Loja de penhores [Frank Iero]

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Processar informações ruins nunca é algo fácil. E fácil é um adjetivo que não se aplica à minha vida. Eu sempre fui saudável, quer dizer, eu sou asmático, mas nunca sofri de nada muito grave. Você, como alguém ativo, escutar de um médico que “pode até  tentar mas não será como antes” é de um impacto desmedido. Sua imaginação aflora sempre para o lado ruim e cria situações onde você nunca consegue nada e nunca deixará de ser dependente das pessoas. Sei que seria muito pior se, no meio de um tiroteio eu tivesse atingido por uma bala no meio das minhas costas, me impedindo de verdade de andar. Sei também, que deveria agradecer ao universo por eu ainda poder me aparar em objetos e minha vida não estagnar de vez.

E Gerard pediu para que eu não visse o lado ruim das coisas. Mas ele fala isso porque não é com ele. Agora, eu sou um homem incompleto. Isso implica diretamente na minha personalidade e no meu trabalho. Para mim, depender de muletas ou bengala, é uma tragédia anunciada. E não importa o apoio que eu tenha de todos ao meu redor, eu nunca iria digerir o assunto completamente.

O que eu era agora? O que eu seria dali em diante para Gerard? Eu, agora, sou um homem limitado. Se eu estiver em perigo, não posso sequer apressar o passo, por simplesmente meu quadril não permiti. E era ridículo isso tudo. Do contrário que eu imaginei, ele não me encarou como uma aberração coxa, ele me acolheu e disse que me ajudaria. Mas eu me sinto constrangido. Já me sentia inferior à ele antes, e agora... Tudo piora dentro de mim.

Eu não mereço ser ajudado por ele.

Pois enquanto ele me proporciona momentos incríveis com sua presença ou até mesmo situações que exijam dinheiro, eu estava o negando uma coisa simples por pura insensatez. Sim, eu tenho consciência de que me assumir gay era uma insensatez, mas eu estava numa espécie de bloqueio que nem me deixava ir para frente e nem para trás.

Eu não sou merecedor de nada que venha de Gerard, pois ele é incrível. Magnífico em todos os quesitos e eu tinha uma grande dívida com ele, apesar de toda raiva que ele me fez passar durante os bons tempos do Green Palace.

Estava ele me guiando, até aquilo que disse ser uma loja de antiguidades e de penhora. Eu lembro que, meu avô me levava sempre para esses estabelecimentos, já que ele colecionava relógios. Mas toda coisa velha e quinquilharia me lembrava, inegavelmente, de Gerard, apesar dessa forte memória da minha infância. Ele mantêm três depósitos cheios de antiguidades. Vai desde móveis coloniais, tapeçaria que diz ele ser peças muito valiosas, caixas de joia de mil oitocentos e lá vai bolinhas e outras coisas mais que ele se negava a me contar, dizendo que eu iria julgá-lo mal.

O que ele tinha completa e absoluta razão.

Nunca iria me acostumar com suas esquisitices.

Ele empurrou a porta, enquanto eu me apoiava em seu ombro. O lugar, ao contrário do que eu esperava, era bem limpo e livre de poeira. Um senhor lia um livro, sentado num banco alto, detrás do balcão, enquanto um garoto mais novo, arrumava uma prateleira de enfeites de estante, que à primeira vista eram um tanto quanto macabros. Ele nos olhou rapidamente, mas depois tornou ao seus afazeres ali. O velhinho nos sorriu, fechando o livro e o pousando o livro no balcão.

- Bom dia. – Gerard disse, fazendo as feições do o senhor se distorcerem em dúvida. Ele não levou em conta, o fato de que talvez, só talvez, o velhinho não falasse inglês.

-Bom dia. – O jovem respondeu pelo o homem do balcão. – Desculpem. É o meu avô, ele não fala inglês. – Se aproximou, limpando as mãos com um pano que puxou de seu bolso. – O que desejam?

Observei que o velhinho deu de ombros ao perceber que seu neto levaria a situação com manejo. Também notei que ele me olhou curioso quando adentrei àquele local apoiado miseravelmente em Gerard.

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