Números complexos PT.01

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Talvez na pressa de ir atrás dos Warren, Gerard deixou seu apartamento destrancado. Girei a maçaneta e quando notei a facilidade que me fora dada para entrar lá, sorri satisfeito.

Andei um pouco, mais respectivamente para o espelho e depois para a mesa de bebidas. Inclinei a garrafa de uísque para encher o copo até sua borda. Em seguida, sentei na sua poltrona, e coloquei o copo sobre a mesa de centro, e tirei um cigarro da caixa em meu bolso para acender e tragar.

Existia uma calma estranha ali. Como se o perigo estivesse a espreitar qualquer um dos meus movimentos.

Incomodado, decidi andar pela casa. Levantando entediado, fui direto para seu quarto. Notei um macacão velho, jeans e com manchas de tinta pendurado por um cabide na maçaneta da pequena porta no alto do seu armário, onde ele provavelmente colocava suas roupas de cama, toalhas e afins.

Eu fiquei imaginando Gerard usando aquilo enquanto pintava.

Aproximei- me e abri a primeira porta. Camisas sociais organizadas por cores e uma mistura de perfumes exalou. Estranhei.

Porque suas roupas estavam embebidas de perfumes desconhecidos?

Olhei instantaneamente para trás, onde jazia sua cômoda ao lado da cama. Vários perfumes. Suspirei, e logo depois fiquei me questionando porque me sentira tão aliviado em saber que ele usava vários perfumes e que o aroma em suas camisas não pertenciam à terceiros.

Andei até sua janela, apenas para ter uma ideia de qual vista da cidade ele tinha quando levantava todos os dias pela manhã. Mas a única coisa que dava para ver, era um parque ao longe, um prédio na frente e na diagonal esquerda, o prédio da falecida dançarina do bar Desire que ele matou.

Ouvi um carro estacionar na rua silenciosa. Aquele mercedes preto, caro e sombrio. Como o carro de um mafioso nos filmes que passavam na televisão sábado à noite. Fechei o armário rapidamente, e andei em passos largos até a sala, joguei- me na poltrona, desajeitado, tomei dois goles do uísque e dei uma tragada longa e profunda. Depois de alguns instantes, vi a maçaneta ser girada, mas não fora aberta. Escutei ele murmurar algo e esmurrou a porta e em seguida a abriu de fato.

Quando me viu sentado daquele jeito na sua poltrona, olhou para mim meio confuso. Colocou cuidadosamente a caixa de contenção no chão e escutei o miado sofrido de Lúcifer de dentro da caixa.

-Olá abóbora...-Falei tragando o cigarro e sorrindo sínico.

Naquele instante eu sabia a razão de Gerard ser tão sarcástico e sínico. Era uma sensação gostosa de poder e domínio.

Ele não falou nada. Largou as chaves na mesa perto da porta e a fechou com o pé e uma batida violenta ecoou pela sala.

-Dia difícil? -Sorri.

-O que faz aqui?-Ele pareceu aborrecido.

-Um passarinho verde me contou que você foi visitar Bonie & Cloudy na delegacia... Foi isso mesmo?

Ele revirou os olhos. Estava visivelmente cansado e pilhado com alguma coisa - que provavelmente era a prisão dos vizinhos do segundo andar. Andou até a outra mesinha onde as bebidas ficavam, e no gargalo mesmo bebeu uma boa dose de uísque.

-Levei Lúcifer para o veterinário.

-Você acha que eu sou idiota, não é?-Sentei corretamente na poltrona. Inclinei para trás e pousei minhas costas no estofado de couro marrom e abri as pernas.

Ele olhou aquilo com outros olhos. Mordeu disfarçadamente seu lábio inferior e bebeu mais um pouco, passando a mão na nuca logo após. Seu rosto ficou rosado, quase avermelhado. Ele respirou fundo e começou a se mexer impaciente, algo atípico para alguém como ele.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora