostrar sua gama de conhecimentos apenas para me tornar um vilão, enquanto eu apenas tentava fazer minha arte humana com primazia, algo que ninguém jamais fez. E me sinto perfeitamente saudável mentalmente.

Eu não sou louco.

O mundo me torna um louco.

Mas acho que a única pessoa no qual eu consigo ter um pouco de humanidade  e compaixão, era Frank e claro, meu falecido gato Lúcifer. E seria ironia se eu dissesse que agora ele está no céu, não é mesmo?

Bem, em relação aos crimes: os tempos eram outros. Minha cabeça era outra. Depois que tudo por Frank se aflorou dentro de mim, como uma rosa desabrochando no alto de uma montanha fria e nebulosa, eu tomei por verdade o fabuloso fato de que eu deveria ser alguém melhor para ele. Ou pelo menos aparentar. E aguentar as pontas até que elas se arrebentassem, Iero descobrisse tudo e bem, eu sequer, com a minha  incrível e incomensurável inteligência, posso imaginar as proporções que isso pode tomar. Se tratando de Frank e sua personalidade explosiva...

Claro que para meu ego, ter um homem como aquele ao meu lado, era inexplicavelmente maravilhoso. Com toda aquela marra e o jeito nervosinho de ser.

Porém, naquele instante, ele não estava num todo, sensual, ou provocante. Ele contorcia a face em dor, ao que agarrava firmemente as barras nos dois lados de seu corpo para se manter em pé. E a cor vermelha em seu rosto, e o suor os lustrando, detonavam o quão difícil estava sendo para ele fazer aquele ato simples. E aquilo me enchia de descontentamento, uma chama de revolta se acendia a cada vez que ele reclamava e a terapeuta pacientemente o amparava, dizendo que era normal. Aliás, tive a sorte de encontrar três fisioterapeutas que falam inglês. Um era das Filipinas, a outra do Canadá( a achei pouco profissional ao que pediu descaradamente meu número de Whatsapp, como se eu tivesse um), e a outra, a adorável Jolie, da Inglaterra, que estava o ajudando a se recuperar. E bem, ela era um doce de meiguice, o que Frank precisava de prontidão. A única coisa de que não necessitávamos era de alguém mais estressado do que ele. Seria um apocalipse.

-Ah, eu não posso mais! – Frank se arrastou miseravelmente para trás, sem ter muita distância da cadeira de rodas e se jogou nela.

-Frank, você só andou dois passos. – Jolie disse, limpando sua testa com um guardanapo que tinha no bolso de seu jaleco, de forma atenciosa. Surpreendentemente, não senti nenhum pouco de ciúme. Mas sei exatamente que Iero estava se sentido esquisito com aquela atenção especial derramada em si.

-Levante-se. – Eu disse sério, levantando daquela cadeira deplorável que estava acabando com as minhas belíssimas e torneadas costas.  Ele me olhou com aquela cara de quem não estava nem um pouco à ouvidos de ordens. – Levanta. E tenta. – Repeti a ordem. E ele quase mordeu o lábio com a minha autoridade ali, não éramos de dar à entender coisas eróticas na frente dos outros. Mas é que... As coisas estavam difíceis com ele internado.

Mas tinha uma novidade. Se ele conseguisse dar alguns passos e acostumar o quadril à ponto de ter equilíbrio o suficiente para ficar de pé, iríamos para casa e poderíamos fazer sua terapia na sala de visitas, que era bem espaçosa e eu não tenho problema nenhum em gastar dinheiro a equipando. Depois, quando ele melhorasse, eu doaria os equipamentos para alguma instituição beneficente que trata de crianças deficientes.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora