Fogo-fátuo

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Não importava o tamanho daquele corredor sem vida ou até mesmo da maca. O que importava, era que as batidas de seu coração reverberavam como um gongo anunciando a chegada do juízo final.

O caos parecia gostar de seu cheiro, afinal, estava sempre por perto para arrancar o resquício de paz que ainda lhe cabia no peito.

O medo era quase tão gélido quanto a grade de segurança que continha o corpo de Bradley. Frank estava mais preocupado com a palidez de Gerard do que com os diversos tipos de dor que sentia nos extremos de seu corpo.

Mas esse é o preço do amor e do desejo.

Este é o preço de estar ao lado de Gerard Way.

O chofer agonizava na maca. As rodinhas envelhecidas, faziam um barulho que lembrava às rodinhas de carro de supermercado. Um tiro no peito. Sangue decorando a camisa branca que usava com o blazer e a boina de motorista. As luvas igualmente claras, estavam manchadas do piche que colocaram na rua da delegacia havia uma semana. E claro, o vermelho tomando conta de tudo que era puro e claro.

Mas esse era o preço do amor e do desejo.

Este é o preço de estar com Gerard Way; o perigo de terno e gravata; o silêncio ensurdecedor; a divindade com um aroma amadeirado de maldade.

Os enfermeiros levaram Brad para uma sala, que pela largura das portas, mostrava ser um lugar onde as pessoas à beira da morte eram levadas.

Frank viu Gerard passar as mãos no cabelo, meio exasperado. Sabia que Way estava nervoso e inconformado. E além do mais, ele teve que carregar Bradley até o carro de um desconhecido que se prontificou a levá-los até o hospital mais próximo, e em decorrência disso, sua tão amada camisa social estava manchada de sangue.

Way se afastou sem falar nada. Sentou-se no banco de espera, analisando as próprias mãos, como se tivesse merda nelas, e não o sangue de alguém.

Frank respirou fundo. “Finalmente algo o abalou”. Caminhou até onde o outro estava, e sentou-se ao seu lado, largando a bengala reclinada no outro assento e enfiou as mãos nos bolsos. Porém, quando percebeu que Way não se mexeu um centímetro sequer, começou a ficar preocupado, mas se manteve calado.

Não entendeu muito bem de início, mas quando se deu conta de que o “sofrimento” de Gerard estava causando uma dor esquisita dentro de si, a frase saiu rapidamente:

- Você teve medo de morrer? – Apenas saiu, enquanto seus cotovelos estava apoiados nas coxas e sua coluna inclinada para frente. Seu olhar permaneceu fixo no piso reluzente, mas sentiu Gerard o fitar.

- Você não sentiu? – Questionou. – Todas aquelas balas... Não foram por mero acaso no nosso carro. Poderia... – Ele ergueu o seu corpo e se sentou de forma relaxada na cadeira. Iero também o fez, e o acompanhou com o olhar. – Ter sido eu... Ou você. – Olhou diretamente para Frank.

- Entende que o perigo é real? Que... Podemos estar aqui hoje e agora, e de repente... Tudo acaba?! – Num rompante, Frank agarrou a mão esquerda de Gerard, e pressionou-a contra o seu peito. – Entende que meu coração pode estar batendo agora... E... Daqui à uma hora, não mais?! – Iero implorou com o olhar, fazendo Way engolir aquilo à seco.

- Eu entendo perfeitamente, Frank. Se você tivesse sido atingido... Ou morrido... Eu acho que daria um jeito de morrer igualmente. Arrastaria o mundo todo comigo, se possível, só para dá-lo para você onde quer que estivesse...

- Se você me ama, então me escuta. Se eu sou impulsivo, não é por birra ou nenhuma dessas merdas que você pensa. Eu sou impulsivo, pois se eu não fizer algo No Agora, eu posso não ter O Amanhã. – Falou, pressionando ainda mais forte aquela mão pálida e ensanguentada. – Se eu digo que temos que nos preocupar, é porque eu ando lado à lado com o perigo. E sei quando ele está planejando se voltar contra mim. Sei também que você tem um senso de proteção imenso por mim, mas para ter paz, às vezes preciso me arriscar. Sempre tem de haver esforço para se conquistar algo.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora